Voltei a acordar mas desta vez no carro. Pelo que consegui perceber, estava a tocar " Marcello " de Bach. Era tão triste, tal como o humor dele.
O meu pai sempre ouvir Bach quando estava triste, a doença o fez ficar incapacitado de tudo. Passava os seus dias sentado a ouvir as mais tristes sinfonias. Partia-me o coração sempre que o via.
Foi ficando cada vez mais frágil e distante. Até ao dia.. Não! Não é o momento para pensar nisso agora mas a música..
O carro era todo revestido a couro preto e janelas pretas. Bastante discreto e intimidante. Podia sentir o João por todo o lado. No ar pairava o cheiro masculino e a colónia madeirada dele.
Ele estava por todo o lado..
A forma como ele conduzia, como não olhava para os lados, apenas para a frente. Algo estava errado.
- Porque estou no carro?
- Sempre tão curiosa. Vou-te levar a um sitio. Vais gostar.- Respondeu-me com um certo brilho no olhar.-
Estacionamos ao pé de um lago. Não havia nada à nossa volta. Apenas nós e o lago. Não estava a gostar nada daquilo e pela primeira vez desde que o conheci, senti medo.
Muito medo.
- Aqui.- Começou ele a falar.
Finalmente ele decide falar!
- Aqui era onde vinha corrigir os trabalhos. Ficar sozinho. Abstrair-me de tudo e de todos. Ficava sempre eu e a arte. - Vi melancolia no seu olhar. Isso preocupou-me.
- João.. Não sei porque me trouxeste aqui mas não estou a gostar! Não sei o que se passa contigo. estás triste, distante e estás-me a deixar com medo.
Como soube bem admitir!
- Tu. Tu estás com medo de mim? Não te trouxe aqui para te fazer mal porra! Nunca trouxe cá ninguém. Não gosto de pensar com ninguém. Achei que ias gostar de estar num sitio calmo, fora da cidade..
Fiz merda. Boa Leonor.
- Não, desculpa. Mas é que estás estranho e eu estou um caco, estar sozinha em sítios assim fazem-me sentir desprotegida e triste, só isso.
Ele ficou parado à minha frente a observar-me com aquele olhar cheio de trevas. Cheio de tristeza e dúvidas. Só me apetecia abraçá-lo.
Porque lhe fui admitir esta falha? Porque fico ainda em pânico sempre que venho para um sitio com água?! Não queria ter de lidar com essas perguntas agora. Não queria nem podia ficar triste. Esperei anos para o voltar a ver e agora estou a estragar tudo.
Foco!
- Estar na natureza me acalma Leonor. A forma como a brisa percorre os ramos das árvores. Como o lago se agita. Isso acalma-me.
Peguei a sua mão e apertei. Era tão grande e macia. Encaixava tão bem com a minha.
Feita para mim..
- Porque é que eu acho que isto à tua volta não te está a acalmar? O que se passa João..?
Ele afastou-se.
- Vamos para o carro. Está a começar a ficar frio.- Disse-me num tom áspero.-
No carro ele pousou a mão em cima da minha perna.
Ele estava com medo, podia sentir isso. Mas medo do quê? Será que eu ia gostar de descobrir? Não estava preparada.
O céu estava nublado em Lisboa, pequenas gotas de água começaram a cair. À medida que a música ficava mais forte a chuva ia ficando também mais forte.
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Fantasias.
RomanceEste livro não é nenhuma fic nem tem nada a ver com bandas ou assim. É apenas um romance erótico. Espero que tenham uma boa leitura e sejam livres de dizer o que acham, muitos beijinhos :)