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Se tornar advogada na cidade do Rio de Janeiro, onde há uma enorme quantidade de estudantes procurando um emprego na área, não é fácil para muitas pessoas.

A minha sorte, é ser filha de um dos melhores advogados da cidade. Pode-se dizer que apenas estudei Direito, pelo simples fato de que meu pai sempre dizia o quão orgulhoso ficaria ao ver sua filha se formar no mesmo curso que ele.

Foi quando tudo isso virou uma tortura.

Eu estava obcecada em Direito. Talvez, se no passado eu fosse pensar bem em algo que eu realmente quisesse, e não tivesse um pai que exigisse muito, poderia ter me formado em outro curso.

A questão é que eu realmente precisava deixar o meu pai orgulhoso. E foi gratificante receber o diploma de conclusão de ensino.

Lembro-me como se fosse ontem quando ainda tinha dezessete anos.

— Escolheu o vestibular que irá fazer? — Mamãe perguntou, mesmo sabendo que eu havia passado o último ano do ensino médio todo estudando para Direito.

— Direito. — Respondi.

— Não tem nenhum outro curso que você esteja pensando? — Insistiu no assunto, talvez ela não quisesse que eu seguisse o mesmo ramo que papai, por achar perigoso.

— Não. — Respondi direta.

— Essa é a minha menina. — Papai sorriu orgulhoso.

Faltavam exatamente cinco dias para a prova do Enem, estava tentando para uma das melhores universidades da cidade. Por um lado eu estava confiante, sabia que havia me dedicado bastante. Por outro, muitas pessoas se dedicaram assim como eu.

Os dois dias de provas foram horríveis e não estava acostumada a ficar sentada por algumas horas na mesma sala que outras pessoas, ainda mais sabendo que todos estavam concorrendo comigo.

Apesar do que eu imaginava, muitas pessoas lá eram mais velhas e estavam apenas fazendo as provas para testes de conhecimento.

— Qual você acha que será a sua nota? — Papai perguntou ansioso, assim como eu.

— Não posso garantir que fui bem, apesar de achar que fui. — Comentei.

— Eu ainda acho que você deveria tentar outro curso. — Mamãe opinou, deixando papai sem paciência ao meu lado.

— Pare de tentar fazer a menina mudar de ideia. — Papai não estava pedindo, mesmo porque sua voz de autoridade demonstrou o quão zangado estava.

E então enquanto o mês se passou e eu ainda não havia recebido o resultado das provas, enfrentamos algumas brigas e discussões dentro de casa.

Para a minha mãe, caso eu quisesse deixar de fazer a faculdade para tentar algum curso, estaria ótimo... Desde que eu não fizesse Direito.

Para o meu pai, só havia uma solução, fazer direito e seguir o seu caminho.

Lembro-me que todos estávamos aflitos em casa. Quando havia algum encontro em família, onde reuníamos com meus tios, tias, primos, primas, enfim, papai contava sobre o fato de que eu passaria para a prova e me tornaria uma ótima advogada.

Naquela época, fiquei com muito medo de não ser aceita. Todos sabiam o quanto eu estava lutando para conseguir a bolsa, havia feito os vestibulares, mas não queria pagar. Queria passar porque realmente merecia, por ter notas boas e ser dedicada.

Com o fato de eu ter sido aceita na universidade para cursar Direito, ainda mais sendo bolsista, ou seja, os estudos redobravam, já que caso eu reprovasse perderia a bolsa, acabei deixando os meus amigos e a minha família de lado.

Digamos que boa parte do que eu era, desapareceu.

Aqueles cinco anos presa em um quarto, onde as únicas pessoas que ousavam entrar era mamãe, papai e Mariana a minha melhor amiga.

Inclusive foi a Mariana que iniciou com essa história da lista para que eu pudesse reencontrar o "possível amor da minha vida".

Como mamãe não queria que eu me envolvesse com casos perigosos, papai conseguiu que eu entrasse em uma empresa de advocacia que focava em casos trabalhistas. Ou seja, em relação ao direito do trabalho.

Normalmente eram casos em que o chefe deixava algum direito do funcionário de lado, omitindo do mesmo que não conhecia exatamente todos os seus direitos ou também funcionários que queriam "roubar" de alguma maneira seus chefes.

Como eu não trabalho por opção própria e sim para uma empresa. Eles estabelecem os casos em que eu devo prosseguir. Querendo ou não, muitas vezes temos que arcar com as consequências, pegando pessoas que estão erradas na situação.

Mas, a profissão de advogado abrange um grande universo e temos as nossas responsabilidades também como pessoa.

Muitos me perguntam se eu já recusei algum caso durante esses dois anos de carreira, após a formação. E a resposta é sim. Acredito que todo advogado pelo menos uma vez já recusou se submeter a defender alguém ou se não o fez, ainda fará. Neste caso, eu recusei um funcionário que estava tentando roubar o seu chefe, mas, tentou até mesmo colocar pessoas em perigo, ou seja, precisei denunciá-lo.

Mamãe reclama que eu nunca deveria ter denunciado o rapaz. Papai também ficou preocupado com o que estava acontecendo e por um segundo pensei em desistir de ser advogada, mas eu havia lutado tanto, que parei.

Agora, voltando para a parte que realmente importa e que todos querem saber, é da onde surgiu a incrível lista.

Foi exatamente no dia 02 de Fevereiro, às 21:00. Mariana estava na minha casa, no meu quarto e procurava por alguma coisa que eu desconhecia no meu computador.

— Carolina? — Chamou-me.

— O que foi? — Perguntei.

Naquela semana estava focada em um processo muito importante, que se conseguisse ganhar embolsaria uma alta quantidade em dinheiro.

— Faz quanto tempo que você não fica com alguém? — A pergunta que a minha amiga fez, pegou-me desprevenida, não sabia o que era beijar desde o ensino médio.

— Do que você está falando? — Desconversei, pensando que talvez ela pudesse desistir daquelas perguntas.

— Quero saber exatamente quanto tempo faz que você não beija um homem? — Dessa vez ela estava com a atenção voltada na minha direção.

Pensei em responder que eu havia ficado com alguém em qualquer dia, que possivelmente ela não estava presente. Mas, melhor do que eu, ela sabia que eu não costumava ir em festas, pelo menos não sem a presença dela.

— Desde o ensino médio. — Confessei baixo, na tentativa de que ela não me escutasse.

— Eu não acredito Carolina. — Ela falou alto, garanto que se meus pais estavam no quarto deles, ouviram o que ela disse, talvez não com total exatidão, mas o suficiente.

— Será que você pode ser menos escandalosa? — Pedi.

Naquele dia, Mariana surgiu ao meu lado com uma lista de nomes masculinos, alguns de alguma maneira eu lembrava, pelo sobrenome talvez, outros eu mal sabia que existiam, antes da minha melhor amiga lembrar-me.

LISTA DE HOMENS QUE DEVO REENCONTRAR

E eu não estava acreditando que ela poderia criar uma lista de homens que estudaram comigo no ensino médio, para que eu pudesse reencontrá-los e então ter um encontro com cada um.

Não era capaz de tal estupidez, havia deixado muitos de lado por esse sonho de se tornar advogada, afinal a minha desculpa para fins de relacionamentos sempre foi "eu não tenho tempo agora, preciso focar na faculdade de direito".

E essa lista não tinha nem uma semana e já estava me dando dor de cabeça.

Primeiro porque precisava trabalhar e ainda assim planejar encontros com pessoas que agora haviam se tornado desconhecidos, afinal haviam se passado sete anos longe de todos esses meninos.

Eu estava pronta para arriscar-me nessa situação.


O Homem da Minha Lista (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora