Nove anos antes...
A mulher desesperada entrava aos berros no corredor do hospital seguindo o encalço de um jovem que carregava uma moça ensanguentada nos braços. Ela gritava em desespero descontrolado enquanto médicos corriam para socorrer a jovem que fora posta sobre a maca.
– Por favor! Ajudem... É minha filha! – A voz da senhora ecoou pelo corredor.
– Acalme-se, senhora! – Disse uma das enfermeiras enquanto a segurava impedindo que a mulher seguisse atrapalhando o trabalho de seus colegas.
– Meu Deus! O que houve com essa menina? – Outra enfermeira disse enquanto avaliava as condições da moça frágil que fora posta sobre a maca pelo rapaz que a trazia nos braços. – Chamem o doutor Taylor... Depressa e diga que a levei para a sala de cirurgia!
A menção daquele nome lhe causou calafrios. Ela ainda podia se lembrar de seu olhar desaprovador e severo de alguns dias antes. O olhar do homem que, à primeira vista, ela achara lindo!
As paredes brancas foram passando por seus olhos enquanto ela era transportada pelos corredores até uma sala ampla cheia de equipamentos. Havia, pelo menos, três enfermeiros a sua volta, mas a descrença em seus olhares não trazia conforto à dor que sentia.
A situação em que se encontrava era totalmente surreal. Tudo ocorrera tão rápido que ela ainda não conseguia acreditar que conseguira escapar. Ela ainda podia ver o brilho da faca e em seguida o golpe que se arrastou pela sua garganta de forma rápida.
– O que está havendo? - A médica loira se aproximou da minha maca e pode ver o exato momento em que seus olhos se arregalaram.
Seu semblante refletia o medo contido nos olhos da moça que tentou falar, mas não conseguiu porque suas forças foram totalmente drenadas e se esvaiam junto com o sangue que escorria pelo seu colo, manchando totalmente o soutien que ela vestia.
– Você me ouve? Se sim, apenas assinta! - A moça assentiu mostrando que estava consciente e que a entendia.
– Nós cuidaremos de você, não se preocupe! E, quando estiver melhor, você pode nos contar quem fez isso!
A jovem assentiu novamente concordando, porém com os enormes olho verdes brilhando de medo e pavor.
Ela não sabia dizer por quanto tempo permaneceu consciente enquanto os médicos contabilizavam os estragos. Ela apenas podia ouvir o horror na voz de cada um deles enquanto eles preparavam o material para começar a cirurgia. Ela pensava no por quê de estar viva e se conseguiria viver dali para frente quando uma das enfermeiras aplicou algo em seu braço. Sua mente foi ficando pesada à medida que a anestesia foi fazendo efeito. Uma, duas piscadas e tudo se tornou escuro...
***
Enquanto isso do outro lado da cidade...
O homem alto olhava para o ser deitado na cama da sala de recuperações do hospital e respirava fundo tentando entender como ela fora cometer um ato tão vil como aquele colocando sua própria vida em perigo. Ele avaliou seu rosto, agora sereno após ter passado por horas de dor. O rosto que um dia o impressionou por se mostrar tão feliz, doce e inocente... Que agora pertencia a um monstro capaz de quase tirar a própria vida por um motivo tão fútil!
Capaz até de acabar com o que restava da minha! O homem pensou.
Em seu trabalho, não cabia espaço para suicidas ou homicidas, e ele custava a acreditar no que ouvira quando chegara ao hospital horas antes. Ele ainda podia ouvir a notícia ecoando em seus ouvidos, como se fosse uma maldição recitada lentamente e lançada sobre sua cabeça. As palavras ainda lhe causavam dor!
Ele se levantou da poltrona no canto do amplo quarto e caminhou até a janela respirando profundamente. O homem alto que costumava ser gentil e amoroso estava agora cheio de dor e lamento em seu peito. Uma dor que, ele sabia, jamais desapareceria!
Ele fechou os olhos com força e apertou seus punhos ao se lembrar das palavras que seu pai dissera uma vez, que um dia ele se arrependeria amargamente por casar com aquela garota.
E ele estava certo!
Patrícia era, agora, seu único arrependimento e ele não entendia como tudo chegara aquele ponto. No início, eram flores e ela parecia amá-lo incondicionalmente, mas, depois de um ano de casados, tudo começou a mudar. Ele sabia o que tinha que fazer e pretendia não arrastar ainda mais algo que sabia que já estava perdido. Decidiu então encerrar aquela página de um livro que logo cairia em seu esquecimento... Assim ele esperava!
Ele fora até sua cama e lhe deu um beijo na testa. Virou-se caminhando até a porta. Antes de sair, contemplou pela última vez o rosto que agora era sereno e saiu sem olhar para trás novamente.
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Serie Destinos - Livro 02 - Segunda Chance (Degustação)
ChickLitA vida de Casey Williams foi marcada por desafios desde cedo. Após enfrentar traumas na infância e adolescência, foi criada pelos tios e passou dois anos no Canadá. Agora, após nove anos longe de Manhattan, retorna como a policial mais implacável da...