A verdadeira Ariel

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No lugar mais profundo do mar, se encontra o castelo do rei, lá ele vive com suas seis filhas e sua mãe que tomava conta de tudo, inclusive das princesinhas. Elas ficavam o dia todo brincando no castelo e ouvindo histórias de sua avó sobre o mundo superior. Quando elas completassem quinze anos, era dada a permissão para que elas pudessem ir à superfície e se sentar nos rochedos à luz do luar, para ver os grandes navios passarem.

Cada uma das irmãs era um ano mais nova que a outra, então a mais jovem teria que esperar cinco anos para chegar sua vez.

No ano seguinte a primeira irmã foi descobrir o que tem na superfície, e chegou com muitas novidades para contar às outras. E assim foi uma à uma. A mais curiosa era a que precisava esperar por mais tempo, mas enfim sua vez chegou.

Quando subiu lá, o sol acabara de se pôr, mas as nuvens ainda estavam tingidas de carmesim e ouro. Um grande navio de três mastros estava à deriva na água, com apenas uma vela içada porque o vento estava brando. Ela podia ver através do vidro transparente uma quantidade de homens magnificamente trajados. O mais belo deles era um jovem príncipe, com grandes olhos escuros.

De repente começa uma tempestade, e o barco não aguentando a força do mar, acaba se partindo, fazendo com que os marinheiros caiam no mar e morram afogados. A sereiazinha sai a procura do belo jovem, e acaba o encontrando desmaiados e o leva à superfície. Quando chega à praia dá-lhe um beijo no rosto e o deixa na areia da praia bem a tempo, pois as portas de um templo sagrado que havia ali perto se abrem, e uma bela moça sai e encontrando o rapaz desmaiado, corre desesperada procurando por ajuda.

A sereiazinha então volta para as profundezas do mar de coração partido, pois aquele a quem ela amava nem sequer sabia de sua existência. Ela permaneceu um tempo em silêncio, e ao contrário de suas irmãs, não quis compartilhar sua experiência na superfície, mas por fim acaba revelando o que fez, e uma das irmãs conhecendo o príncipe, acaba levando-a para a superfície, afim de mostrar onde fica seu castelo. E lá a sereiazinha passava todas as noites, em algumas delas até podia ver o belo príncipe.

Como já não sabia mais o que fazer, foi conversar com sua avó.

Vejam o diálogo, achei bem interessante:

"- Quando não se afogam - perguntou a Pequena Sereia -, os seres humanos podem continuar vivendo para sempre? Não morrem como nós, aqui embaixo no mar?
- Sim, sim - respondeu a velha senhora. - Eles também terão que morrer e seu tempo de vida é mais curto que o nosso. Nós por vezes alcançamos a idade de trezentos anos, mas quando nossa vida aqui chega ao fim, simplesmente nos transformamos em espuma na água. Aqui não temos túmulos daqueles que amamos. Não temos uma alma imortal e nunca teremos outra vida. Nós somos como o junco verde. Uma vez cortado, cessa de crescer. Mas os seres humanos têm almas que vivem para sempre, mesmo depois que seus corpos se transformam em pó. Elas voam através do ar puro até chegarem às estrelas brilhantes. Assim como subimos à flor da água e contemplamos as terras dos seres humanos, assim eles atingem belos reinos desconhecidos - regiões que nunca conherecemos.
- Então estou condenada a morrer e flutuar como espuma do mar, a nunca mais ouvir a música das ondas ou ver as lindas flores e o sol vermelho? Não há nada que eu possa fazer para conquistar uma alma imortal?
- Não - disse a velha senhora. - Só se um ser humano a amasse tanto que você importasse mais para ele que pai e mãe. Se ele a amasse de todo o coração e deixasse o padre pôr a mão direita sobre a sua como uma promessa de ser fiel e verdadeiro por toda a eternidade. Nesse caso, a alma dele deslizaria para dentro do seu corpo e você, também, obteria uma parcela da felicidade humana. Ele lhe daria uma alma e, no entanto, conservaria a dele próprio. Mas isso jamais acontecerá. Sua cauda de peixe, que achamos tão bonita, parece repulsiva à gente da terra. Sabem tão pouco sobre isso que acreditam realmente que as duas desajeitadas escoras que chamam de pernas são belas. "

A sereiazinha foi então procurar a feiticeira, para ver se havia alguma forma de se encontrar com o príncipe. O lugar onde mora a feiticeira é horripilante, tem até pólipos que agarram e estrangulam o que encontram pela frente, inclusive humanos que se afogaram e até mesmo sereias.

