Vertigem

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Sua sombra projetava na sacada uma enorme figura negra. De lá ouvia os sons da cidade abaixo, via os carros trafegar sem rumo, a vida acontecer.
De lá, de onde pendia, via rostos e esboços. Esboços das vidas que nunca viveria.
Não queria sorrir ou chorar, para não admitir que sentia sua falta, ou que sabia o que um sorriso significava. Não queria sorrir, porque isto o lembrava dos momentos alegres ao seu lado, quando esperava que o dia não chegasse ao fim.
Mas a noite sempre vinha, cedo ou tarde, regra. A noite estava sempre à sua espera.
Não queria pensar no seu sorriso ou seus cabelos esvoaçantes no vento gélido de outono. Talvez aquilo o trouxesse de volta. Não queria voltar. Não queria vê-la nem com a mente, pois tal ato o daria esperança de vê-la novamente.
Ele não queria sentir por ela mais que ódio, o disfarce do amor.
Amou-a. Deixou-a. Arrependeu-se.
Chorou. Agora queria ser frio como o ferro onde encostava-se, como o vento que cortava-lhe o rosto, e enchia seus pulmões da noite silenciosa.
Sim, pois os sons que vinham debaixo nada mais eram que ruídos. O som do silêncio de seu interior era mais alto - nele gritos se perderam.
Gritos do maldito nome! Maldita oração demoníaca!
E não queria imaginar seus olhos castanhos sob o luar, pois o céu a traria de volta a ele. As estrelas eram o brilho daquele olhar. E o manto noturno era bênção daqueles beijos.
Amou-a. E não a esquecera.
Deixou-a ir, mas agarrara-se a ela, ou o que restava dela em sua mente consumida pela vertigem, do chão a se aproximar.
Agarrara-se a ela. Mas era enganação. Era truque de um coração, que decidira morrer porque cansara de amar.

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⏰ Última atualização: Apr 05, 2016 ⏰

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Vertigem - Amores Fatais (Contos)Onde histórias criam vida. Descubra agora