Pov Camila
Eu não gostava disso. Odiava ter os braços dela ao meu redor por um tempo determinado para acabar. Inspirava profundamente várias vezes, algumas de forma discreta, já outras enterrando meu rosto naquele pescoço alvo e respirando forte. Eu não queria larga-la, eu não queria deixa-la ir. Mas eu devia, eu era obrigada.
-Não é o fim do mundo, sabe?
A voz dela, tão melodiosamente rouca, configurada para causar arrepios em meu corpo mesmo que falasse a coisa mais estúpida ou boba do mundo. Eu a apertei ainda mais forte contra mim, como se meus finos braços conseguissem se transformar em uma poderosa prisão. Ali ela ficaria para sempre, como deveria ser.
-Mila, o voo já foi anunciado – escutava a voz de Dinah ao fundo – Largue logo a Lauren, sua coala!
-Não quero! – respondi emburrada e com um tom evidentemente manhoso.
-São só dois dias – Lauren argumentava pela milésima vez.
Como ela poderia querer partir depois de tantas tentativas minhas de que ela ficasse? Como ela conseguia ficar tão calma assim quando dali há poucos minutos estaria praticamente do outro lado do país, indo em direção a Califórnia? Afastei o meu rosto da curva do pescoço da filha de Zeus e não conseguia evitar o leve tremor em meus lábios. A tristeza gerada pela saudade antecipada estava ali, me consumindo aos poucos e fazendo daquela despedida a pior de todas.
-Hey – Lauren segurou o meu queixo quando desviei o olhar, obrigando-me a fitar aqueles olhos verdes tão intensos, tão lindos, tão hipnotizantes, tão... – Diga-me que não ficará bem que eu fico, cancelo tudo agora.
A minha língua coçou para que respondesse o desejo mais ardente de meu coração. Que ela ficasse, que ela não viajasse, que ela não me deixasse por longas e torturantes 48h. Mas eu mordi essa língua egoísta, contendo todo e qualquer impulso de aprisionar a minha noiva ali.
Estávamos no outono e o frio gostoso anunciava que o clima ainda estava dentro do esperado. A vida universitária era totalmente diferente do que eu esperava, era melhor ainda! A liberdade, a responsabilidade, as chances de fazer idiotices com seus amigos sem se preocupar... Tudo se diferenciava da Camila Cabello desastrada e solitária do ensino médio. As coisas ainda eram muito novas e intensamente vividas! Morar sozinha com Lauren exigia uma dose de compromisso, brigas e cumplicidade que ainda se desenvolvia, apesar de já terem passados alguns meses. O mesmo acontecia com Normani e Dinah que demoraram a parar de escutar Beyoncé até a madrugada. Ou com Ally e Troy, que pareciam ainda mais envolvidos um com o outro.
O problema era que desde que nos mudamos, Lauren havia se tornado uma presença constante e irrevogavelmente importante. Diferente de antes que tínhamos casas separadas e por muitas vezes ficávamos longe uma da outra por algumas longas horas.
Não havia como negar que aquela garota tão marrenta tinha um talento surreal para a pintura e que logo foi percebido pelos seus professores. Lauren começou a faculdade cursando poucas matérias, mesclando o básico das artes com aulas de literatura clássica. Lembro que tudo começou quando um de seus professores deu um trabalho livre para que sua turma fizesse, exigindo apenas que eles fizessem arte com as coisas que inspiravam eles.
O resultado? Ela desenhou a sala de estar da casa de Sinuhe, com todo mundo lá dentro, espalhados, conversando e brincando... E com nós duas abraçadas na batente da porta que dava acesso a cozinha de minha mãe, ela com o rosto em meu pescoço enquanto eu mantinha um sorriso sereno. Foi tão bem feito e rico de detalhes que o professor dela praticamente exigiu que ela fizesse quadros para serem expostos em uma galeria em São Francisco, um evento relativamente pequeno, mas que servia para exibir as futuras promessas das artes.
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Estações (Segunda Temporada)
FanfictionPouco tempo se passou naquele período de paz. Os semideuses que salvaram o mundo de um inverno infernal já estão na universidade aguardando do chamado do Destino. Sabiam que tinham vencido apenas uma grande batalha, mas a guerra ainda perdurava agua...