Prológo

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Já se passava da meia noite, e lá fora já estava um breu. Eu levanto o velho lençol pendurado na janela de madeira que serve como cortina, e observo algum sinal de vida lá fora. Ninguém em sã consciência sairia à noite. Mas aquela noite era diferente. Era noite em quem os guias iriam nos buscar, para grande viagem de nossas vidas.

Eu olho na janela novamente, e vejo dois faróis de um carro em movimento acesos, abaixo o lençol, e eu e minha irmã ficamos em si­lêncio. Espero a mini van estacionar em frente a minha velha casa. Um homem com a arma em mão desce do carro, e se aproximou da porta. Em sua outra mão ele segura uma lanterna.

Ele olha pelo buraco da porta, posiciona a lanterna e ilumina o local. Os seus olhos se encontram com o meu. Mesmo ele já sabendo que, eu estou ali, eu o espero chamar pelo meu nome, para eu ter certeza que eles realmente eram os caras que vieram nos buscar.

Assim que ele anuncia o meu nome e de minha irmã, eu coloco minha mochila em minhas costas, e é claro escondo uma arma em meu cinto, minha regata longa e folgada cumprirá o trabalho de escondê-la. Minha irmã faz o mesmo. Apago a vela, e vou de encontro a eles. Abro a porta e quando saímos, tenho o cuidado de trancá-la com cadeado. Invasores são freqüentes por aqui. Olho para trás, e dou uma última olhada na minha velha casa. Uma das ruínas que restou da antiga cidade chamada São Paulo. Provavelmente será a última vez que eu irei vê-la.

Entramos na van, e nela já havia alguns passageiros dentro, entre eles viajantes e guias. Os guias se encontravam armados, e falar era proibido dentro da van.

A van seguiu por uma estrada de chão floresta adentro. Apesar de passar bastante tempo na floresta, eu nunca tinha visto esse caminho antes. Depois de algumas horas de viagem o guia estacionou o carro, e pediu para que desçamos. Quando pisei meu pé fora do carro, eu vi o inicio do deserto, a escuridão que estava ali, era ainda mais assustadora que a da minha cidade. A noite parecia mais escura vista daqui.

Até esse ponto é tudo liberado para a nossa passagem. Não existem soldados nos impedindo que iniciemos a travessia, mas não é certo que chegaremos até o final.

Os guias nos deixam, e apenas um deles fica. Um rapaz alto, um pouco magro, cabelo negro liso. Os seus olhos são grandes e castanhos, ele parece se incomodar quando eu observo. Em sua cabeça uma lanterna se encontra presa por uma fita, a luz que emana dela ilumina uma boa parte do local onde nos encontramos.

Os outros guias seguem pelo mesmo caminho que viemos. Agora nós teremos que esperar o dia amanhecer, e os outros guias chegarem, e nos levarem até o Lado A, e torcemos para que essa travessia não seja descoberta pelo governo, para que assim não se inicie um banho de sangue.

Travessia Mortal (Em breve)Onde histórias criam vida. Descubra agora