Anfitrião 006

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HARRY.

- Merda! – Eu disse, jogando as cartas na mesa. Mickey, meu amigo mais recente, sorriu e puxou as fichas para si. – Faltava uma única carta! – Reclamei.

Os outros caras apenas riram e trocaram piscadelas como se eu não estivesse ali para ver.

A mudança da banca não me trouxe sorte nenhuma, e os resultados foram basicamente os mesmos.

- Caralho! – Reclamei de novo. Outro amigo recente, P.J., ganhou a mão. – Essa foi... Porra!

De início meus companheiros de pôquer tinham relutado em me deixar entrar no jogo. No entanto, quanto eu mais perdia, mais ganhava a simpatia deles. Impressionante.

Depois de três rodadas no prejuízo fiquei meio zonzo, comecei a achar que devia parar. Mas eles me incentivavam com palavras de apoio: "Deixa disso, cara, tá cedo pra jogar a toalha", diziam. Uns amigos-da-onça, isso sim.

Na jogada seguinte, quando Curtis aumentou a aposta, fui logo di­zendo:

- Pago. Quer dizer, passo. Não... pago. — Só parei quando Curtis lembrou que não era minha vez de jogar. E depois perdi de novo.

- Merda! – Exclamei ao constatar que P.J tinha blefado com um par de damas, fazendo com que eu passasse com uma trinca de dez na mão. – Essa eu mereci!

P.J. embolsou o resultado de sua vitória — em grande parte di­nheiro meu —, depois olhou para mim com uma expressão de mise­ricórdia e disse:

- Tu nasceu pra perder, amigo. É a força do destino, fazer o quê? Mickey recostou na cadeira e começou a assoviar a abertura da famosa ópera de Verdi, e todo mundo riu.

Fiquei impressionado com a cultura musical dos caras; aquelas horas todas diante da TV, assistindo aos desenhos da Disney, afinal tinham valido para alguma coisa.

Era a vez do Curtis dar as cartas. Mas àquela altura o efeito da bebedeira e da jogatina já pesava tanto em minha cabeça que eu mal podia me sustentar na cadeira. Será que o pânico estava evidente em meu olhar? Dei uma olhadela vaga em direção ao Curtis.

- Não vem com esse olhar de peixe, não. – ele advertiu. E re­mexeu na cadeira de modo que eu visse a arma enfiada na cintura da calça, a mesma semi-automática que eu tivera a oportunidade de examinar de perto algumas horas antes.

Suspirei fundo e olhei para as minhas cartas. Olhei para as minhas fichas – ou para a falta delas. Olhei para o buraco vazio sobre a mesa surrada onde antes estava o dinheiro que já não me pertencia mais. Eu estava em maus lençóis; pior, estava na lona e precisava de uma bela vitória se quisesse sair vivo daquele jogo.

Olhei para a porta. Ainda nenhum sinal de Lucky. Eu corria contra o tempo.

Suspirei outra vez e, lentamente, com o coração apertado, tirei do bolso do paletó a única esperança que ainda me restava: o cantil de prata.

Na superfície espelhada refletia-se o rosto de um pateta com cara de merda: o meu rosto. Sob o olhar dos outros jogadores, alisei lentamente a prata, como se ali estivesse uma lâmpada mágica. Mas infelizmente, nenhum gênio apareceu para salvar a minha pele.

Apertei o cantil contra o peito, dei-lhe um beijo de despedida e solenemente depositei-o na mesa.

- É prata pura. – Murmurei.

P.J. quis olhar de perto para se certificar. Viu a descrição e leu-a em silêncio, porém remexendo os lábios. Depois, afetando uma voz fina, disse em voz alta:

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⏰ Last updated: Apr 04, 2016 ⏰

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Sr. & Sr. StylesWhere stories live. Discover now