Capítulo único

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- Por que você voltou, Sarah?

Após cinco anos, Sarah Williams retorna ao lugar de onde passou os momentos mais marcantes de sua vida: O Labirinto. Ela estava em frente ao portão principal, do lado de fora dos misteriosos e austeros muros, e estava prestes a dar os primeiros passos através dos corredores cheios de ilusões de ótica e povoada por pequenas criaturas estranhas que a olhavam, curiosas. Sarah estacou no chão assim que deparou-se com a cara fechada e esquálida do Rei Goblin, bloqueando a passagem. Ela tinha a esperança de rever os seus amigos e - por mais estranho que parecesse a ela - também a aquele a quem derrotou e rejeitou, e que fez de tudo para impedir que ela e seu irmãozinho retornassem ao seu mundo. Entretanto, não esperava encontrar Jareth tão cedo assim.

A voz dele era firme e ríspida, mas Sarah notou uma discreta oscilação em sua fala, como se houvesse mágoa entalada em sua garganta. Mas se passaram cinco anos desde que fui embora daqui!, pensou ela, surpresa com a ríspida recepção que Jareth lhe concedia. Antes de ela colocar os pés no chão do encantado reino dos goblins, Sarah imaginou que Jareth a receberia com sarcasmo – com ira, até! – e a enxotaria dali como se enxotasse uma mosca. Mas não: ele estava magoado, ainda. Cinco anos para ela era muito tempo, mas para o Rei Goblin o tempo não existia. Ele o controlava. Além do mais, os assuntos do coração são atemporais e, dependendo da intensidade do sentimento, eles nunca morrem.

- Estou com saudades dos meus amigos. – respondeu ela, cautelosa, pois afinal de contas, sentia que Jareth não era mais o seu inimigo.

O Rei Goblin estreitou seus olhos afiados.

- Amigos??? Você diz "amigos" a aqueles paspalhos a quem você se afeiçoou quando veio para cá pela primeira vez?

- Eles não são paspalhos! São meus amigos!

Mesmo sob o olhar desafiador dela, Jareth solta uma risada.. Ou um projeto de risada: uma exclamação meio insolente, meio dolorosa. Ele não suportava quando Sarah mencionava Hoggle, Sir Didymus e Ludo como seus amigos exclusivos e únicos, sem espaço para o seu nome ser mencionado.

E eu pedi tão pouco a ela...

Lembrou-se, em fração de segundos, do último minuto em que Sarah esteve à sua frente, quando ofereceu a ela a realização de seus mais profundos sonhos. Estendeu o cristal brilhante e arredondado à garota, como se fosse o seu próprio coração. Reviveu mentalmente o momento em que estendia o objeto mágico à frente daqueles olhos verdes – profundos e misteriosos olhos de esmeralda, que ele desejava tanto mergulhar para desvendar os enigmas nele contidos – sentindo uma pontada de dor no coração.

Me ame! Me tema! Faça o que eu lhe peço, e eu serei o seu escravo!

Mas Sarah optou por seguir o seu próprio caminho. Pronunciou as palavras mágicas, tão fatais a ele, que deixara profundas marcas em seu coração:

Você não tem poder sobre mim!

No final das contas, era Jareth quem se tornara escravo de Sarah, mesmo que ela não tenha aceitado a proposta dele de viver no Labirinto ao seu lado. Ela retornou ao seu mundo, vivendo a sua vida comum, sem a emoção de manipular elementos com mágicas, elucidar charadas e enfrentar o desconhecido. Ele, viajando entre as dimensões, encantando ou aterrorizando as crianças que evocavam o seu nome, trazendo algumas delas – as rejeitadas em seu mundo – para viver com ele no castelo, e ficarem ali, para sempre, a mercê das vontades do Rei Goblin.

- O senhor não mudou nada, Vossa Majestade! – disse Sarah irritada, cortando os devaneios do Rei Goblin – Continua o mesmo: orgulhoso, esnobe e mesquinho!

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⏰ Última atualização: Sep 26, 2016 ⏰

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