Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo. As criaturas eram horríveis. Tinha mais ou menos quatro metros de altura. O corpo era de uma aranha normal, mas no lugar onde deveria ter uma cabeça, tinha o corpo de uma mulher, como se tivessem cortado a mulher ao meio e grudado no lugar da cabeça da aranha. Na cabeça onde deveria haver o cabelo, havia fogo. Uma chama que chegava à ter trinta centímetros. Suas peles eram revestidas com um pequeno pelo ralo, vermelho como o sangue. Uma delas, a maior, tinha cicatrizes no rosto. Essa deve ser a líder, deduzi.
- Então conseguimos te encontrar a tempo, pequena criaturinha. - diz a suposta líder.
O que? Criaturinha?
Não pensei duas vezes, saí correndo para o lado direito. Elas também saíram correndo atrás de mais mim. Esbarrei entre as árvores na tentativa de fugir, mas sou agarrada pelo pé por uma das aranhas. Me de bato no chão até conseguir chutar a cara da que agarrava meu pé, isso foi o suficiente para ela me soltar.
Quando finalmente consigo me levantar novamente, mas - infelismente - tombo com uma delas. É a líder. Sinto os pelos do monstro como se fossem agulhas penetrando em minha pele. Olho para minha pele, e vejo em alguns lugares pequenas gotas de sangue brotarem dos minúsculos furos causados do pelo da criatura. Não demora muito e começo a me sentir tonta. Minha visão fica embaçada. Tenho um imenso trabalho para conseguir respirar. Não eram apenas pelos, eram venenos. Não consigo me aguentar em pé então desabo no chão. É agora. Vou morrer.
Espero o ataque final, mas algo detém os monstros. Uma flecha. A líder olhava assustada para a flecha na outra aranha.
No local onde se localizava a flecha, começara a sair um tipo de fumaça preta, então puf! O monstro se transformou em em uma fumaça preta, até não ter mais nada.
- Irmã! - lamentou-se a outra aranha.
Olho com dificuldade na direção de onde veio a flecha. Um garoto alto, de cabelos pretos e olhos castanhos...não, olhos azuis.
- Aguarde, pequena criaturinha, - o monstro avisou-me - eu vou voltar. - então ela saiu ocorrendo até sumir entre as árvores. O garoto tentou acertá-la novamente, mas falhou.
Ele larga o seu arco e corre até mim, mas acabo fechando os olhos e tudo se apaga.* * *
Quando acordo, vejo que estou no meu quarto. Meu pai estava ao meu lado e o garoto que me salvara dos monstros estavam no meu quarto. Ele era a prova viva de que nada foi um sonho. Eu realmente havia sido atacada por monstros - que de acordo com a ciência, não deveriam existir.
O que está acontecendo?
Meu pai percebe que eu havia acordado.
- Filha! - seu abraço fez meu corpo doer.
- Pai, tá doendo. - reclamo.
- Ah, sim, me desculpe.
O garoto que estava encostado no meu armário vem até mim.
- Meu nome é Lucas, e você e o seu irmão tem que vir comigo para o Vilarejo Lua-Azul.
Quase solto uma gargalhada. Vilarejo? Isso é alguma brincadeira? Mas com certeza, Lucas não estava brincando.
- O que é isso? E por que eu tenho que ir pra lá? - pergunto a Lucas.
- Lucas vai te explicar melhor tudo isso. - meu pai intervêm. Ele estava sério.
O garoto limpa a garganta, como se ele fosse algum daqueles caras que entregam prémios, ou algo do tipo.
- É o seguinte, você e seu irmão são filhos de alguma Primordial, isso os torna Filhos de Primordiais. Mas agora, pra própria segurança dos dois, eu e mais alguns amigos meus, vamos levar vocês para o Vilarejo Lua-Azul, onde serão treinados para sobreviver aos ataques de monstros.
