Prólogo

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Estava olhando para ela.

Finalmente, depois de três anos, estava olhando para quem atormentou meus sonhos e meus pesadelos por todo esse tempo.

Mas, eu só precisei de alguns segundos para perceber porque que ela parecia tão, tão diferente. Seus olhos, daquele verde único, antes tão felinos e ao mesmo tempo afetuosos, agora estavam opacos e perdidos. Embaixo deles, olheiras marcadas, dignas de quem não dormia a dias, não, semanas. Estava muito magra e trêmula, e seu cabelo mais curto, como se tivesse sido cortado às pressas. Definitivamente, não foi assim que eu gostaria de ter à encontrado.

O que teria acontecido com ela durante esses anos?

Me aproximo hesitante, estou estupidamente nervoso. Eu sei que é só a Bonnie, mas as palavras dela nunca me deixaram.

- Eu só quero que se lembre... Que me magoou.

Eu lembrei Bonnie. Eu lembrei, por cada mísero segundo.

- Bonbon? - Sussurro o apelido que dei a ela, tentando amenizar o choque que seria me ver ali.

Seu corpo se tenciona inteiro, e ela move a cabeça muito lentamente em minha direção. Quando seus olhos encontram os meus, eu deixo escapar um sorriso. Finalmente. Eu quero abraçá-la e pedir que por favor, por favor, ela me perdoe. Mas, é medo isso em seu rosto? Eu desisto de minhas idéias, porque percebo agora, que em seu rosto está estampado o mais puro pavor que eu já vi em um rosto humano. Bonnie tem medo de mim, é isso?

Ela se encolhe contra a parede e eu me afasto.

- SOCORRO! ENZO! - Ela grita e eu fico confuso.

- Mas que porr... - Enzo aparece no batente da porta, segura um café fumegante na mão, e quando me vê, fica tão surpreso que o derruba.

Bonnie corre para ele, ignorando o líquido que certamente queima seus pés, e se agarra a ele, como uma criança assustada, seus braços magros envolvem o peito dele, a cabeça dela se esconde no pescoço dele. Algo naquela proximidade, naquela intimidade, estava muito errado.

De todas as reações que eu imaginei de Bonnie, essa não passou nem perto dos meus pensamentos. Ela poderia me bater, fazer meu cérebro explodir, me xingar e gritar comigo se quisesse, mas isso, eu não conseguia aceitar.

Enzo olha para Bonnie e faz gestos pedindo silêncio. Eu atendo, mas continuo encarando aquela cena em um misto de raiva e tristeza.

- Será que eu posso saber o que está acontecendo aqui?

Meu impulso era de estrangular Enzo, mas não matá-lo, porque eu precisava de respostas.

- Vou te contar tudo que quer saber, Damon. Mas primeiro, fique calmo.

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