PARTE V.

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Eles passaram cinco horas em silêncio, sem sinal do reitor, nem nenhum desejo de iniciarem um papo furado.

Mas havia limites para a resistência de uma pessoa.

— Eu acho que ele não vem. – Mason declarou, rendendo-se.

— Eu decidi isso há duas horas. – Marshall concordou, erguendo-se da sua posição agachada.

Mason ficou calado, ainda encarando o estacionamento vazio, sem desviar o olhar para encará-la, o que a fez revirar os olhos com impaciência. Ela estava quase cogitando ir embora, quando a voz dele chamou sua atenção, quase como um fiapo de um murmúrio:

— Marshall... – começou. — Eu espero que você não me odeie.

Isso a fez parar.

— Quer dizer... Se você quiser me odiar, tudo bem. Eu não sou nenhum ditador fascista que segrega o ódio alheio, se é isso que você está pensando. Embora eu espero que não esteja.

Ela apertou os lábios, segurando um sorriso, ficando de costas para ele. Mason estava sentado contra o poste quebrado, a câmera apoiada nas mãos, os cabelos desgrenhados e o cenho franzido em aflição. Marshall estava parada, calada, encarando a luz distante do campus.

— Eu não te odeio. – ela revelou, por fim. — Pra ser sincera, até gosto de você. De um jeito estranho. Como se eu tivesse síndrome de Estocolmo ou sei lá.

Dessa vez, Mason foi quem sorriu em silêncio, balançando os cachos, e Marshall, como se sentisse aquilo, virou-se para fitá-lo.

— Sinto muito que essa tocaia não deu certo. Mas já que estamos aqui... Quero pedir desculpas. A que eu deveria ter pedido naquela mesma tarde na igreja. Eu estava dormindo e despertei com a sua voz. Eu realmente deveria ter contado que estava ouvindo e quem eu era, mas eu não me lamento de ter ouvido. Eu gostei de ter ouvido. Não de um jeito depravado ou sei lá. Só... De um jeito certo. Senti como se estivesse te conhecendo. E eu não me desculpo por isso. Mas, sim, me desculpe por ter te afetado tanto lá.

— Mason...

— O negócio é que eu realmente quero. Te conhecer, digo. Do jeito certo dessa vez. Sem piadinhas infames fora de contexto, sem invasão de privacidade e, principalmente, sem empréstimo de roupa suja. Se estiver tudo bem pra você?

Marshall piscou para ele. Mason ergueu-se, apoiando a mochila nos ombros, e soltou um sorriso tímido que fez até o fio de cabelo do mindinho de Marshall se arrepiar. Lá estava ela, após todos esses dias acumulando um ódio gratuito e parcelado, encarando o objeto da sua frustração com tanta transparência e empatia que ela podia sentir seu coração inflar no peito. Pela segunda vez na vida, e novamente na presença dele, Marshall estava sem palavras. Isso fez Mason soltar um dos seus típicos sorrisos rasgados carregados com petulância.

— Amigos? – ele perguntou, esticando a mão para ela, um gesto que significava muito mais do que estava explícito.

— Amigos. – ela confirmou.

Quando sua mão tocou a dele, embalada pelo frio da noite, Marshall sentiu uma eletricidade percorrer todas as células do seu corpo.

Sem nem racionalizar sobre o assunto, ela soube que aquilo seria o começo de algo.

Ela só não sabia do que.

YOU GOT ME [conto]Onde histórias criam vida. Descubra agora