Olho para meu pai, procurando uma resposta de que àquilo tudo era mentira. Eu não queria parecer uma criança pequena que faz birra por não querer fazer o que pedem. Então a minha única escolha era acreditar naquela maluquice toda e encarar os fatos.
- Pai, e você? Vai ficar seguro? - pergunto-lhe.
- Moranguinho, não se preucupe comigo. OK? - diz papai.
- OK. Mas... - olho de relance para Lucas. - Lucas, você pode sair pra eu conversar com o meu pai?
Por um momento ele pareceu surpreso, mas assentiu com a cabeça e saiu do quarto. Olhei para meu pai.
- Você não ficaria com duas pessoas ao mesmo tempo, muito menos engravidaria duas pessoas ao mesmo tempo.
Minhas palavras o surpreenderam.
- Filha, escute, - algumas lágrimas começavam a cair dos seus olhos. Isso me deixava com medo de sua resposta - eu não sou o seu verdadeiro pai, mas eu a aceitei como minha legítima filha.
Meu queixo caiu. As palavras vieram tão rapidamente que eu não estava conseguindo processar tudo.
- Eu queria ter te contado isso antes, mas... - sua voz vacila - Eu não consegui. Me perdoe.
- Pai, - tento ao máximo não chorar - não importa se você é ou não o meu pai, eu te amo e isso nunca vai mudar. Foi você quem me criou, como um verdadeiro pai.
Ele me abraçou forte. Não reclamei da dor que estava sentindo. Eu queria que o momento permanecesse.
Mas, - como sempre - a curiosidade me venceu, então pergunto:
- Quem é o meu pai? E por quê ele não me quis? Ou seja lá o que for.
Meu pai dá um longo suspiro.
- O seu pai se chamava Miguel. Ele era um amigo meu, nós éramos quase irmãos. - ele dizia no passado. - Quando a gente foi à um evento, eu conheci a mãe de Juca, e Miguel, sua mãe. Com o tempo, nasceu primeiro o Juca, e depois você. Mas acabou que Miguel sofreu um acidente de carro, e...ele morreu.
Eu não sabia como agir diante dessa situação. Não consegui sentir nada. Acho que era por causa de que eu nunca convivera com Miguel tempo suficiente para sentir alguma coisa por ele. O máximo que senti por ele foi uma leve tristeza.
- Vocês sabiam que elas eram Primordiais? - pergunto.
- Sim. Mas foi depois de nós às conhecer melhor. Elas nós avisaram que era perigoso ter um filho, mas vocês já tinham nascido, e mesmo assim eu e Miguel assumimos os riscos. Mas então ele morreu, e eu resolvi te assumir como minha filha.
Eu realmente não sabia como agir diante disso. Queria ficar sozinha, mas eu não podia, eu tinha que pegar minhas coisas e me mandar para esse tal Vilarejo Lua-Azul.
- Eu preciso arrumar minhas coisas. - digo.
- Filha, você me perdoa?
Consigo mostrar um sorriso meigo.
- Claro que sim, pai. - mas eu ainda queria saber de mais uma coisa - Quem era a tinha mãe?
- Eu...não posso falar, são ordens. Me desculpe.
Não o culpo, mas eu queria saber quem era a minha mãe. Mas como sempre diz Juca: não se pode ter tudo na vida.
Antes de sair, meu pai me abraça uma última vez. Foi como uma despedida.
Tomo um banho rápido, coloco uma calça jeans, uma blusa e meu All Star. Não perdi muito tempo arrumando minhas coisas na mochila. Fico feliz quando vejo meu arco encostado na minha mesinha de cabeceira. Pensei que Lucas tinha o deixado na floresta quando me levou de lá.
Pronto. Começo uma pequena lista mental de tudo que eu precisava. Tudo certo.
Desci as escadas, mas me surpreendo com quem vejo. Reconheço seus cabelos ruivos como o fogo. Os olhos castanho-mel. Como sempre, ela estava com sua touca preta, que a deixava com cara de pessoa perigosa. Bianca me olhava fixamente. Eu não estava conseguindo ler sua expressão.
