Desligados

5 - Adrian

  Nina é uma garota incrível, as ideias dela sobre o mundo, as pessoas, a sociedade são muito maduras para seus vinte e poucos anos de idade. Ela consegue te envolver e encantar com um jeito diferente de ser, é como se houvesse algo especial nela que chega a ser mágico. Nessa hora que passei com ela foi como se aquele vazio que eu sentia, aquele buraco incompreendido, fosse preenchido e naquela noite, depois de muitas, dormi com um sorriso bobo no rosto.

  Na quarta-feira chegamos cedo no hotel, passei a parte da manhã inteira com Nina no salão de eventos e realizando os últimos detalhes. Ela estava um pouco nervosa, acho que era o primeiro evento dela com o controle total e tinha que fazer isso direito, era a chance dela de aparecer e mostrar seu bom trabalho, mas no fundo parecia ter outra coisa incomodando-a.
  Fiquei mais nos bastidores ajudando-a quando me chamava ou quando percebia algo estranho e quando chegou o grande momento Nina vestiu a postura de coordenadora do evento e recepcionou boa parte dos convidados.
  -Ela fez tudo isso? - Ariel perguntou acenando para toda a decoração.
  -Sim, ela é incrível! - deixei escapar e percebi o olhar que Ariel me lançou.
  Não acho que ele seja interessado nela, Ariel está mais para aquele amigo/irmão que toda garota tem e estava me analisando para saber se eu era digno da sua melhor amiga.
O evento foi um sucesso, a maioria ficou muito satisfeita, muitos foram parabenizar Nina pelo feitio e estava chegando a hora de ir embora ouvi Nina e Ariel conversando na porta do hotel.
-Não quero ir sozinha no casamento, vai comigo, por favor. - ela estava fazendo aquela cara de gato de botas.
-Já falei que eu vou, mas não posso ir com você. - ele estava escondendo algo.
-Por que? Só me explica senão vou levar para o lado pessoal. - agora ela parecia um pouco brava.
-Não posso falar porque agora.
-Ariel, sou sua amiga há muito tempo, acho que mereço no mínimo uma explicação.
-Você é insistente em garota?!
-Estou no meu direito de saber.
-Eu já vou acompanhado, estou de papo com uma menina da logística e ela também foi convidada, aí falei que poderia passar na casa dela e tal. Você me entendeu já, né?
-Sim - ela olhou para baixo e eu comecei a andar na direção deles - Só queria que tivesse me falado antes.
-Não fica assim, eu até pensei em cancelar com ela depois que soube do seu término, mas ... - Ariel me viu e me chamou com um aceno de mão - Pronto, aqui está sua companhia.
-Casamento de quem? Onde? Que?. - me finge de sonso.
-Nina precisa de companhia para ir ao casamento da Indira no sábado, que eu saiba você é solteiro, ela também, então o que você acha de acompanhá-la?
  -Ariel! - ela deu um gritinho, corou e bateu no braço do amigo.
  -Por mim não tem problema nenhum, não tenho nada programado para o sábado. - tentei me mostrar tranquilo e no controle da situação, mas no fundo estava em êxtase.
  -Mesmo? - ela falou timidamente.
  -Claro, será uma boa oportunidade para me enturmar com as pessoas.
  -Então você vai comigo?
  -Claro que vou! - dei risada, foi legal conhecer esse lado dela tímido.
  -Pronto! Resolvido. Valeu cara - Ariel apertou minha mão - Depois te dou uns toques de como amansar a ferinha caso comece a bancar a chata se quiser beber.
  -Eu sou uma pessoa muito legal, tá? - ela virou o rosto.
  -Não disse que não era, é que, às vezes, você consegue ser bem chata.
  -Obrigada por destruir minha moral.
  -Ainda está em alta comigo, fica tranquila. Me passa seu número de telefone para combinarmos o horário que tenho que te buscar. - peguei o celular e anotei o número dela.
  -Senhores, o papo está bom, mas preciso ir embora. Até amanhã para vocês.
  -Precisa de companhia até a estação?
  -Acho que estou segura. Qualquer coisa mando mensagem - ela apontou para o celular e saiu andando.
  Ariel e eu ficamos assistindo-a até sair das nossas vistas.
  -Faça uma coisa que a machuque e eu juro que quebro a sua cara Hollywood. - ele olhou firme para mim.
  -Hollywood? - fiz cara de interrogação.
