Deocleciana

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Quero que você seja minha,
assim mesmo:
com seu rosário,
sua ladainha,
a folhinha grudada na porta só armário.
O feijão temperado
com um ligeiro gosto
de queimado.
Sua alienação.
O insistente pudim de leite condensado.
O rolhinho de dinheiro
embaixo do colchão;
a peruca
em adiantado grau de descoloração,
que se pendura no meu taco de sinuca.
Como quadro,
o cartaz da Seleção.
Sabonete Palmolive
para uma grande ocasião
e o respingo
daquela loção de deus-me-livre
que você usa nas tardes de domingo.
Acho que aprendi a ser o movido
pelo seu olhar de mansidão,
pelo seu zelo inquestionado.
Por isso sou esse exemplo de marido,
valorosa raça em extinção,
cada vez que é dia santo.
Ou feriado.

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