- Bianca? - digo.
- Oi, Morgana. - ela me comprimenta com um breve sorriso.
- Você também é filha de algum Primordial?
- Sim. Da Savana. Primordial dos animais.
Olho para as outras duas pessoas que eu não conhecia. Um garoto e uma garota. Bianca acompanha meu olhar.
- Ah, esse é o André. - ela aponta para um garoto de cabelos loiros e olhos azuis que pareciam passar vários volts de eletricidade.
- Oi. - diz André.
- Oi. - digo.
- E essa é a Renata. - Bianca aponta para uma garota de cabelos ondulados, de coloração castanho-escuro. Seus olhos pareciam duas esmeraldas de tão bonitos que eram.
- Oi. - diz Renata com um sorriso tão grande que chegava a parecer o Coringa.
- Oi. - Repito o comprimento. - Como a gente vai para o Vilarejo Lua-Azul?
- A gente esqueceu de te avisar, - diz Bianca - é que a nossa carona pro acampamento só passa em lugares específicos. Então nós temos que ir pra nossa escola, ou melhor dizendo, para o colégio interno que você e o Juca iriam.
Eu não conseguia me surpreender com mais nada. Depois de tudo que vida hoje, não dúvida ria se me dissessem que os E.Ts existem e que em breve eles viriam para a Terra escravizar os simples e desajeitados seres humanos.
- Então vamos. - diz Juca (só agora reparei a sua presença. Grande irmã que eu sou).
- Eu levo vocês no meu carro. - diz meu pai.
Partimos em direção ao carro do meu pai. Ficou um pouco apertado com todo mundo, mas coube.
Refleti sobre a minha vida inteira. Agora tudo faz sentido do por quê meu pai ter me feito fazer aula de arco e flecha, ou Juca ter sido obrigado a fazer esgrima, - mas ele também acabou gostando do Robbie - ele queria que nós tivéssemos uma garantia de sobrevivência nesse novo mundo de Primordiais, monstro e acampamentos.
Agora fazia sentido Bianca sumir quase o tempo todo. Ela era filha de uma Primordial. Fazia sentido o meu aniversário ser tão próximo do Juca.
Eram pequenos detalhes. Que eu deixei que passassem desapercebidos, como se não fosse nada demais.
Mal percebo quando estacionados na frente do portão do Colégio Interno.
- Cuidem da minha filha e do meu filho. - diz meu pai.
Todos assentem com a cabeça.
Meu pai abraça eu e Juca ao mesmo tempo, como se não fosse mais nos ver - e de certa forma, não sabíamos quando o veríamos de novo. - Então vai embora. Observo seu carro sumir em uma esquina.
Volto meu olhar para o portão grande e pesado de metal preto a nossa frente.
O colégio parecia um castelo, na forma de um "U" de pontas retas. Infinitos números de janelas e varandas. Pequenas torres se erguiam no telhado. As paredes tinham a cor laranja fosco (pelo menos o laranja é fosco. Não suporto laranja). O telhado era cinza, mas parecia que haviam jogado poeira em cima dele. O jardim estava com várias folhas secas no chão, isso por causa do outono. Mas memo assim, era muito bonito de se ver.
- Vamos entrar, a diretora Clara já deve estar nos esperando. - diz Renata.
Queria perguntar quem era Clara, mas não acho que eles gostariam de ficar respondendo minhas perguntas irritantes a cada cinco minutos.
Andamos pelo colégio até chegara à uma sala com a porta entreaberta.
Entramos na sala (que por sinal tinha uma decoração de dar inveja). Lá, sentada m uma cadeira lendo um livro, estava uma mulher de cabelos pretos, curto, estilo chanel. Ela tinha uma aparência cansada, como se um estivera resolvendo um problema que a tivesse desgastado.
Ela levantou os olhos de seu livro, revelando olhos castanho-escuro, e diz:
- Que bom que vocês consguiram chegar. - seu sorriso estava de orelha a orelha. Mas então ela olho para Juca e eu. - Vocês são o Juca e a Morgana, filhos do Otávio? Não é?
