A vidente

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- Você o convenceu a vir?

- Sim, ele virá. Só não entendi por que você faz tanta questão da presença dele.

- Mistérios que não cabem a você saber o porquê, mas verá quando for a hora.

Foi assim que começou o que ela chamava de mistério. Arthur era conhecido por sua incredulidade a tudo que não viesse da razão em suas causas e efeitos. Claro que aceitava também a intuição, mas somente quando vinha do estudo árduo da matéria a ser elucidada. Não acreditava no acaso de resoluções milagrosas e nem nos palpites de seus amigos que falavam de intuições vindas de sensações nebulosas. Não escutava ninguém. Preferia seguir os caminhos do seu próprio faro racional, sem credulidades...

Para convencê-lo, não falei propriamente com ele. Não diretamente. Fui até um grande amigo que tínhamos em comum.

- Amadeu, preciso de um favor.

- Diga.

- Você conhece Lina, a vidente?

- Sim, mas o que posso eu ajudá-lo com esta mulher?

- Não é bem com ela que preciso de sua ajuda; apesar de aquela mulher estar envolvida com o assunto.

- Continue, vamos ver do que se trata.

- Meu caro, você conhece a mania de racionalidade de nosso amigo Arthur. Não acredita em nada que não venha da capacidade humana, que nos torna diferente dos outros animais, a razão. Mesmo a mais torta, segundo ele, difere o homem dos bichos que compõe a criação da vontade do Soberano. Pois, bem! Fui eu mesmo conhecer esta mulher e fiquei de queixo caído quando ela começou a descrever, em detalhes, coisas que lhe eram desconhecidas sobre minha infância e que, segundo ela, eram causadoras de problemas na minha vida adulta.

- Você foi procurar uma vidente? Não acredito!

- Não comece com gracinhas. O assunto é sério demais; levando-me a fazer qualquer coisa para aliviar este meu fardo...

- E do que se trata o "fardo" que não chegou aos ouvidos dos amigos?

- Não vem ao caso...

- Como não vem ao caso? Somos amigos há tantos anos.

- E em nome desta amizade, peço que não me pergunte do que se trata. Não por enquanto. Haverá o dia que lhe contarei. Não agora!

- Então, já que você resolveu mostrar-se cheio dos segredos, diga o que quer.

- Quero que você me ajude a convencer o Arthur a visitar a vidente...

Amadeu ficou me olhando por um instante; depois caiu numa gargalhada de segurar a barriga para não sair rolando ao chão sem controle... Sem controle estava sua risada. Daquelas que até choramos.

- Deixa de palhaçada e pare com esta papagaiada!

- Desculpe... É... que você...

- Amadeu, quer parar ou vou embora e...

- Tudo bem, desculpe-me. Diga para mim: por que você quer levar o Arthur para ver a vidente?

- Porque ele é parte da resolução do meu problema.

- O Arthur é parte da resolução de seu problema que teve origem na infância?

- Não propriamente nesta parte da minha infância, mas na parte atual de minha vida.

- Piorou! Em que você está envolvido para que o Arthur seja o problema na parte atual de sua vida?

- Você é curioso, né? Não dá para ajudar sem fazer perguntas?

A videnteOnde histórias criam vida. Descubra agora