Do advento ao mundo cor-de-rosa com gotas de essência de baunilha

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 Terça-feira, 01 de janeiro de 2013

Do advento ao mundo cor-de-rosa com gotas de essência de baunilha  

Querido Diário. Hoje vim lhe contar o que está acontecendo comigo. Por mais que eu tenha alguns amigos para quem eu possa compartilhar o que está passando em minha vida, já não quero mais irritá-los com minha falta de bom senso e indecisão. De fato, eles já perderam o respeito por mim, pois nunca segui os conselhos que eles me deram e, também, já disse coisas a eles um dia e, no outro, desfiz tudo. Então, como é a primeira vez que me dirijo à você, logo tenho que me apresentar formalmente e explicar meu motivo de estar aqui.

Meu nome é Touch - é óbvio que esse não é meu nome, mas como você é um diário online, não sou idiota de ficar colocando meu nome pra todo mundo ver, principalmente por que, se alguém que eu conheça ler, vai ligar alguns pontos e descobrir quem sou eu. Mas eu não sou ninguém importante, graças a Deus. Não sou uma pessoa pública ou que aparece constantemente na televisão. Eu sou um escritor iniciante e publicitário por formação. E, entre outras coisas, sou gay. Ah, sei que já tá se assustando por saber disso. Talvez você seja um diário pré-conceituoso. Mesmo que seja, imagino que seja sua função fundamental me escutar - então, lero-lero pra você. Tenho-o ao meu favor. Mas imagino que você seja um bom amigo, e, também, você não está aqui para falar suas opiniões. Por isso que te escolhi, pois você é minha saída, uma 'base sólida' em que vou poder contar tudo o que quero. Ah, sim, marque essa palavra, "Base Sólida", pois vou te falar ainda muito deste termo, que erroneamente já deixei escapar muitas vezes para meus namorados.  Uma coisa que estou aprendendo (assim mesmo, no gerundismo, pois todo dia aprendo algo novo), é que não podemos fazer as outras pessoas de "base sólida para nossas vidas". Minha irmã já me falou muitas vezes isso, e, puxa, eu devia ouvi-la mais vezes... Me estrepei geral quando, há dois anos, comecei a namorar pela primeira vez um cara, e, coitado dele, teve que aturar minha insegurança, minha falta de experiência, e, até mesmo, a completa perda de minha própria identidade provocada por mim mesmo... Ele também não tinha namorado por tanto tempo uma pessoa, então, ambos fomos o primeiro namorado do outro. Uma gracinha... Mas fomos pegos de assalto pelas problemáticas que um primeiro amor traz. Queria compartilhar tudinho o que aconteceu nos últimos três anos comigo, quando, enfim, decidi assumir a mim mesmo quem eu sou. Eu tinha receio de ser gay, não queria isso para mim. Eu tinha medo de muitas coisas. Eu era jovem, estava no meu último ano de faculdade, 20 anos, nunca tinha namorado ou - acredite se quiser - transado. Sim, caçoe bem de mim, pode rir à vontade. Sou um cara lento e tardio. Enquanto colegas na escola secundária já estavam fazendo suas orgias adolescentes, eu estava em casa escrevendo minhas histórias, imerso em meu mundo de fantasia. Mas, sabe que hoje não me arrependo disso? Primeiro, porque me sinto cada vez mais vivo e feliz por estar descobrindo coisas novas, na casa dos 20 anos, ou seja, a vida não ficou chata para mim. Segundo, porque aqueles colegas das orgias hoje estão sustentando seus filhos provenientes de uma gravidez adolescente ~ risos diabólicos eternos! Fico feliz por ainda não estar casado, nem com filhos, ou uma família para sustentar. Mas eu estava bem triste quando, aos meus 20 anos, comecei a ter sérias impressões de que as suspeitas de que eu era gay, não eram mais suspeitas... Eu via site porno gay, adora ver homens gostosos nus, tinha quedinhas pelos meus colegas gays, me masturbava pensando em homens, e, até mesmo, tive uma paixão platônica pelo meu jovem e inteligente chefe do estágio acadêmico (que por acaso era gay). Pode-se dizer que nesse período eu conversava muito com Deus (ainda converso hoje, com menos frequencia, devo admitir), contudo, eu clamava por uma resposta à Ele. Eu perguntava em todas as minhas orações silenciosas o porquê. Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê???? Por que eu?? Minha família era séria e todos os assuntos de nossa vida deviam ser tratados com muita transparência em casa. Boa parte da minha família por parte de mãe é evangélica e, por parte de pai, quase que totalmente católica, porém, muito tradicionalistas e machistas. Em que raio de família fui me meter! Como eu poderia me expressar e deixar meu ponto de vista claro a todos, sem que o efeito disso fosse o mesmo de uma bomba nuclear? Por muito tempo eu decidi ficar calado e escondido, mesmo depois de ter 'me assumido'. Isso só terminou dois anos depois, ainda este ano, quando terminei com meu primeiro namorado e não consegui mais esconder meu sofrimento na frente da minha mãe. Aff, mas já estou adiantando demais a história. Onde paramos? Ah, sim! Finalmente decidi que eu era gay! Isso no final do ano, quase entregando meu TCC e me despedindo da universidade. Descobri a verdade quando usei um amigo de estágio - calouro da universidade - como cobaia. Sabia-se que ele era gay, ele não podia esconder isso, pelo menos não de mim. Todo gay sabe quando um outro cara é gay - vim a descobrir isso com o tempo - o tal do 'gaydar'. Enfim, puxei conversa pela internet, blá, blá, blá, ti, ti, ti, ti, risadas, uma semana depois estava dentro do carro dele, no estacionamento escuro da universidade, às 18h30, dando meu primeiro verdadeiro beijo gay, por desejo, por necessidade, por que eu clamava por aquilo. Foi lindo e triunfal. Era tão eu. Por mais que inúmeras condições fossem contrárias aquilo, eu finalmente tinha encontrado o meu lugar. E, sim, ele tinha um cheiro maravilhoso de baunilha...  

PS: Ainda tenho muito o que relatar. Mas acho que para uma primeira introdução, devo já ter lhe dado muito prazer inicial, meu querido diário. Depois eu volto pra continuar escrevendo.

Touching Wild FlowersOnde histórias criam vida. Descubra agora