- Sim. - eu e Juca dizemos juntos.
- Então está bem. - Clara parecia ter tirado um peso de cima dos ombros. - André, Lucas, Bianca e Renata, vocês podem me deixar à sós com a Morgana e o Juca?
- Claro. - eles responderam juntos, para então saírem da sala, deixando eu e Juca a sós com a diretora Clara.
- Eu queria entregar-lhes o presente de cada um de vocês. São dos seus pais.
- Espera, você conhece os nossos pais? - Juca interrompe.
- Sim. Mas não posso falar. Vocês tem que provar que são dignos de serem reconhecidos como filhos deles.
O que? Como assim "dignos"? Já não basta isso tudo? Agora eu tenho que provar o meu valor para a minha mãe!
- Aqui estão. - Clara nos entregou dois... Lápis? Mas não eram bem lápis, pareciam mais uma varinha de vinte centímetros. A minha varinha/lápis, era de vidro azul escuro. A do Juca era de metal, com pequenos riscos em azul escuro. - Quando vocês desejarem, a varinha vai virar uma espada.
Desejei e então a varinha tremeluzioue e em um piscar de olhos a varinha se transformou em uma espada de vidro azul escuro cintilante. O cabo era de coberto com fitas de couro.
Como se lesse meus pensamentos, Juca também teve a sua varinha transformada em espada. Sua espada era de prata, reluzente. Pequenos riscos de coloração azul enfeitavam sua espada. Sua espada também tinha um cabo de couro.
É estranho chamar uma espada de varinha. É um nome estranho para uma espada.
- Como faço pra ela voltar a ser uma varinha? - pergunta Juca.
- Apenas deseje. - responde Clara com doçura na voz.
Novamente, desejei, e a espada voltou a ser uma varinha.
- Agora vocês podem ir dormir. - novamente, Clara responde com doçura na voz.
Eu e Juca concordamos com a cabeca e saímos da sala. Mas apenas para dar de cara com Bianca, Renata, André e Lucas. Suas expressões eram de curiosidade.
- Vamos? - sugere Renata.
Mais uma vez, concordo com a cabeça. Não estava a fim de conversar. Eu estava cansada, com sono, meu corpo ainda doía e, o mais importante de todos, eu estava MORRENDO DE FOME.
Passamos por mais alguns corredores ate chegar a um corredor onde onde - em anos os lados - dava acesso a três corredores.
- Tchau garotos. Vejo vocês amanhã de noite. - diz Renata. Demorou alguns segundos para eu me tocar de que eles estão da nossa ida para o acampamento amanhã de noite. Como eu pude esquecer isso? Eles ficaram falando a viagem inteira sobre esse assunto.
Segui Renata e Bianca pelo terceiro corredor a direita até chegarmos a uma das portas do corredor. Abro a porta e vejo um enorme quarto. Paredes de cor branca, com poucos e pequenos detalhes em roxo. Parede de mais ou menos três metros, junto com uma janela e uma varanda de vista incrível. Um enorme tapete fofo de cor creme enfeitava o chão. Três camas de solteiro. Havia outros moveis de decoração também - uma enorme estante para livros, uma escrivaninha e um enorme guarda-roupas.
Me apresso em deitar em uma das camas. Eu estava morrendo de cansaço. Bianca e Renata imitam o gesto e se jogam nas outras duas camas.
Coloco meu pijama e vou dormir. Amanhã tenho aula. Meu disfarce só vai durar até amanhã, depois, livre!

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Morgana E O Despertar Dos Primordiais
AbenteuerMorgana e seu irmão descobrem ser filhos de Primordiais. São perseguidos por monstros até conseguirem chegar ao Vilarejo Lua-Azul, o único lugar em que Morgana e os outros vários Filhos de Primordiais podem estar seguro. Mas com o tempo descobre que...