Capítulo 02

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Fernando

Acordei com o despertador tocando freneticamente e como sempre Londres estava fria, levantei sem vontade e fui para o banheiro tomar meu banho, enquanto a água caia eu ficava pensando na vida, lembrando o pouco que vivi no Brasil.
Construí minha vida aqui, minha família se mudou quando eu era criança, e vivemos aqui até os dias de hoje, lembro que aos doze anos voltamos para passar as férias, mas depois disso nunca mais voltei, a última vez que meus pais foram juntos eu tinha quinze anos e não quis ir com eles.
Após o banho demorado me enxuguei e me vesti.
Ao sair do quarto, encontrei minha mãe sentada no sofá da sala tricotando um sapatinho de bebê, minha mãe está grávida de sete meses do meu irmãozinho.
E ao lado dela meu pai digitava algo no notebook, provavelmente assuntos relacionados ao trabalho.

- Bom dia.

- Bom dia filho, e aí ansioso para nossa volta ao Brasil? - Meu pai perguntou

- Sinceramente? Nenhum pouco, e na verdade eu poderia ficar aqui, eu ja sou maior de idade.

- Mas ainda não trabalha e não tem como se sustentar, além disso eu prefiro que você fique conosco até ter sua própria casa, e que seja perto de mim - Minha mãe respondeu

- Eu já tenho uma casa, e eu poderia muito bem vende-la para comprar uma aqui em Londres, eu não vejo sentido em voltar ao Brasil sendo que eu passei praticamente a vida toda aqui.

- Já conversamos sobre isso Fernando - Meu pai disse sério.

- Sei que vocês me amam, e eu os amo também, vocês são meus pais, mas eu acho que está na hora de eu sair do ninho.

- Os filhos só saem do ninho quando a mãe vê que eles estão preparados, e você ainda não está, é só um menino - Minha mãe falou chorosa.

- Se a Familia Higers não fosse se mudar para lá também, eu ficaria na casa deles.

- Veja pelo lado bom nisso, seus melhores amigos também irão morar no mesmo país que você e graças a nós que indicamos casas e locais próximos á nossa casa, vocês estarão próximos e poderão continuar tendo contato, e se adaptarem juntos. - Meu pai respondeu.

- Pelo menos isso. Bom, já que eu não tenho escolha, fico feliz em ter meus amigos por perto para não me sentir um completo estranho naquele lugar.

- Mas você também tem seus antigos amigos de lá, eu tenho certeza que a Laís vai amar rever você - Minha mãe disse sorridente

- Mãe eu nem me lembro dela, a senhora sabe que eu mal me lembro de qualquer pessoa naquele país.

- Você e ela eram grudados, eu converso sempre com a Tereza e ela me mandou algumas fotos de vocês quando eram crianças, eram tão lindos juntos. - Decidi ignorar esse comentário, senão ela ja estaria nos casando e imaginando os nomes dos netos.

- Pai, está tudo certo para minha chegada lá amanhã?

- Está sim, a casa já foi limpa e segundo informações, seu carro ja está na empresa, eu avisei Olivia que você chegará e ela os encontrará no aeroporto.

- Filho, você não acha melhor esperar por nós? são apenas dois dias a mais. - Minha mãe entrou na conversa preocupada.

- Mãe, eu vou ficar bem, além disso Hugo e Mathew estarão comigo, nossa casa é em um condomínio fechado e não tem perigo, quero me adaptar, e não ficar de cara emburrada no primeiro dia da volta de vocês.

- Esse é meu medo, vocês são muito jovens e vivem em festas, não queria você envolvido em confusão,  por que não pode esperar?

- Mãe faz exatamente dez anos que saimos do Brasil e viemos para cá, e sete anos que eu não sei o que é viver naquele lugar, naquela casa, em um "país tropical", eu só quero ir na frente, me acostumar com o ambiente novamente, e além do mais eu e os moleques vamos estar todos juntos, você sabe disso.

- Eu ja falei com a mãe deles, ela já está lá cuidando da mãe dela, vocês poderiam ficar na casa deles.

- Eu sei que ela está lá mãe, mas o Hugo  me disse que a mãe dele está no hospital com a avó deles, do que adiantaria? ficaríamos sozinhos de uma forma ou de outra, eles estão mais acostumados com o lugar que eu, pois iam visitar a avó muitas vezes, eu só quero estar na minha casa, onde eu possa relaxar, então por favor fica calma, são apenas dois dias antes de vocês dois.

