Asleep [short] + njh

there is a better world, well, there must be

Quando os primeiros raios de luz invadiram aqueles primeiros momento da manhã cinzenta, eu me olhava no espelho enquanto ajeitava o paletó preto que cobria meu corpo frio, sem me importar com as minhas expressões acabadas e totalmente ainda abaladas com tudo o que aconteceu nas últimas vinte e quatro horas. O enterro dela será em algumas horas, e depois de ler suas palavras e refletir sobre as mesmas, me sinto ainda mais despreparado para dizer adeus. A culpa, em parte, pode ser considerada minha; afinal, de acordo com suas últimas palavras, ela foi capaz de cometer essa loucura por minha causa, para me proteger de um perigo que, aparentemente, só existia em sua mente.

No final das contas, eu posso ser considerado o maior culpado, e me sinto ainda pior em pensar que terei de fazer um elogio fúnebre para a minha namorada em frente àquelas pessoas que, de alguma maneira, ainda se importavam com ela e aparentemente sofrem com a sua morte. Porém, nenhuma delas deve estar sentindo o mesmo que eu; uma mistura de sentimentos ruins como a culpa, dor e tristeza interior. 

Sequei mais uma vez as lágrimas que escorriam pelo meu rosto e sai do quarto que costumava dividir com ela, pegando o envelope com o elogio fúnebre que demorei horas infernais para escrever, em seguida desci as escadas de casa e me encontrei com Harry, que me esperava para irmos juntos ao lugar onde ela estava sendo velada e em algumas horas, enterrada. O rapaz alto não precisou dizer palavra alguma ao me ver vestido naquele terno escuro, apenas me recebeu com uma abraço amigo e me acompanhou até a porta de casa, onde o carro de Styles estava pronto para que fossemos para o enterro, mesmo que ainda fosse cedo demais para isso. 

Ao entrarmos no carro, eu percebi que Harry estava mais inquieto do que o comum, olhando para mim o tempo inteiro e tentando me distrair com assuntos fúteis sobre as músicas que passavam nas rádios e sobre quanto tempo o bar ficaria fechado por minha causa, já que Thomas foi gentil o suficiente e me deu algumas semanas para me recuperar e voltar ao trabalho. Por um lado eu me sentia grato por ele estar tentando fazer com que eu me sentisse melhor, mas por outro só desejava que Harry calasse a boca de vez. 

"Harry, eu sei o que está tentando fazer, mas eu não vou conseguir parar de pensar nela. Com ou sem vida, Grace sempre vai estar na minha mente, ainda mais agora. Você não tem ideia de quantas dúvidas eu ainda tenho sobre tudo isso, e mesmo daqui há vinte anos, eu vou estar dessa mesma maneira, mesmo que ninguém note." Comentei.

"Niall, eu não sei pelo o que você está passando, nem tenho como saber, mas imagino que deve ser a pior das dores saber que a pessoa que você mais ama se foi dessa maneira, de propósito e tão de repente. Mas se quer saber minha opinião, talvez você deveria pensar de uma forma que não focasse tanto na tragédia, e sim em como ela deve estar bem agora. Deve existir um mundo melhor por ai, com certeza existe, e sim que a sua garota está lá, desejando o melhor para você e achando que fez a coisa certa, apesar de estar tudo totalmente errado para você. Esse está sendo o seu pior momento, mas talvez você precise pensar de uma forma mais relaxada, e não como se o mundo fosse cair na sua cabeça."

"Acho que qualquer mundo deve ser melhor do que esse. Grace se foi por estar se sentindo julgada e afetando ou outros ao seu redor, tudo porque existem pessoas que sentem prazer em fazer outras se sentirem mal. Bem, na verdade, o mundo não é tão ruim, e sim as pessoas que tomaram conta de tudo; e qualquer outra seria melhor sem esse tipo de gente." Respondi.

"Bem, tente deixar o seu mundo um pouco melhor daqui para frente, comece ainda hoje. Quando for fazer o elogio fúnebre para aquelas pessoas que são um tanto quanto cruéis, mostre o que pense e orgulhe a garota que você sempre irá amar."

Talvez Harry estivesse certo, talvez eu precisasse orgulhar a única pessoa que poderia me admirar mesmo dentre pessoas ruins com que sempre convivemos. Respirei fundo e desci do carro, andando em direção ao velório e me preparando emocionalmente para o que estava por vim; vindo de mim mesmo.

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