Welcome to my life

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Querido Diário,

Olá de novo.

Antes que eu comece a falar do meu primeiro namoro gay, preciso contar outras coisas que fiz. Devo também revelar a você que o cobaia da universidade, na verdade, não foi o primeiro homem que beijei - contudo, deixei bem claro que foi quem beijei com vontade e desejo.

O primeiro cara que eu beijei foi meu vizinho, que morava umas cinco casas à direita da minha. Eu sabia que ele tinha todo o jeito. Ele era mais jovem do que eu, porém, com certeza tivera mais experiências de vida. O nome dele era Adônis - sim, o Deus da Beleza na mitologia grega. Adônis era loiro, magro, cabelo liso, fez escotismo e não era mais alto que eu. Tinha um jeito despojado e de atitude. Até hoje admiro esse rapaz, mas não nego que sempre tive um certo preconceito quanto aos costumes dele - razão pela qual, talvez, nunca tivéssemos namorado. Adônis bebia e fumava; era festeiro; tinha amigos um tanto estranhos; e, vez e outra, admito que já o vi se metendo em escândalos na vizinhança.

É provável que eu admire este rapaz justamente por esta personalidade tão contrária à minha. Acho que eu me espelhava nele. Ouvi dizer que, às vezes, fazemos amizades com pessoas que tem qualidades que gostaríamos de ter, e, portanto, ficamos próximos delas para suprir isto. Possivelmente, é uma razão pela qual sempre mantivemos contato e, de uma certa maneira, respeito mútuo.

Mas, voltando à cena em particular  que quero lhe confidenciar, certa vez Adônis pediu para que eu fosse à casa dele para ajudá-lo em um dever de casa. Na época ainda éramos estudantes do ensino médio. Eu confesso que fui mais pela curiosidade que tinha por ele, do que ter que ajudá-lo em qualquer dever de casa. Eu sabia quais eram as intenções realmente safadinhas dele. Minhas pernas tremeram, a barriga ficou fria, meu dentes se apertaram, mas, mesmo assim, fui lá.

Adônis morava em uma pequena casa de poucos cômodos. Ele estava home alone e mandou-me sentar à mesa da sala. O computador estava ligado e, depois de uma pequena conversa descontraída, ele me mostrou videos de sexo gay. Eu acho graça em relembrar isso, mas naquele instante fiquei ao mesmo tempo excitado, amedrontado e nervoso. Achei-me o maior pecador da face da terra. Imaginei-me com o mundo fechando e obscurecendo e apenas restando o Adônis e o Demônio, com suas demoniazinhas sexy me observando com saliência.

"Você gosta disso?" ele perguntou.

"Gosto" respondi.

"Quer experimentar?"

Só sei que quando vi já estava com minha boca grudada na dele e meus dedos apertavam seu bumbum.

"Você quer dar ou comer?"

Silêncio constrangedor. Que merda que ele tava falando? Nada aconteceu a partir daí, pois fui tomado por um sentimento de culpa, nojo e pela séria impressão de que aquele mundo não me pertencia. Pedi desculpas e quase que saí correndo pra fora da casa dele. Antes disso, concordamos em não comentarmos nada disso com ninguém - como se eu realmente fosse chegar em casa e contar a primeira novidade do dia pro meu pai. Caí fora de lá e, na minha casa, fiquei aliviado e feliz por, finalmente, constar que eu não podia ser gay.

Ledo engano.

Algum tempo depois fiquei desejando e correndo atrás dele para tentar recomeçar de onde paramos. E consegui nada além que beijos. Por infelizes acasos e contratempos, eu e ele nunca passamos do beijo. Hoje penso que foi melhor assim. Atualmente sinto um pouco de pena dele... Acho que está magro demais e bebendo demais... Isso me preocupa. Espero que nada aconteça de mal com ele.

Depois de quatro ou cinco anos depois desse episódio adonístico, é quando considero que minha vida começou de fato. Creio que a vida de alguém só começa mesmo na faculdade, onde conhecemos uma vastidão de pessoas mais problemáticas que nós e, assim, nos sentimos em casa. Tudo mudou e melhorou, também, quando eu me assumi e um mundo novo se abriu. Antes eu me retraía, dissimulava, fingia, fazia uma força psicológica descomunal, para me sentir aceito e ser homem o suficiente para que as mulheres olhassem para mim. Sim, eu tinha medo que elas percebessem algo de errado. Havia uma voz feminina na minha cabeça que dizia o quanto eu era um incapaz, uma aberração, alguém descartável e, acima de tudo, que não era um homem. Essa voz me perseguiu até o ponto de eu sentir medo das mulheres. Graças a Deus isso acabou. Hoje tenho grandes amigas que me aceitam e me amam como eu sou!

Uma vez totalmente seguro de mim, esses problemas de aceitação não me incomodaram mais. Porém, nem tudo são rosas. Com este meu reposicionamento de mercado e público-alvo, vieram ameaças e problemáticas ao meu planejamento estratégico. (Ok, eu falei segundo meus termos técnicos de publicitário, mas nessa minha nova fase da vida eu estava recém formado e empolgado com o trabalho).

Precisava, agora, tomar cuidado com coisas do tipo: esconder isso da família; esconder isso dos amigos antigos; esconder da população... enfim, pode-se dizer que eu estava criando os primeiros capítulos do Manual Básico de Como um Gay Discreto deve se Esconder da Sociedade. Se antes eu tive esforços psicológicos para me aceitar, dessa vez eu precisava de esforços psicológicos e estratosféricos de como me fazer passar despercebido por todos.

Apesar dessa nova forma de viver ter parecido um poço de miserabilidade, era apenas uma forma de me resguardar. Afinal, a sociedade ainda sim é machista e preconceituosa... por mais que a gente observe pequenas mudanças a favor de nós gays. Na época eu me resguardei, pois tudo ainda era muito novo para mim e não possuía as armas certas para me defender. Ainda hoje acho que sou uma maria mole para levantar a bandeira dos gay, e não me orgulho nada disso. Mas sempre me esforço o possível para rebater os estereótipos feitos aos homossexuais.

Apesar de toda a problemática envolvida nesse novo mundo que me aparecia, nunca pensei em desistir, principalmente porque, depois que comecei meus namoros, vi que valia a pena ter que aguentá-las.

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⏰ Última atualização: Aug 13, 2013 ⏰

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