- Ele está certo Sara, nosso filho não é mais criança, sabe se cuidar, e os três estarão seguros, você sabe disso - Meu pai interviu

- Tudo bem.

- Vai ficar tudo bem mãe, amo vocês. Preciso ir agora.

Sai de casa e chamei o elevador, desci até o G1 e entrei em meu carro, ou melhor, o carro da empresa, ja que o meu foi vendido pois meu pai se recusou a envia-lo para o Brasil devido ao alto custo, e a documentação desnecessária, eu nunca fui muito apegado a objetos então não me importei tanto, e sem eu pedir ele comprou outro imediatamente e mandou que entregasse na empresa dele lá, as vezes acho que ele exagera, eu não preciso de tudo isso, mas em todos esses dezenove anos eu aprendi que meu pai não me escuta, e a decisão dele é sempre difícil de mudar, então aprendi a aceitar, amo meus pais, e sou grato por tudo, me orgulho de como lutaram para ter tudo o que temos hoje, e pretendo me esforçar o bastante para dar orgulho a eles.
Dirigi até o colégio para o último dia de curso e encontrei meus amigos parados em frente ao portão rindo de alguma besteira que Hugo mostrava no celular.
Estacionei, desci e travei o carro, me aproximei deles e os cumprimentei com um toque de mãos

- E aí seus veados, prontos para uma nova vida? - Questionei

- E aí, estamos prontos, sempre quis morar no Brasil, já estou cansado de tanto frio - Hugo respondeu.

Não sei se sorte ou destino que uniu os irmãos Hugo, Mathew e eu, lembro que aos nove anos quando cheguei a Londres fui matriculado na escola e estava muito desanimado, quando fui obrigado a me apresentar diante da sala, e dizer que vim do Brasil, lembro de ver os dois se olharem, no intervalo daquele primeiro dia eles sentaram ao meu lado e se apresentaram, e mesmo sendo londrinos, a mãe era Brasileira e eles me contaram dos avós, os pais de sua mãe que ainda moravam por lá, e que sempre iam visita-los, nossa amizade começou instantaneamente.

- Nisso eu tenho que concordar, vou gostar do calor - respondi.

- Eu estou louco para ver minha casa, ir a praia e ver a minha avó - Mathew respondeu.

- Eu só quero ver a mãe, nosso pai é fera, mas é estranho não ter ela por perto, ainda mais por um mês inteiro - Hugo confessou.

- Eu imagino, as vezes eu queria que minha mãe ficasse um pouco distante, mas ao mesmo tempo acho que ficaria perdido sem ela. - Confessei.

Fomos pra sala, e assistimos as aulas, depois do turno eu e os rapazes saímos do campus, deixei eles em casa e fui para a minha.

- Filho, chegou cedo, como foi o último dia?

- Oi mãe, fomos dispensados mais cedo, não havia trânsito então consegui chegar cedo, e foi como qualquer outro dia, sem muitas novidades.

- Falei com a mãe da Laís hoje.

- Entendi mãe, legal.

- Ela está super feliz com a nossa volta, e acredita que ela também está grávida de sete meses? de um menino também, parece que vai se chamar Joaquin.

- Ah legal, mãe vou arrumar minhas coisas, e depois descansar um pouco para a viagem mais tarde

- Tá bom.

Fui para o escritório do meu pai, e assinei o que ele pediu, depois voltei para meu quarto e comecei arrumar as últimas coisas, quando comecei a pensar na menina que minha mãe tanto fala, me lembro de Lais, éramos amigos, e eu achava que nutria uma paixonite por ela, até saber que ela também gostava de mim dessa forma, mas eu vim para Londres e nunca mais tive qualquer contato com ela, lembro até hoje de ver ela pela última vez chorando ao se despedir de mim, e aos meus dose anos, quando fui pela última vez ao Brasil, a família dela estava viajando e eu não a vi, e na verdade não queria a encontrar tão cedo.
Não pensem mal de mim, mas estou tão cheio de tanto falatório envolvendo Laís e eu, o quanto éramos grudados, o quanto eramos amigos, o quanto poderíamos formar um lindo casal, e até o "Os filhos de vocês seriam lindos" que eu tenho um certo medo, de não ser bom o suficiente, e se a mãe dela contava as mesmas coisas que a minha mãe me dizia? e se ela acreditava que eu era um alguém perfeito para o futuro dela? eu não sou.
Por isso, espero que o destino não nos olhe.

Um Amor De Infância (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora