Capítulo 32

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Três semanas depois

Eu ando tão mal... Parece realmente que estou morrendo aos poucos. Tantas máscaras estou tendo que usar, para evitar desabafar com qualquer um... Tantas mágoas guardadas! Ninguém mais se importa comigo, exceto o Lucas, mas ele está a tão distante... Quem diria, a única pessoa no mundo que se preocupa comigo, está do outro lado do continente! Isso dói. Não só o fato de eu praticamente não ter ninguém, mas também o fato de ter que fingir que estou bem, para não preocupar meu pai e meu irmão, sendo que o que mais quero é ter um ombro amigo pra abraçar e me consolar... Seria como uma terapia pra mim, mas primeiro que nem tenho quem abraçar, e segundo que se eu começar a chorar do nada, ou vão achar que sou louca, ou vão se preocupar comigo, e não é isso que eu quero... Me sentir culpada por preocupá-los, mas querendo ou não, é isso que irá acontece se eu falhar nesse enorme fingimento.
Gostaria de poder soltar o que está guardado a um bom tempo dentro de mim, mas não tenho como... Chorar só é possível de madrugada, quando todos estão dormindo, e não devo explicações à ninguém! Mas se chorar sozinha, sem consolo ou algo do tipo, a solidão só piora a situação.
É uma das piores dores que já senti, pois parece que há algo perfurando sua alma e levando seu coração junto.
Queria dizer que por mais que pareça feliz aos olhos das pessoas com quem convivo, não estou, pois é só uma tática para não esbanjar mágoas alheias por aí...
Se ainda fosse só por causa do Matthew, mas não! Desde que me mudei, perdi todos os colegas que tinha no Brasil, sendo que o único que me restou foi o Lucas, porém eu nunca o vejo. Já aqueles filhos dos amigos do meu pai, ficaram todos chatos comigo, inclusive meus primos, por conta da nova "amiguinha" deles, Skylar, tanto que Matthew está namorando com ela agora. E nisso vocês me perguntam: e o João e a May? Estão namorando! Ainda estão legais, mas quando algum dos amigos começa a namorar, normalmente se afasta aos poucos do amigo, acho isso até que normal, por acontecer tanto.
Restando-me apenas 3 pessoas:
* Lucas, que está no Brasil, enquanto estou em Washington;
* Carson, que provavelmente ficaria bravo se soubesse que parte do meu sofrimento gira em torno do Matthew;
* Meu pai, que já tem muitos problemas, e não quero adicionar mais um na vida dele.

(...)

Acredita que pra piorar começou aquela cólica que meu Deus. Não aguento coisas assim, parece que o universo conspira contra mim... Okay, exagerei, não estou nos meus melhores dias, mas tem gente bem pior, então acho que devo parar de reclamar! Eu estou prestes a gritar, mas lembro que não estou sozinha em casa, então prefiro me segurar, começo a espernear, mas a dor só piora, começo a me contorcer e me sinto uma lombriga... Isso é estranho para mim, já que eu quase nunca tenho cólica! Contenho as lágrimas, e desço correndo as escadas para pegar um remédio, e adivinha! Não tem! Se bem que nunca tem, já que sou a única "mulher" da casa. Vou pro quarto do meu pai e aviso que vou sair com uns amigos da escola, já que não quero avisar que estou naqueles dias, pois seria um tanto constrangedor pra mim. Ele depois de um tempo se acostuma com a idéia e deixa eu sair. Vou para o meu quarto, pego minha bolsa com dinheiro, coloco meu par de All Star preferido, tranco o  cômodo, desço novamente as escadas correndo, passo na cozinha, pego uma garrafa d'água e saio de casa. Vou o mais rápido que consigo (o que não é muito, sendo que estou com dores horríveis bem na região do ventre) para a farmácia que fica a duas quadras de distância da minha casa. Chegando lá encontro um menino que eu já havia visto antes... É o Guilherme de uma classe acima da minha, se não me engano.
Olho para ele e ele sorri, com a língua entre os dentes, sorrio de volta e vou atrás dos remédios. Assim que efetuo o pagamento do meu remédio, saio da loja e vejo Guilherme encostado na parede e vou cumprimentá-lo.

-Hey!- digo normalmente
-Hey!- diz e sorri novamente- esperando alguém?
-Não, e você?
-Também não! Vamos tomar um sorvete? Eu realmente não quero ficar sozinho!
-Ok, foi exatamente isso que disse que iria fazer quando pedi pro meu pai pra sair!
-Mentindo?- disse é faz uma cara de surpreso zoando
-Eu? Nem!- respondo e rio- mas antes tenho que tomar meu remédio, porque o negócio tá feio aqui!- falo e coloco minha mão sobre meu ventre
-Ok... Cólicas? - pergunta paciente enquanto me observa tirar a garrafa da bolsa e tomar o remédio
-Infelizmente!
-Eu sei que pra vocês é horrível, mas pensa que você poderia estar com algo MUITO pior!
-Eu sei, eu sei! Mas parecem que estão espetando facas na sua barriga, mas espetando e tirando, como uma tortura...
-Que bom que não tenho isso...- fala baixo, mas de maneira que consigo ouvir- Vamos indo?
-Sim!- e nisso começamos a andar
-Jojo, né?
-Sim! Guilherme, né?
-Yep! E a vida, como anda?
-De mal a pior, e a sua?
-Oxi, por que?
-Eu não sei se posso confiar em você!
-NOSSA, DESCULPA AÍ!
-Mas é ué, nem te conheço direito!
-Pode confiar, sério...
-Okay, mas só porque não tenho ninguém pra confiar no momento... É que o menino que eu estava ficando, começou a namorar, e não tenho ninguém agora... E não só nesse sentido...
-Continue!
-Como me mudei faz pouco tempo, perdi meus colegas do outro país, e só mantenho contato com um amigo de lá, e pela internet. Já na escola, meus antigos amigos me abandonaram por causa de uma menina nova, e os únicos que sobraram começaram a namorar, e estão se esquecendo de mim aos poucos...
-Não se preocupe, agora você tem a mim!

(...)

-Nossa, mas você é realmente legal, ein!- falo rindo
-Mas é claro! Aqui é outro nível! -responde brincando
-Obrigada por tudo... Por me escutar, me entender, me animar...
-Não precisa agradecer! Sou seu amigo, e amigos fazem isso!- diz normalmente e eu me permito sorrir verdadeiramente pela primeira vez em dias...
-Agora tenho que ir! Tchau!- falo caminhando em direção à minha casa
-Bye!

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