1 - Os Monstros Existem

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   Sonhos. Sonhos são ótimos, mas não quando não os entendemos.
   Eu estava sentada no topo de uma colina. Uma mulher estava sentada ao meu lado. Ela tinha cabelos ondulados, pretos como o carvão. Olhos azuis intensos que analizavam as pessoas. Uma pele pálida. Os lábios com um tom avermelhado. Ela vestia um vestido longo, branco com detalhes em dourado.
   Eu era quase idêntica a mulher, os mesmos olhos azuis, os lábios, cabelo, exceto o meu nariz, que era um tanto arrebitado, meu nariz era como o nariz da Narizinho do Sítio do picá-pau amarelo.
  - Estou orgulhosa de você, Morgana. - diz ela. - Você foi uma excelente guerreira.
   Queria saber do que ela estava falando, mas antes que eu consiga falar alguma coisa, escuto uma voz um pouco longe, com certeza era a do meu pai no fundo da minha cabeça.
  - Mogana, acorda! - ouço a voz de meu pai novamente, dessa vez mais próxima. Em seguida sinto o choque térmico da água gelada se chocando contra meu corpo.
   Acordo, e a primeira coisa que vejo é a expressão de felicidade no rosto do meu adorável pai. Respiro fundo e digo com a mais possível calma que consigo:
  - Pai, é sábado, de manhã e você me acorda desse jeito! Você por acaso me odeia?!
  - Óbvio que não meu Moranguinho. Você sabe que eu te amo.
  - Ok. - digo esfregando as mãos nos olhos. - Mas diga logo o que você quer.
   Seu sorriso se desfez. Seu rosto assumiu uma cara séria.
  - Eu tenho uma notícia importante para falar a você e seu irmão. - então sem dizer absolutamente nada, meu pai sai do quarto levando outro balde consigo.
   Levanto da minha cama que antes estava quentinha devido ao meu corpo, - e agora está molhada e gelada - e me apresso em ir para o banheiro e tomar um banho quente. Sem querer, me pego novamente pensando em como a data do meu aniversário é próxima ao de juca, ele é apenas cinco meses mais velho que eu. E nosso pai sempre nos disse que as nossas mães não eram as mesmas. Ou seja, eu penso que meu pai ficou com duas mulheres ao mesmo tempo, e as engravidou. Mas isso não é do feitio dele. Mas essa é a única explicação.
   Deixo de lado meus pensamentos e saio do chuveiro.
   Coloco uma calça jeans preta, uma blusa branca e meu velho All Star preto.
   Antes de sair do meu quarto olho para a cada móvel e vejo, recostado, ali, meu arco e flecha.
   Hoje seria um ótimo dia para praticar, penso. O clima estava realmente ótimo. Estivéssemos no outono, - embora eu prefira o inverno - o clima frio estava muito bom.
   Desci as escadas aos pulinhos.
   Meu pai estava na mesa lendo um jornal enquanto bebia uma caneca de café preto. Eu sinceramente não sei qual é a graça de beber café preto. 
  - Cade o Juca? - pergunto, mas não obtenho resposta.
   Os dedos de meu pai tamborilavam agitadamente sob a mesa. Tem algo de errado, penso, ele não age assim. Preocupado.
   Mal tenho tempo de sentar a mesa que Juca entra na cozinha, ainda de pijama. Percebo que seus oculos estavam tortos.
   Os poucos raios de sol que passavam pela janela se chocavam com os olhos castanho-escuro de Juca, deixando-os da cor do mel.
  - Bem, - começa meu pai. - agora eu posso falar. Eu vou ter que viajar por dez meses e vocês vão ter que ir estudar em um colégio interno.
   Por um momento esqueço que tenho que respirar. A notícia vem como um raio em direção a mim.
  - O que!? - eu e Juca falamos ao mesmo tempo.
  - Pai, você não pode nos trocar de escola, assim, do nada. - diz Juca.
  - Não é do nada. - parto em defesa do nosso pai, mas ao mesmo tempo contra ele também. - mesmo contra a minha vontade.
  - Morgana! Você concorda com isso?
  - Óbvio que não. Mas nem o nosso pai tem escolha!
  - Ah! Esquece. - então Juca sobe as escadas furioso.
  - Filha? - Ouço a voz de meu pai ecoar entre milhões de pensamentos na minha cabeça.
  - Sim?
  - Obrigado por entender.
  - Não é culpa sua, nem de Juca. Você presisa trabalhar. E nós não temos com quem morar por esses dez meses. - eu estava encarando minha caneca de café, vazia, como se ela pudesse resolver essa situação.
   Sua mão gelada pousa sob a minha mão.
  - Conversa com o seu irmão depois? Por favor. - ele pede.
   Concordo com a cabeça.
  - Mas mudando de assunto, quando a gente vai pra lá? Quero dizer pra esse colégio interno. - pergunto. Não queria continuar esse assunto.
  - Amanhã.
   A resposta vem como um tapa. Engulo em seco.
  - Ok.
   Termino meu café em silêncio, e em seguida subo em direção ao quarto de Juca.
   Bato na porta.
  - Entra!
   Abro a porta cautelosamente. Como se um monstro estivesse a minha espera, e não meu irmão - embora ele se assemelhava muito a um quando estava bravo com alguma coisa.
  - A culpa não é do nosso pai. - vou direto ao ponto. - Não é de ninguém.
  - Eu sei, mas... - ele não termina a frase.
  - Eu também não queria me despedir dos meus amigos - com se eu tivesse muitos.
   Juca alivia a expressão. Ele entendeu. 
  - Depois eu converso com ele. Pode ser? - diz ele.
  - OK. - apertamos as mãos como forma de selar esse acordo - mesmo que ele seja algo tão simples - e como forma de finalizar, bagunço seu cabelo castanho.
   Saio do quarto de juca e ando em direção ao meu quarto. Pego meu arco e flecha e vou em direção a um dos meu lugares preferidos. Minha pequena floresta. Meu pequeno mundinho.

