Dois anos antes...— Alô… Oi, Reh. Tô ligando pra avisar que vou chegar atrasada! — digo, apressando os passos entre os pedestres enquanto tento não tropeçar nesses malditos saltos.
— Menina, o senhor Bhener tá soltando fogo pelas ventas! — Renatta alerta do outro lado da linha.
— Ah, meu Deus, sério? Logo hoje o carro tinha que quebrar… Reh, tenta segurar as pontas por mim, sei que ele não é teu chefe, mas…
— Tudo bem, vou quebrar essa. Mas vem o mais rápido que puder, por favor…
— Valeu, amiga. Daqui a pouco chego aí. — Desligo e, ao ver um táxi se aproximando, grito: — Táxi! — estendo a mão e começo a mexer na bolsa pra guardar o celular. — Táxi! — repito, me virando para a rua.
E então… sinto algo quente escorrer pelo meu vestido.
Droga!
— Urgh! Me desculpa! — ouço uma voz rouca e masculina dizer.
Sério? Só pode ser um daqueles dias em que você acorda com o pé esquerdo.
Levanto os olhos para encarar o destruidor do meu vestido e… fico muda.
Totalmente. Sem. Reação.Eu deveria gritar, reclamar, protestar…
Mas não. Fico paralisada, encarando os olhos dele como se o tempo tivesse parado.
Aviador espelhado, uniforme de piloto, e um corpo… Jesus amado, isso não é um homem, é uma obra-prima. Deve ter uns 25 anos.— Tudo bem com você? — ele pergunta, franzindo levemente a testa.
Pisco e volto à realidade.
— É… Queria dizer que sim, mas… — aponto para a enorme mancha de café no meu vestido.
— Me desculpa mesmo. — Ele tira os óculos.
E é aí que tudo piora: os olhos dele são da cor do céu.— Se quiser, posso te ajudar a se limpar, ou...
— Não… Agradeço, mas tô super atrasada. — olho o relógio, o pânico crescendo. — Se eu não correr, vou perder o emprego.
— Então não vou atrapalhar mais. Foi um prazer te conhecer. E, mais uma vez, mil desculpas pelo vestido.
— Tá perdoado… — digo, tentando soar menos deslumbrada. — Táxi! — consigo finalmente um. Antes de entrar, viro-me para ele: — Foi um prazer te conhecer também, senhor piloto dos olhos azuis. — E sigo meu caminho, completamente atordoada.
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— Bom dia, Sr. Bhener. Me desculpe pelo atraso, é que meu carro quebrou e...
— Não quero desculpas, Myller. Não se repita. — ele me corta, pegando os documentos da minha mão com frieza.
— Sim, senhor. Não vai acontecer de novo. — coloco o restante das pastas na mesa dele, agradecendo mentalmente por Renatta ter deixado tudo separado.
— Preciso que mostre ao meu filho, Brenno, a sala dele assim que ele chegar.
— Seu filho? Que horas ele vem?
— Meio-dia.
Meio-dia? Mas esse é o meu horário de almoço!
Quase questiono, mas engulo as palavras. Sou estagiária. E estagiária não faz exigência.
— Algo mais?
— Não. Só isso.
Fecho a porta ao sair e encontro Renatta me esperando, de braços cruzados.

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Amor nas alturas
RomanceÉ uma história envolvente que acompanha a vida de Camilla, uma secretária recém efetivada que sente uma profunda saudade de seus pais que vivem na França. Em meio a essa saudade, ela cruza o caminho de Nathan Anthony, um comandante de aeronaves come...