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Margem do rio principal de Fundown; 15 de junho de 2014

Sob um sol que anunciava o fim do outono, os jovens da Instituição de Ensino Técnico de Fundown tomavam banho de sol sobre suas toalhas coloridas, bebendo drinks sem álcool — batizar sua bebida ou não era responsabilidade individual —, ao som de Feel So Close na longa playlist da festa. Fundown era bastante atrasado quando se tratava da cultura pop, então aquela música que já era avó em outros lugares era tratada como lançamento e saía como se fosse um hino da boca dos jovens festeiros.

O churrasco estava planejado como uma social entre o clube de dança, mas a notícia se espalhou como um incêndio e quando dezenas de pessoas apareceram na margem do rio usando trajes de banho e trazendo comida, bebida e música, o clube de dança recebeu todos de braços abertos, principalmente porque eles não eram um clube tão popular assim e precisavam do sucesso desse evento.

Sentada toda aberta mostrando a sua já conhecida falta de modos em seus shorts jeans curtos e a parte de cima de um biquíni amarelo-mostarda, Vickie parecia estar envolvida num caso de amor com uma garrafa de vinho que provavelmente seria substituída por alguma boca masculina da festa mais tarde. Enquanto isso não ocorria, ela permanecia de cabeça baixa com os cabelos cobrindo seu rosto e a garrafa, como se ela estivesse tirando a bebida das ondas do cabelo escuro num truque de mágica.

Ivie tinha escolhido não beber no churrasco para que se algo a mais acontecesse, ela não se esquecesse, já que tinha a péssima sina de beijar donos de bocas muito interessantes quando estava bêbada, mas se esquecer de tudo assim que a sobriedade lhe encontrasse novamente. Depois de apertar seu shortinho em volta do maiô roxo, ela se virou tão rapidamente que os cachos recém-tingidos de azul — algo que não agradou em nada a irmã mais velha — atingiram o rosto de Vickie como chicote no exato momento em que ela levantou o rosto.

— Olha eu aqui, Willow Smith! — Vickie disse em alerta, ao ser pega de surpresa, mas logo relaxou ao tomar mais um gole do vinho.

Ivie se desculpou, olhando em volta. Parecia estar procurando algo.

— Achei... — Ela disse baixo, quase um resmungo, a cara se fechando como se o rosto ensolarado dela estivesse sendo coberto por nuvens de irritação.

Gabriela, em roupas de banho tão desleixadas em comparação as outras garotas que tentavam ser sexy, estava bem animada enquanto conversava com Henry, o garoto que Ivie beijara apenas algumas semanas antes. Ela sabia que o beijo tinha acontecido, mas não conseguia se lembrar de jeito nenhum de como ele havia sido por culpa do maldito álcool. Ela poderia ter deixado isso pra lá se Henry não fosse o garoto que estava afim desde o início do ano.

— E lá está ela... mais uma vez... perto demais dele... rindo de alguma coisa que ele disse... — Ivie lamentou, enquanto olhava para os dois que estavam muito entretidos um com o outro. — E ele nem é tão engraçado assim, eu já conversei com ele e tive que fingir que achava graça da maioria das coisas estranhas que ele falava!

Vickie, de repente, saiu do transe que estava com a garrafa de vinho, seguindo o olhar de Ivie, e fez um som estranho enquanto revirava os olhos. Aquilo fez Ivie se afastar um pouco, com medo, como se achasse que a amiga estivesse pronta para expelir todos os goles de vinho pela boca.

— Esquece esse garoto, ele nem beija bem! — Reclamou ela, sempre gesticulando bastante, e em seguida largou a garrafa de vinho por um momento e jogou as mãos para o alto.

Ivie lançou seu olhar fatal para a amiga porque não queria mais ouvir sobre a vez em que Vickie e Henry haviam se envolvido. O olhar fatal de Ivie era simples e imutável mas funcionava. Com quem não a conhecia.

CretinaOnde histórias criam vida. Descubra agora