A feiticeira sabe o desejo da jovem antes mesmo dela lhe falar. Ela queria pernas para poder se encontrar com o príncipe e assim tentar fazê-lo se apaixonar por ela. Mas para tudo precisa de sacrifícios: a moça conseguirá o que deseja, terá suas tão esperadas pernas, mas o processo doerá muito, como se uma espada a cortasse, ela será a "humana" mais bonita que todos já viram e seus pés vão deslizar graciosamente numa dança, mas cada passo que der a fará sentir como se estivesse pisando em uma faca afiada, o bastante para fazer sangrar seus pés. A princesa também não poderá mais voltar para sua família e se por acaso o príncipe se casar com outra, ela virará espuma do mar. E além disso tudo, a sereiazinha terá que dar para a feiticeira o que ela tem de mais belo: sua voz.

Mas assim foi feito. A feiticeira preparou a poção e quando a jovem a bebeu sentiu como se uma faca de dois gumes a cortasse ao meio, então acaba desmaiando de tanta dor e quando acorda bem diante de seus olhos encontra o lindo príncipe. Ele a pegou e levou ao seu palácio e cada passo que ela dava era uma dor insuportável.

No castelo lhe deram roupas lindas e ela encantou a todos com sua dança, como se flutuasse no ar apesar da dor que sentia. O príncipe a chamava de minha pequena desamparada e não queria se separar dela. Mas o príncipe a via como uma pequena criança, jamais pensou em torná-la sua rainha, e para tudo dar certo, isso precisava acontecer.

O príncipe acaba lhe contando que não consegue mais viver sem ela, que ela é muito importante e também acaba revelando que só poderia amar uma única mulher, aquela que o salvou do naufrágio, aquela que chamou por ajuda e o príncipe acredita que foi ela que salvou sua vida e não a jovem que está diante de seus olhos.

Um belo dia o príncipe vai à outro reino à pedido de seus pais para conhecer uma princesa e quem sabe se casar com ela, mas o príncipe não quer isso, ele quer casar por amor. Mas ao chegar ao outro reino, se depara com a moça que ele acredita que tenha o salvado. A sereiazinha fica com o coração despedaçado, pois seu casamento significa a morte dela.

O casamento então acontece, e depois de muita festa os noivos vão se deitar. A jovem sereia fica a admirar o céu, sabendo que ao primeiro raio de sol ela morrerá. Ao longe consegue ver suas irmãs, mas seus longos e belos cabelos não mais ondulavam ao vento, elas haviam cortado e dado à feiticeira, e em troca conseguiram um punhal. Se a sereiazinha cravasse o punhal no coração do príncipe, ela não morreria e poderia ter sua calda de volta e voltar para o fundo do mar.

Como seu amor jamais permitiria tal atrocidade, a sereiazinha se joga no mar à espera de sua morte, mas não ocorre como ela esperava. Ela viu o sol esplendoroso e, pairando ao seu redor, centenas de criaturas adoráveis. E a voz delas era a voz da melodia, embora etérea demais para ser ouvida por ouvidos mortais, assim como nenhum olho mortal poderia contemplá-las. Não tinham asas, mas sua leveza as fazia flutuar no ar. Eram as filhas do ar, que lhe disseram que uma sereia não possui uma alma imortal, e jamais pode ter uma a menos que conquiste o amor de um ser humano. A eternidade de uma sereia depende de um poder que independe dela. As filhas do ar tampouco têm uma alma eterna, mas podem conseguir uma através de suas boas ações. Devem voar para os países quentes, onde o ar pestilento significa morte para os seres humanos. Devem levar brisas frescas. Devem espalhar a fragrância das flores através do ar e enviar consolo e cura. Depois que tiverem praticado todo o bem que podem em trezentos anos, elas podem conquistar uma alma imortal e terão participação na felicidade eterna da humanidade. A sereiazinha se junta a elas, e depois de trezentos anos, ela também poderá ganhar um alma imortal.

A jovem dá uma última olhada para seu amado e segue as filhas do ar, que flutuarão por trezentos anos, até finalmente chegarem ao reino celestial e elas podem alcançá-lo ainda mais cedo, pois invisíveis, flutuam para dentro de lares humanos em que há crianças, e para cada dia que encontrarem uma boa criança, que faz merecer o amor dos pais, Deus abrevia seu tempo de sofrimento. A criança nunca percebe quando elas voam em seu quarto e sorriem com alegria, e assim um ano é reduzido dos trezentos. Mas quando elas veem uma criança perversa ou maldosa, então, derramam lágrimas de dor, e cada lágrima acrescenta mais um dia ao seu tempo de provação.

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