Minha mãe sempre me disse para ser corajosa, que se eu enfrentasse meus medos eu seria a pessoa mais feliz do mundo, mas ela esqueceu de mencionar que às vezes você nem ao menos sabe do que tem medo. O sentimento só está lá, te devorando por dentro e era isso que estava acontecendo no exato momento, só que desta vez eu não tinha ninguém com quem conversar.
— Gwen, você está bem? — Henry voltou minha atenção para ele, que estava debruçado em alguns livros assim como eu, nós estávamos tentando encontrar mais informações sobre o portal e Astrid, mas a biblioteca do refúgio não parecia ter muitos livros sobre isso.
— Tudo bem, só estava pensando em umas coisas.
— Talvez devêssemos dar uma pausa, você está cansada, tanto quanto eu.
— Não — após horas lendo livros eu não iria parar por algo que um simples café resolveria.
— Astrid pode esperar por algumas horas de descanso, bem como o portal.
— Não, ela não pode! — me levantei arisca batendo na mesa.
Neste momento ele percebeu o quão nervosa eu estava. Desde ontem quando voltamos da floresta algo estava me incomodando, como se eu estivesse sendo engolida por dentro, eu não tinha controle sobre nada e isso estava me matando.
— Vamos continuar a procurar se assim deseja — ele ainda me olhava, mas não estava bravo, nem ao menos incomodado com meu pequeno surto.
— Sinto muito Henry, não devia ter feito isso.
— Não se preocupe, eu entendo que ainda deve estar confusa sobre tudo isso.
— Quem dera eu estivesse confusa... — eu de fato não estava, se estivesse não estaria nervosa assim.
— Se você quiser conversar sobre isso, eu estou aqui sempre — ele tinha soado exatamente como minha mãe agora, o que causou uma pequena pontada de saudade dela, eu não podia nem acreditar que ela tinha me deixado dois dias atrás sem nem ao menos dizer para onde ia...
Eu soltei uma risada seca e ele me encarou sorrindo, sempre que olhava para ele eu via um olhar doloroso, como se tivesse passado por coisas que eu jamais poderia imaginar.
— Acho melhor não, vou tomar um café, talvez andar um pouco... — avisei enquanto segui em direção à porta da biblioteca, de onde me dirigi rapidamente até a cozinha tomada por alguns poucos adolescentes e uma criança de no máximo oito anos. Peguei uma xícara cheia de café e saí dali o mais rápido possível esperando que ninguém enchesse meu saco, o que obviamente não aconteceu...
— Seu nome é Gwen? — uma voz calma falou no começo do corredor, era o garotinho da cozinha com os mesmos cabelos castanhos assim como os olhos que me encaravam.
— Sim e você é? — eu nunca fui boa com crianças, acho que provavelmente era um dos motivos de eu sempre ter dito a minha mãe que jamais teria filhos.
— Nathan, sou irmão do Hunter seu amigo — em que mundo Hunter era meu amigo? Ou melhor, em que mundo Hunter tinha um irmão?
— Foi um prazer conhecer você! — eu estava prestes a me virar para ir embora quando ouvi um pigarreio, era Noah, estava de pé atrás do garotinho e me repreendia com somente um olhar que queria dizer o quão mal eu havia tratado o garoto.
— Noah! — o garoto gritou com uma alegria imensa ao vê-lo, aparentemente alguém tinha um sentimento positivo ao ver ele.
— Vejo que você conheceu a senhorita ranzinza — o garoto riu enquanto eu franzia minha testa para eles.
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Do Fogo às Cinzas
Fantasy"Você percebe que sua vida é uma verdadeira bagunça quando nem mesmo a sua morte dá certo". Assim é a vida de Gwen Collins que depois de sofrer um grave acidente de carro com sua melhor amiga morreu, mas como num piscar de olhos foi trazida de volt...