 -Seu apelido entre os homens por parecer um ator de hollywood. - ele fez uma pequena pausa e voltou ao assunto - Ela não merece sofrer novamente, Nina é a garota que todo homem gostaria de ter, mas ela não sabe o potencial que tem e por isso deixou aquele fracassado de merda destruir a auto estima dela.
  -Minhas intenções são as melhores e acredite se quiser, não quero ser mais que amigo dela. - não era bem uma verdade, mas sei que infelizmente não posso mais do que isso.
  -Você não gosta de mulheres? - ele se empertigou - Se gostar de homens sem problema cara.
  -Não é isso! - exclamei um pouco mais alto do que gostaria e algumas pessoas nos olharam.
  -Estão tem namorada e não disse nada para ela?
  -Também não.
  -Voto de castidade?
  -Exatamente! - era o mais próximo do que poderia chegar.
  -Caralho! Como você consegue com toda essa mulherada se jogando em você?
  -Não são tantas assim.
  -Duvido, mas ok, não é da minha conta! Seja gentil, ela precisa de um ombro amigo agora.
  -Serei o que ela precisar.
  -Ótimo! Também estou de partida, até amanhã cara, se cuida.
  -Até!
Parti junto com Ariel e ao chegar em casa Angélica e Demetrio me esperavam com feições preocupadas.
  -Que história é essa de você acompanhar a garotinha em um casamento? Não acha que está se envolvendo demais? - Angélica estava brava.
  -Liga não, ela está com ciúme. - Demetrio estava sentado no sofá vendo televisão.
  -Estou fazendo meu trabalho Angel. - coloquei minha carteira e celular na mesa e me juntei a Demetrio - E posso saber por que vocês estão sondando minha vida?
-Angel acha que você está estranho desde o dia que recebeu a atualização da pasta da Nina, ela acha que você fará alguma bobagem e por isso tem te espionado. - Demetrio falou com a maior naturalidade tudo isso.
  -Cala a maldita dessa boca Demetrio, eu falei para não contar nada a ele. - Angélica esbravejou e bateu no amigo.
  -Ele tem o direito de saber, falei que era contra isso, então escapou.
  -Vocês dois estão ficando loucos mesmo! Estou fazendo meu trabalho e qual o problema de me divertir um pouco? A garota é legal, madura, tem uma boa conversa e precisa da minha ajuda. Parem de ser ridículos. - a última coisa que eu queria agora era alguém na minha cola vigiando tudo o que faço, minha vontade era de mandar os dois embora.
  -Estou com contigo irmão, mas tenho que ficar de olho nela senão vai acabar se intrometendo na sua vida.
-Entendo, fica tranquilo.
-Vocês, homens, são ridículos! Estou tentando ajudar e acabo virando a vilã da história, sabe de um coisa? - Angélica não esperou pela resposta - Eu vou embora! - e se foi.
-Ela adora fazer saídas dramáticas - Demetrio riu.
-Ainda bem que é uma amiga de velha data, senão seria difícil de aturar.
-Você sabe por que ela faz tudo isso, não sabe?
-Infelizmente sei - virei o rosto para observar a janela e as recordações vieram à tona.
-Por que você nunca deu uma chance a ela?
-Já dei, há muito tempo atrás, mas não deu certo. Ela é muito possessiva.
-Não sabia que já haviam ficado juntos. - Demetrio mostrou querer saber mais sobre a história.
-Há muito tempo, não sei mais falar quanto, descobrimos que haviam sentimentos maiores que amizade entre nós, então começamos a namorar. Foi bom no inicio poder me relacionar com alguém com quem pudesse ir mais a fundo, mas novos trabalhos apareciam. Ela queria mais tempo do que eu dispunha para nosso relacionamento, quando o trabalho exigia que ficasse perto de pessoas mais jovens ela fazia de tudo para atrapalhar, soube que os acontecimentos estranhos que passava na verdade era ela que manipulava a situação para que me afastasse das pessoas. Quando descobri que na verdade era Angélica por trás de tudo de estranho que aconteceu, terminamos. Desde então ela tem esse comportamento louco que você já percebeu. - foi como tirar um peso das contas ao contar essa história para Demetrio.
  -Conheço vocês dois há tanto tempo e nunca soube disso, não sei se fico feliz ou triste.
  -Não fique de jeito nenhum, foi algo rápido, dentro do nosso tempo e juramos um ao outro não falar mais sobre isso. Espero que saiba guardar esse segredo.
  -Do que estávamos falando mesmo? - Demetrio foi irônico.