Capítulo 3

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No momento que eu fechei os olhos e me direcionava ao frio abraço da morte ouvi uma voz:

- Não desculpo não!

Era Ela, que segurou meu braço e evitou que eu morresse. Com todas as forças que tinha Ela tentou me levantar:

- Eu não vou deixar você morrer, não assim, eu te amo e não vou deixar que vá.

Eu entrei em choros e com reuni os restos de forças que tinha para me levantar e ficamos ali em um parapeito olhando um pro outro com os olhos cheios d'água, até que juntos tivemos o mesmo impulso e um beijo mais que verdadeiro marcou nosso reencontro.

Entramos pela janela e eu tomei um banho e deitei na cama com ela ficamos abraçados a noite inteira, dormindo de conchinha na melhor noite da minha vida. Estava tudo perfeito, mas quando acordei havia cerca de oito soldados me esperando na sala, quando me viram sair do quarto correram e me espancaram, a mãe dela me denunciou, eu fui espancado ali na frente do amor da minha vida, até o momento que desmaiei. Acordei ouvindo os gritos das pessoas, estava no lugar onde todos os "revolucionários" escutam falar e morrem de pensar, onde aqueles que são contra o regime são torturados e mortos e eu sou um desse.

A recepção que os guardas me deram foi alvejar minhas pernas com tiros de balas de borracha até eu não senti-las, o segundo dia foi me ligarem a uma bateria de caminhão, o terceiro era tentar me afogar, o quarto era me fazer engolir óleo de motor, o quinto era o mais leve só me espancar até eu desmaiar, o sexto era colocar agulhas entre minhas unhas, o sétimo era fazer as costuras dos ferimentos dos dias anteriores sem anestesia, essa era minha rotina semanal.

Mas mesmo assim eu não desistia, continuava pensando o quanto aquele regime não prestava. Pensava o quanto a sociedade se enganou em pedir a volta. Pensava na minha família, se estavam bem. E o que mais me dava força era pensar nela, naquela noite perfeita e na esperança de que poderia acontecer de novo.

Eu consegui suportar os três primeiros meses, mas no 4º mês eu tive uma parada cardíaca, conseguiram me reanimar, mas não pararam com a tortura e aconteceu de novo.

No dia 22 de fevereiro de 2017, numa terça feira as 22 horas e 29 minutos eu morri devido a uma parada cardíaca, após uma seção de tortura. 

Meu último pensamento foi o rosto dela. Eu fui pro céu, mas não quis ficar lá era bom até demais, eu queria ajudar os outros, então virei um anjo da guarda.

Não existe um anjo para cada pessoa, existe um anjo para varias pessoas que sou eu, divido entre vocês. Sempre que parece estar tudo perdido sou eu que mostra aquela música, que tira a faca da sua mão, que lhe reconforta nos sonhos, que faz você pagar um miquinho para os outros rirem e você rir de si mesmo.

Mesmo que a situação seja ruim, mesmo que pareça tudo perdido, mesmo que pense que não é importante no mundo, mesmo assim eu vou estar lá na forma de uma música, de um livro, de uma foto, de um amigo, de um irmão, de um pai, de uma mãe, de um tio, de uma tia, então não desista pois tudo tem um motivo e tempo certo para acontecer.

Fim.

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⏰ Última atualização: Mar 13, 2016 ⏰

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