1. Insomnia

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"Você acordou em minha noite, você podia ver a loucura em meus olhos,
o controle que eu perdi.
Por favor, salve-me de mim mesmo."

- IAMX

- Foi a Armory. 

Estávamos agora aonde eu imaginava ser o quanto de Bonnie naquele sanatório. Era modesto e com muitos retratos espalhados. Elena estava em vários deles, obviamente.

- Espera que eu engula essa historinha?

- Eu não espero nada. Na verdade, eu só quero me livrar disso.

- Cuidado.  - Observo Bonnie pela janela, ela está cutucando furiosamente um pequeno furo no estofado do assento.

- Eu entendo sua indignação, raiva ou sei lá o quê. É uma situação intragável, tanto para você, quanto para mim.

Nada do que ele disse até agora fazia sentido para mim. Mesmo assim, não deixava de ser cruel. Segundo ele, a Armory conseguiu pôr as mãos em Bonnie que sendo uma Bennett é muito valiosa e a submeteram a  uma espécie de lavagem cerebral, que acabou por deixar algumas sequelas graves, como alucinações e paranoia. O que explica o escândalo lá em baixo mais cedo. Tudo poderia ter sido pior, se Enzo não tivesse resolvido se rebelar contra sua recém descoberta família e tirado-a de lá.  Mas algo não se encaixava.

- Até onde isso a afetou? - Não queria ter soado tão amargo.

- Não está vendo? - Ele suspira - É como se ela se perdesse dentro da própria cabeça de vez em quando.

Esmurro o batente, ele se parte.

- E quanto a vocês? Estão juntos?

- Eu apenas cuidei dela. - Eu rio.

- O que é, Damon? Diga. Acha que eu me aproveitei  dela?

- Se essa possibilidade tivesse passado remotamente pela minha cabeça, você não estaria mais entre nós, se é que me entende.

- Você deixou ela sozinha. Não tem ideia de tudo que aconteceu com ela nesses três anos. - Sibila.

- É por isso que você vai me contar. Tudo.

Uma enfermeira empurrando uma cadeira de rodas vazia, aparece na porta.

- Meninos, vocês terão que  fazer silêncio ou vou ter que pedir que se retirem.

Enzo assente com a cabeça e então ela nos encara uma última vez e vai embora.

- Espero que tenha dito tudo que preciso saber - Me direciono para a porta - porque vou tirá-la daqui.

- Ela não vai com você.

- Tem certeza? - O encaro enquanto desço as escadas. - É isso que veremos.

Quando alcanço onde ela está sentada, tento uma segunda abordagem, mais branda dessa vez.

-É um lindo pôr do Sol. - Observo sua reação e espero pelos gritos dessa vez. Mas eles não vem.

- Por que você não saí da minha cabeça?

- Como?

- Por que você não saí da minha cabeça, Damon? - Ela olha para o Sol, enquanto fala.

- Eu estou aqui. Sou real. Eu voltei Bon.

- Enzo, faça parar, por favor. - Ela implora baixinho.

O vampiro que esteve ouvindo em silêncio até ali, se pronúncia.

- Claro, querida. Você só precisa descansar. Vamos, eu vou te levar lá para dentro.

Ele segura gentilmente o braço de Bonnie  e a ajuda levantar.

Olho toda aquela cena e me assusto comigo mesmo quando me dou conta que estou segurando Bonnie pelo o outro braço, como se fosse um cabo de guerra entre mim e Enzo, só que enquanto o aperto dele era gentil, o meu não era tão.

Bonnie sente meu toque e recua e diferente da primeira vez, ela me enxerga.

- Da... Damon? - A voz que ouço agora é falha, embargada e até saudosa.

- O primeiro e único. - Espero por um abraço.

- Eu não acredito. - Ela nega, balançando a cabeça e se afasta - Eu nunca mais vou ver você, você morreu.

- Qual é Bon. Eu não morri, você sabe muito bem.


Nova York, Brooklyn
3 anos antes

Dar às costas à ele, foi uma das coisas mais difíceis que já fiz. Doeu em mim e sei que também doeu nele. Assim que  Enzo me contou que Damon perguntou por Elena eu imediatamente soube o que ele pretendia fazer. Aquilo me fez odiá-lo por ser fraco. Me fez odiá-lo por me abandonar, justo ele.

Minha mãe, Jeremy, Kai. Todos me deixavam para trás e doeu saber que Damon faria isso também. Eu quis perguntar o que tinha de errado comigo, mas não fiz. Eu quis correr para ele, e implorar que ficasse, como se eu fosse uma criancinha, mas não fiz. Eu quis contar o que estava começando a sentir, mas não fiz. Eu só precisava olhar nos olhos dele uma última vez e levaria  aqueles olhos comigo por todo o tempo que me restava.

Então, no auge da raiva, eu disse coisas que não queria dizer. Eu tentei ser forte, não chorar e não consegui, não pude. E depois que deixei-o, desabei na parede mais próxima. Chorei por tudo, pelas lembranças, por não vê-lo nunca mais, por ele ter me abandonado. Até que a raiva passou e só sobrou uma angustiante e amarga culpa. Me ocorreu, que ele era o Damon e carregaria essas palavras como cicatrizes. Eu não queria deixar cicatrizes em Damon. Eu o amava afinal. Era disso que eu queria que ele lembrasse.

Eu tinha ainda uma pequena esperança que minhas palavras raivosas tivessem surtido efeito, que ainda o encontraria ali, de pé, onde o deixei. E ele escolheria a mim. Mas, naturalmente, quando eu voltei lá... ele já tinha feito sua escolha e não era eu.


Agora

- Eu sei que você morreu pra mim naquele dia. - E então ela gargalhou de repente, como se alguém lhe tivesse feito cócegas - O que foi que acordou você do seu sono de amor, Damon?

Ainda perplexo com sua mudança de humor repentina, eu demorei um pouco para voltar ao normal. Me sentei ao lado dela e esperei que ela se acalmasse também.

- Bom... o que aconteceu, é que o Stefan encontrou um cara, que conhecia outro cara que tinha o contato de uma bruxa ancestral que sabia fazer um feitiço e en...

- Fala logo Damon! É a Elena? Você conseguiu acorda-lá?! - Bonnie deu um pulo e parou a centímetros de mim, em expectativa.

- Menos bonito, eu receio. - Fitei meus próprios sapatos, porque não conseguiria dizer isso olhando para os olhos dela.

- Como? 

- Bonnie, eu... Trouxe o Kai de volta. Ele está vivo.

Foi como se ela desligasse a consciência e a sua alma procurasse um lugar para se esconder dentro do próprio corpo. Por um segundo eu pude jurar que vi os olhos verdes ficarem negros, totalmente vazios.

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⏰ Última atualização: Oct 16, 2016 ⏰

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