Capítulo 2 - Completo

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Narrado por Havena

      Já no aeroporto, compramos passagens até a Cidade Central onde fica a Istane. Recebeu esse nome por estar localizada bem no centro do estado. Arthur estava eufórico, colocou o braço em meus ombros e tagarelava sem parar.

      — Estamos encrencados, não é mesmo? — olhamos um para o outro e sorrimos.

      Sentia-me culpada por fazê-lo mentir para me acompanhar. Ele disse a sua mãe que passaríamos uns dias em uma fazenda com meu pai. Eu tentaria convencê-lo a ficar, mas estava assustada e sabia que iria precisar dele.

      Ficamos em silêncio durante o voo. Aproveitei para colocar as ideias em ordem. O certo era ir em direção oposta, mas eu não podia fugir da minha história. Alguns dias atrás minha vida era normal, como a de qualquer pessoa, e hoje está de ponta cabeça. Meu pai sumiu, descobri uma irmã, e o pior, uma tal mutação genética. Será que é verdade? E se for, para que serve? O que afeta em mim? Não sabia nem o que imaginar.

      Dormi um pouco e mais um pesadelo me atormentou.

      No sonho eu estava novamente em uma maca, e dois guardas entraram no quarto, colocaram um colar estranho em mim e me guiaram para outro lugar. Quando as últimas portas se abriram, me vi dentro de uma grande sala com três pessoas vestidas iguais a mim. Não dava para ver os rostos, eram apenas vultos.

      Acordei suada, com o coração disparado. Arthur estava dormindo com a cabeça em meu ombro. Por um momento nem lembrei que ele estava comigo, mas estava feliz por tê-lo ao meu lado.

      Logo a aeromoça anunciou que iríamos pousar. Ao desembarcar, pegamos um táxi. Já era tarde da noite e não tínhamos lugar para ficar. Não conhecíamos a cidade, o taxista nos indicou uma pousada, o lugar era pequeno, não tivemos muitas opções, mas como Arthur era como um irmão para mim, não me importei em dividir o quarto com ele. Escolhi a beliche de cima, estávamos exaustos, nem percebi quando adormeci.

      O dia amanheceu e descemos para tomar o café. Arthur estava falando com Érica, sua mãe, que estava furiosa por não termos avisado sobre nossa chegada na noite anterior.

      Pegamos outro táxi e seguimos pela cidade até chegarmos à Istane. Eu estava nervosa, mas decidida a ir até o fim.

      — E aí? Qual é o plano? — perguntou Arthur. — Você tem um plano, não é?

      — Na verdade, não.

      Paramos na calçada e observamos o local.

      No jardim havia uma estátua, era uma libélula, como a do crachá do homem que levou meu pai. O prédio tem pelo menos três andares, a fachada é toda de vidro espelhado. Fiquei parada, admirando os detalhes, então me surpreendi com uma moça que vinha em minha direção, gritando, como se já me conhecesse.

      — Onde você esteve esse tempo todo? Sabe que não posso encobrir você. Vamos! Estão te procurando — dizia enquanto me puxava para dentro.

      Fiquei sem reação e me deixei levar por ela. Arthur nos seguia me lançando olhares inquietos, enquanto a moça tagarelava sem me deixar dizer nada. Passamos pelos guardas e entramos na recepção. Olhei em volta, era uma sala pequena, mas bem planejada, o aroma de canela invadia o local. A recepcionista sorriu para mim e voltou o olhar para Arthur.

      — Pois não? — perguntou atenciosamente para ele.

      — Err... Eu estou com ela — respondeu meio sem jeito.

      — Karen, você sabe que não pode trazer visitas, não faz parte do protocolo — a moça tagarela se intrometeu.

      Não podia ser! Ela estava me confundindo com minha irmã, não esperava que fossemos tão parecidas assim.

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