Outlier (Versão Portuguesa)

Capítulo 2 - A Economia & o Amor

18 de Setembro 2006 – O meu cérebro e a adaptação

Já faz uns dias desde que cheguei a Coimbra. Ainda estou a tentar arranjar tudo e a adaptar-me a esta nova cidade. Dizem que o nosso cérebro demora quatro dias a adaptar-se a uma nova realidade. Quem sabe, talvez seja verdade... só sei o meu cérebro ainda não tomou total consciência que não está em Gouveia, junto da família. Mas vamos ter esperança! Afinal hoje é o meu quarto dia. Para além disto, hoje foi também o meu primeiro dia de faculdade. Talvez por causa disto, algo dentro de mim esteja a mudar. Tudo começa a ficar mais real – as paisagens que me cercam, as ruas por onde passo – e há caras que se tornam conhecidas.

A minha experiência de culinária não tem sido a melhor. Ainda no outro dia, a tentativa de fazer arroz não correu como planeado. Talvez por me ter distraído com o tempo, ou simplesmente por não ter jeito, só sei que a porcaria do arroz ficou pegada ao tacho. Ficou mesmo queimado! Pior, foi ter de lavar o tacho... é claro que tive de pedir orientações à minha mãe pelo telefone. Há certas coisas que estão fora do meu nível de conhecimento. Pelo menos, é bom saber que a minha mãe está sempre lá.

Para começar a faculdade, tive apenas duas aulas para introduzir algumas disciplinas deste semestre. No resto do dia, tive a passear pela cidade na qual estarei por mais três anos. Além de conhecer novos sítios, também conheci novas pessoas. Algumas delas vão fazer parte da minha turma.

Dei-me muito bem com uma rapariga, chamada Erica, que veio de Beja. Já a tinha visto no dia das matrículas, mas hoje deu para a conhecer melhor. Soube que está temporariamente na casa de uns amigos dos pais, mas que anda à procura de casa. A "boa samaritana" que existe em mim apressou-se a dar-lhe o número da senhoria da minha casa. Que atencioso da minha parte! Afinal de contas, ainda há um quarto vago no apartamento onde estou. Além de a ajudar, seria ótimo (aliás, espetacular!) poder partilhar a casa com uma rapariga da minha turma. Tornaria as coisas muito mais fáceis para as duas, o horário seria o mesmo e até dava para organizar aqueles grupinhos de estudo. É uma ideia entusiasmante! Vamos esperar para ver...

16 de Outubro 2006 – Adaptação concluída

Vou-me atrever a dizer que a principal fase de adaptação está concluída. Finalmente percebo a melhor maneira de lavar a roupa e consegui desenvolver as minhas capacidades culinárias, para além das sobremesas. A Erica veio morar comigo há uma semana e tem estado a ser espetacular desde então. A outra rapariga que vive connosco, a Beatriz, também é simpática mas está quase sempre no quarto a estudar. Não sei como é que ela aguenta! Pelo menos ela sempre nos tem, a mim e à Erica, que tendemos a motivá-la com doces! Somos queridas, levamos-lhe as experiências que decorrem na nossa cozinha e que geralmente têm bom resultado.

Bem, mas já sabem que as coisas quando ficam bem de um lado pioram noutro. E depois de uma fase de introduções na faculdade, agora sim começou a ficar sério. A matéria é literalmente despejada. Nunca pensei que a diferença entre o secundário e a faculdade fosse tanta. Mas tenho fé de que vou conseguir adaptar-me à imensidão de avaliações, que já estão marcadas para o semestre inteiro. Já tive um trabalho e na próxima semana tenho uma apresentação.

Ao contrário das outras pessoas que morrem de vergonha por estar à frente da turma a falar, eu até gosto. Claramente não sou daquelas pessoas tímidas ou que coram por tudo e por nada. Eu faço parte sem dúvida das pessoas desenrascadas, por isso atirem-me aos tubarões que eu aprendo a nadar sem falhas.

Do meu grupo fazem parte a Erica, obviamente, e o Miguel. O Miguel é um rapaz de Tomar, super simpático e que até se esforça nos trabalhos. Melhor do que o Dinis, um rapaz do Porto com um sotaque carregado, ao qual é impossível não achar piada. Contudo o Dinis é ligeiramente preguiçoso, por isso eu e a Erica decidimos ficar com o Miguel. Nós temos um jogo estratégico. E sem querer parecer sexista, os rapazes tendem todos para a preguiça.