o lago dos segredos.

3-onde está Alice?

naquela noite fria João e Lila se encontravam sentados no meio da sala,o luar brilhava lá fora e o silêncio pairava dentro de casa,havia um candeeiro encima da mesa iluminando o lugar e projetando algumas sombras na parede.estava silêncioso demais pra ambos.

Lila olhava pra ele enquanto descansava a cabeça em seu colo.estava distante,seu corpo estava ali mas seu pensamento parecia estar em qualquer outro lugar.ultimamente era sempre assim que ele ficava.

-pensando em alguma coisa especial?-perguntou ela.

-não...na verdade nem estou a pensar em nada.acho que a minha mente esteve bloqueada por alguns minutos.

-continuas interessado na história do lago?

-já não...o lago que fique onde está.

Lila sabia que ele mentia.além de ser péssimo mentiroso era teimoso demais pra abrir mão da sua curiosidade.

procurou por várias formas conecta-lo e prepará-lo pra ouvir o que ela guardava entalado em sua garganta nos últimos dias mas parecia não haver ponte possível entre eles naquela noite."talvez mais tarde" pensou ela

-onde está a Alice?-perguntou o esposo notando a falta da pequena pelo silêncio absoluto que se estendia pela casa.

-dormindo...-respondeu lila para o seu alívio.

ela levantou-se e marcou passos em direção ao quarto da pequena Alice,podia ouvir-se na perfeição o som que nascia do contato entre os seus pés finos e o firme chão de madeira. levava um pequeno candeeiro balançando na mão direita.

espreitou pela porta entreaberta e seus olhos focaram logo com a cama vazia.o susto em seu olhar foi imediato.

-onde essa miúda se meteu?! -exclamou tão alto que João ouvira.

-tu disseste que ela estava aqui!

-e estava.eu juro que estava.-defendeu-se a mulher.

caminhavam por todos os compartimentos da casa na esperança de encontrá-la.as vezes cansada adormecia em qualquer canto esperando que o pai lhe carregasse ao colo até a sua cama.não parecia ser o caso naquele momento.depois de ter a casa virada de cabeça pra baixo não havia nenhum único sinal da menina.

andaram de porta à porta e ela não estava em nenhum lugar.o desespero era visível no rosto do casal e de muitos outros habitantes da vila.Lila não resistiu e rendeu-se as lágrimas.

uma mulher amiga da família vinha caminhando em passos rápidos com o rosto molhado de lágrimas.parecia portadora de péssimas notícias.

-a minha filha também está desaparecida!!-gritava desesperadamente.

o pânico se instalara por completo em todos os cantos da pequena Vila.

seus amigos junto a homens e mulheres solidários com a causa entravam pelo mato com candeeiros e lanternas nas mãos gritando alto pelos nomes das meninas.

-como é que foi isso?-perguntou o velho Francisco sem obter nenhuma resposta por parte de Lila que quase desmaiava entre choros soluços.

-vai ficar tudo bem.as meninas não devem estar distante daqui.-abraçou-a Juliana tentado lhe confortar.

-se acontecer alguma...coisa com a minha menina eu morro.

João já nem ali estava,andava pela Vila como um louco procurando por sua filha até nos lugares mais improváveis.gritava o nome das meninas por todos os cantos.

entrou pela mata fria com uma lanterna e uma vara comprida.sentia na pele o contacto com o capim húmido que o feria em alguns momentos.estava a cada passo mais distante da Vila.

sua voz ecoava pela mata junto ao grito dos vários animais noturnos.se tornava perigoso,mas o desespero de um pai fazia milagres naquele momento.

a luz da lanterna piscava dando os seus últimos suspiros,tinha agora so a luz do enorme e branco luar que presenciava seu sofrimento naquele momento como a única testemunha.

sabia que era noite e ninguém,absolutamente ninguém se atreveria a procurar por elas nos arredores do lago.quebrou mais um galho de uma árvore e ia se preparando psicologicamente pra qualquer ameaça possível.

seus passos esmagavam o capim e os pequenos pauzinhos no chão,procurava por algum trilho,algum sinal de que Alice e a amiga tivessem passado por ali em algum momento.

gritava desesperado como um louco,se calhar naquele momento já havia mesmo perdido a razão a ponto de andar pelo mato sozinho.tinha plena noção dos perigos reais ou imaginários que rodeavam aquela vila.

a voz era cada vez menos ativa.a garganta seca parecia não mais aguentar por muito mais tempo.

chegava ao estranho lago e reparava em todos os lados.a agua estava escura e silenciosa mas parecia ja ter estado agitada.tinha o coração aos pulos,mas seus medos não eram prioridade naquele momento embora o ambiente fosse realmente misterioso e assustador.

na margem do lago mesmo ao lado de uma enorme pedra havia um rasto que parecia ser deixado por um humano.tinha ainda um pedaço de um tecido que era novo demais pra aparecer naquele lugar onde ninguém se atrevia a pôr os pés.

-ela esteve aqui...ela esteve aqui...-pensava em tom alto quase perdendo a sua respiração por completo.

tudo indicava que a pequena Alice e sua amiga haviam sido de alguma forma seduzidas a entrar no perigoso lago,ou talvez arrastadas por alguma força animal ou sobrenatural como se dizia na Vila.João estava ali no momento e tinha uma decisão a tomar.