                      * * *
   Não demora muito para eu chegar no parque.
   Observo os casais com filhos, ou pessoas sozinhas mesmo, sentadas em bancos de madeira.
   Um grupo de idosos havia se reunido em volta de uma mesa de cimento, lá acontecia um partida de xadrez com um idoso e uma garota de mais ou menos 12 anos. Tudo estava tão calmo. Era uma sensação que eu me permitia desfrutar as vezes. As vezes minha casa parecia um furacão em movimento. Então, eu vinha para o parque.
   Mas por algum motivo, eu não me sentia segura, parecia que algo estava prestes a acontecer. Largo meus pensamentos em uum canto calmo da minha cabeça e entro na floresta.
   Minha floresta. Bem iluminada, com árvores altas, aves se equilibrando em galhos tão frágeis que parecem que vão quebrar.
   Começo meu treinamento acertando flechas em pêssegos no chão que estavm a uma distância suficientemente grande. A cada flecha que eu acertava, fazia os pêssegos saírem rolando. Eu acertava em alvos aleatórios, como as árvores, depois de alguns minutos elas ficavam parecendo um porco-espinho.
   Acabo lembrando de quando eu ganhara meu arco. Meu pai veio com a história de que eu deveria praticar algum tipo de atividade. Então, bum! Acabei fazendo aula de arco e flecha. De começo eu não queria, mas acabei me apaixonando pelo arco e flecha.
   Passo mais algmas horas na floresta, até me assustar com o toque do meu celular. Era meu pai.
  - Alô, pai. - atendo.
  - ONDE VOCÊ ESTÁ, MORGANA?
  - No parque. Por quê?
  - Você tem ideia de que horas são?
  - Não.
  - Já são sete horas da noite e você ainda não está em casa. Pode vindo pra casa agora. - então ele desliga o celular na minha cara sem ao menos me dar a chance de esplicar.
   Olho para o céu e vejo que realmente já havia escurecido, mas não por completo. Ainda se podia ver alguns raios de sol.
   Começo a catar as minhas flechas. Não fora um trabalho fácil, afinal, os pêssegos saíram rolando pra longe demais.
   Quando finalmente termino, coloco a aljava e o arco nas costas e caminho em direção a saída, mas paro abruptamente quando ouço passos agitados atrás de mim, mas não eram bem passos humanos, era como se um inseto gigante estivesse correndo sob as folhas. Olho para trás para ver quem era, mas não vejo nada. Volto meu corpo para frente e me deparo com duas aranhas gigantes. Perdi o ar naquele momento.
   O que é isso.

Morgana E O Despertar Dos PrimordiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora