03 - Presente

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Ouvi o barulho de carro na entrada, os cascalhos fizeram meu coração acelerar. Desci as escadas, cheia de esperança, até ver o carro dos meus tios e Marcela descendo, vindo em minha direção.

—Que bom que você já chegou!

Abracei minha prima me sentindo frustrada, não era bem eles que eu esperava ver.

—Meus pais quiseram vir ontem — falei.

—Nossa, estou exausta, acho que vou tomar uma ducha e cair na cama.

Marcela entrou e logo minha tia veio me cumprimentar.

—Oi querida, onde sua mãe está?

—Parece que foi caminhar com a vovó.

—Aquelas duas! Sempre fazendo programações sem mim.

Tentei não revirar os olhos para crise de ciúme de minha tia, aquilo era recorrente.

—Tia, sabe que horas o Diogo chega?

—Ah querida, aquele meu filho! Nem sabe como tem me dado trabalho depois que se mudou do Rio! Quase nunca liga para mim, sempre enfiado naquele escritório, acho que deve ter arrumado alguma namorada em BH.

—A senhora sabe que horas ele chega? — perguntei novamente.

—Não, até tentei falar com ele quando chegamos ao Aeroporto, mas não atendeu. Virou rotina, tentar falar com o Diogo e não conseguir, ele deve estar com alguma namorada, só pode. Acho até que ele vai trazer essa garota e...

—Chega de tanta conversa Silvana! A pobre garota não aguenta mais ouvir você falar. — Meu tio me salvou do monólogo e veio até mim para um abraço de urso. — E então querida, já pode ser presa e comprar bebidas?

Ri.

—Acho que sim tio, mas não pretendo fazer nenhum dos dois.

—Está ainda mais linda! Trouxe um namoradinho para nos apresentar?

—Não tio, tudo continua igual.

—Claro, no tempo certo. — Pegou a sacola de viagem e foi em direção à escada de entrada. — Não ligue para sua tia, logo Diogo chega por aí.

Como eu adoro meu tio Robson, só não sei como ele consegue suportar minha tia e seus monólogos intermináveis. Pensei em dar uma volta e espairecer, talvez Diogo tivesse mudado os planos por alguma urgência na empresa. Comecei a andar em direção ao jardim de inverno que minha avó cultivava com todo carinho, apenas espécies raras de flores e plantas, quando outro barulho de carro fez minha cabeça virar. O carro era prateado e eu não fazia ideia da marca, nunca fui boa nisso, então só reconhecia o bom e velho Fusca, mas o motorista com óculos estilo aviador e sorriso fácil ao me ver, esse sim era meu velho conhecido. Deixei meu coração fazer festa quando ele saltou do carro e correu até mim. Estávamos em um espaço aberto, mas isso não impediu que ele me carregasse no colo e girasse no ar.

—Não sabia que a saudade podia se multiplicar ainda mais depois do último verão — disse me colocando no chão e ainda me abraçando. — Mas eu não estava nem conseguindo respirar direito sem você.

—Eu também, meu amor.

Ele tirou os óculos e me fitou, segurando minhas mãos.

—Olha só quem chegou! Agora vai roubar minha irmã pelo resto do verão.

George chegou me assustando, mas Diogo só fez rir.

—E aí, cara?

Os dois trocaram cumprimentos tipicamente masculinos, um abraço de lado e socos.

Três Verões (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora