Capítulo 4

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Romero

Depois do que a Tóia me disse, eu fui procurar saber porque o Ascânio queria que eu fosse atrás da Atena. Ele me passou uma desculpa esfarrapada e deixei quieto, até porque, eu estava bem feliz que o pesadelo me deixou. 
Mas quando o porteiro me viu, tocou num assunto estranho.

- Como a dona Atena está?

- E ela passou mal? - o fitei -

- Sim. Há uns semanas atrás. E como nunca mais apareceu aqui, eu fiquei preocupado. - ele sorriu fraco -

- Mas o que ela tinha realmente?

- Olha, eu não sei dizer. Só sei que ela saiu ás pressas com o seu Ascânio e a cara não estava muito boa.

- E porque você não me contou antes? Meu Deus!

- Ah. Porque vocês nem namoram mais e a dona Tóia tem ciúmes dela. Então nem me meti. Desculpe.

- Não. Nada não. Mas vem cá. - o chamei para perto - Faz um favorzinho...

- Claro.

- Se algum deles dois aparecem por aqui, principalmente a Atena, você liga pro meu número. - Anotei o número no papel.-

- Tudo certo.

- Valeu.

Isso estava muito estranho. E eu teria que descobrir o que era.

(...)

- E aí, pai? - Dante me abracou.-

- Oi, meu filho! Que saudades! - retribui o abraço.- Esqueceu de mim, foi?

- Não, pai, nunca! - ele sentou-se no sofá- Mas me diz uma coisa... como estão as coisas entre você e a Tóia?

- Tudo ótimo, porquê?

Dante estava muito estranho, acho que tinha algo que eu também não sabia.

- Não era pra eu te contar assim, mas ontem estive na comunidade com a Lara, e bom, vi a Tóia com o Juliano. - ele falou me fitando.-

- Quê? Com o Juliano como?

Várias coisas passaram na minha cabeça no momento, mas em nenhum momento aquele aperto no peito como quando eu vi Atena aos beijos com Faustini. Sim, estranho eu não ter ciúmes. Mas... eu não tinha mesmo.

- Eles estavam conversando e tal. Nada demais, mas acho melhor você conversar com ela. - Dante sorriu de lado.- Não querendo fazer fofoca, mas você teria que saber, né?

- Sim, claro. Pode deixar que não conto pra ela quem me disse.

Eu e Dante conversamos mais um pouco e logo depois ele foi embora.

Passaram-se dias desde que dei meu número para o porteiro, Severino, mas não obtive resposta. Pelo visto Atena não iria aparecer aqui, e nem o velho, de pirraça. Já era noite quando Tóia apareceu em casa. Botou a bolsa no sofá, foi no quarto e apareceu sem os sapatos.

- Oi, meu amor. - Falei olhando-a sentar no sofá -

- Oi, amor. - ela me deu um selinho.-

- Onde você estava?

- Fui na Beba. -ela sorriu de canto- Ela tá muito triste. O Merlô saiu de casa e tal...

- Sei. E o Juliano, como está?

Tóia riu nervosa.

- Como vou saber como o Juliano está, Romero?

Levantei uma sobrancelha e a encarei.

- Porque você esteve com ele?

Tóia engoliu em seco e levantou-se do sofá. 

- O que você foi fazer com o Juliano, Tóia?

- E-eu...- Tóia respirou fundo e me fitou.-  Romero, precisamos conversar.

(...)

Conversei com Tóia, e chegamos a uma conclusão: não daríamos certo nunca. Ela me contou que já estava se encontrando com Juliano há algum tempo e que inclusive sabia das minhas idas à cobertura de Atena. Antes disso, eu argumentei e tal, mas não deu muito certo. Seríamos apenas "irmãos" e grande amigos. Cada qual pro seu devido lado. No dia seguinte, ela foi embora para o Morro da Macaca e eu fiquei de novo, solitário... como de praxe.

O interfone tocou. Era o velho.

- Queria falar com você mesmo. Entra! - puxei o velho pela gola da camisa.-

- Calminha, Romerito. Isso tudo é porque a sua mina de ouro te deixou pelo Mrs Músculo da macaca?

- Fica na tua! - respirei fundo - Quero saber o que houve com a Atena e você não vai sair daqui enquanto não me contar!

- Desculpe, mas não diz respeito a você. - ele sorriu - E a própria Atena não quer nem saber de você, nem pintado de ouro.

- Não me testa, Ascânio...

- Não vou contar nem a pau. Sinto muito.

- Ah, você vai, vai sim!

Puxei a gola da camisa mais forte e ele ficou vermelho. Olhei no fundo dos olhos dele e percebi que não era ele. Era pela "amizade" dele com Atena. E ele diferentemente de mim, não era traíra. Soltei a camisa e ele saiu, respirando com dificuldade.

- Eu não posso contar.

E saiu pela porta me deixando com muitas perguntas na mente.

Algumas horas depois, o meu telefone tocou, era Severino.

Ela está por aqui.

- Valeu, mais tarde passo aí pra te dar um presentinho.

Agora eu iria descobrir o que ela tanto escondia.

(...)

- Vamo, estou esperando.

Foi o que falei ao ouvir a conversa de Atena com Ascânio. Os dois me olhavam assustados.

- O que tu tá fazendo aqui? - Atena perguntou, tremendo.-

- Essa cobertura é minha, esqueceu?

Caminhei lentamente até ela, que levantou do sofá abruptamente. Havia esquecido o quão linda ela é.

- Bom, velho, acho que essa visitinha já deu, né? Tô rapando fora. Até mais. - Atena pegou a bolsa ao lado e tocou na mão de Ascânio. -

- Você não vai a lugar algum. Esperei tanto pra te ver e perguntar que diabos tava acontecendo. Você não vai sair daqui até me contar. - peguei pelo seu braço. - Que história de filho é esse?!

Atena me olhou com ódio nos olhos e uma lágrima desceu pelo seu rosto.

- O filho que tu fez eu perder! - puxou o braço - Nosso filho.

Nesse momento o chão se abriu aos meus pés. Senti uma tontura, sei lá, tudo girou ao meu redor.

- Quê?

- Isso mermo! O filho que eu tava esperando e perdi! Tá satisfeito por arruinar duas vidas? A minha e a do meu filho? - Atena chorava copiosamente e Ascânio só observava tudo -

- Porque você não me contou? Como aconteceu isso?

- Não interessa. Agora a gente não tem mais nenhum vínculo. - ela sorriu, limpou as lágrimas e passou por mim quase correndo.-

- Atena, espera!

- Vá se ferrar! - saiu pela porta, a batendo-

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