3 - Adrian

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Já era noite de domingo e felizmente não estava sozinho, meus amigos, alguns poucos que vivem na região, vieram ao meu apartamento para descontrair. Pedimos pizzas, ficamos sentados a mesa comendo, bebendo e conversando.
-Preparado para sua próxima missão? - disse Angélica, colega de longa data.
-Sinceramente, não. A garota é muito nova. - peguei um pedaço de pizza.
-Infelizmente esse é o nosso trabalho. - era Demetrio, o mais racional dos anjos.
-Odeio sua racionalidade, independente se esse é ou não nosso trabalho os humanos precisam viver - Angélica espetou o garfo no pedaço que comia. - O tempo é curto demais para eles e para uma garota de vinte e poucos anos que nem teve a oportunidade de ter filhos, família, envelhecer... - a anjo parou no meio da frase, pude ver um traço de tristeza no olhar dela - É arrancar um direito dela.
Fizemos alguns minutos de silêncio mediante ao que Angélica disse.
-Se para nós oitenta anos é um piscar de olhos, para eles é uma vida inteira - Demetrio nos olhou - Infelizmente tenho que concordar com vocês, mas o que você pode fazer?
-Não sei, mas terei que pensar nisso porque... - um ponto de luz chamou minha atenção, fazendo eu parar o que estava falando.
De repente as ondulações no ar mudaram, o ponto de luz voltou a aparecer na minha poltrona, todos nós levantamos, pois sabíamos que Maria estava a caminho. Nos entreolhamos até que a chefe se materializou de pernas cruzadas como se estivesse em seu escritório.
-Uma reunião e eu nem fui convidada tsc tsc tsc - Maria e sua arrogância.
-Convidamos apenas amigos para sentar à mesa. - Demetrio nunca gostou de Maria e fazia questão de deixar isso claro a ela.
-Poupe-me de suas mágoas Demetrio, elas não me afetam mais. Angélica - ela se dirigiu para a mulher - um prazer revê-la, sempre muito bem apresentável.
-Obrigada - Angélica disse, sempre muito conhecida por seu estilo e bom gosto para roupas.
-O papo deve estar muito bom, mas preciso falar com ele - ela apontou para mim - Não precisam sair, não - ela disse quando os anjos fizeram menção de sair. - Venha Adrian, sente-se aqui no sofá.
Obediente fui até o sofá, sentei e prestei atenção ao que ela tinha a dizer.
-Infelizmente houve um imprevisto na sua nova missão. - Maria trouxe a pasta de Nina como em um passe de mágica. - Nina e o namorado terminaram de uma forma muito dramática hoje, caso ela faça a passagem em poucos dias o motivo será distorcido. Então você ganhou mais tempo nesse caso.
Fiquei aliviado, soltei o ar e pude relaxar um pouco. Tempo, era disso que eu precisava para um plano que tinha acabado de formular.
-O novo tempo dela foi atualizado, pegue. - ela me ofereceu a pasta, fazendo assim a antiga, que estava na mesinha de centro, desaparecer. - Aproveite do jeito que achar melhor.
-Obrigado.
Infelizmente tive que ser seco, tinha medo que ela captasse qualquer alteração de meu humor ou simplesmente acabasse descobrindo o que estava na minha mente.
-Bom, vou deixá-los para terminar a pizza e falar mal de mim pelas costas. - Maria olhou para Demetrio que sustentou seu olhar.
-Não quer comer um pedaço? - tentei ser educado.
-Muito obrigada meu anjo, mas não. - ela se levantou da poltrona, se colocou na minha frente e sussurrou para mim - Siga seus planos, estou louca para descobrir o final.
E então Maria evaporou, deixando-me com várias perguntas na cabeça, mas principalmente querendo saber em que lado ela estava depois de dizer aquilo. Maria sempre foi conhecida por não descumprir regatas, então se ela tinha ideia do que eu planejava não deixou claro de propósito.
-O que ela te falou? - perguntou Demetrio já desconfiado.
-Nada demais, apenas me deixou em dúvida sobre em que lado está. - disse passando a mão no cabelo.
-Toma cuidado, essa mulher é imprevisível. - Angélica disse e ao mesmo tempo bateu a mão na cadeira ao seu lado para que eu voltasse a minha pizza.
Terminamos de jantar e eles me deixaram, voltei para o sofá e peguei a pasta da Nina para ler o que mudou na vida da garota. O namorado a traiu e ela descobriu com a ajuda do irmão, se ela morresse agora iria parecer que se matou por causa da dor da traição, mas ela morrerá por outro motivo e por mais que seja bonito, não vou deixar acontecer.

O fim de semana passou rápido, tive que ir ao shopping comprar roupa, pois só tinha roupas brancas no armário. Na segunda acordei mais cedo para me preparar para o meu primeiro dia de trabalho, sinceramente estava um pouco nervoso, depois de um longo tempo ansiava muito por um dia na minha vida. Peguei uma camisa listrada no armário, uma calça social preta e um sapato preto, penteei o cabelo e estava pronto.
Sai faltando quinze minutos para o meu horário, felizmente a empresa é perto de casa, no caminho passo na frente da estação de trem e para minha surpresa Nina estava saindo de lá. Ela estava de cabeça baixa e distraída, vi que vinha na minha direção e se eu não desviasse acabaríamos nos trombando. Por motivos que não sei explicar, não sai do caminho dela e nos esbarramos.
-Desculpa! - ela olhou para cima e nossos olhares se encontraram.
-Sem problema - sorri para ela - Machuquei você?
-Não, estou ótima. Tenho que ir, desculpa mais uma vez.
A tristeza estava estampada no rosto dela, como anjo é sensível a alma dos seres humanos senti toda a dor que ela carregava no peito e por um momento quis ser a pessoa que alegraria seu dia.
Assim que cheguei a recepção fui recebido por Indira, minha nova chefe, como se Maria já não valesse por todas as chefes do mundo.
-Hoje seu dia será bem tranquilo, pela manhã ficará com o RH que fará um tour pela empresa, tirará suas dúvidas com relação à benefícios e salário, caso ainda tenha e papelada bancária. A tarde marquei uma reunião com a equipe para lhe apresentar a todos e depois ficaremos apenas nós dois para te apresentar os objetivos da área, suas atividades e responsabilidades. Alguma duvida?
-Não senhora.
Aquela mulher falava mais do que a boca permitia e como não me deu espaço para opinar ficou claro que não aceita opiniões divergentes das suas.
Então lá ia a minha nova personagem para uma manhã tediosa.

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