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Vi o meu próprio funeral. Foi bonito. Ok, foi horrível! Apareceram umas 10 pessoas e tocaram músicas horríveis. Claro que os meus pais não apareceram. Agora estou morta, sozinha, presa no outro lado. Posso passear por onde quiser, posso estar nos mais diversos sítios. Mas sem poder tocar em nada, e sem ninguém me ver. Eu não sei o que ainda faço aqui.

Fui ao parque. Ao parque em que eu ia quando tinha 6 anos com a minha mãe. Fazíamos coroas de flores e punhamos na cabeça como se fossemos fadas. O parque estava vazio, apenas com um incrível manto branco que eu não sentia. Sentei-me no baloiço encarando algumas pessoas que passavam. Vi um rapaz loiro que me chamou à atenção. Ele veio em direção ao parque e começou a falar. Sim, vejo muita gente a falar sozinha por aí, mas o que estranhei foi o facto de ele estar a referir a mim. Será que está morto? Bem, se calhar é só mais um maluco.

"Não tens frio?" - ele disse e rapidamente percebo que ele se referia a mim. Mas como??

Levantei-me assustada do baloiço.

"Estás morto?" - pergunta engolindo em seco e ele olha-me confuso.

"Eu? Nem por isso, tu é que deves estar morta de frio." - ele diz rindo-se um pouco. De frio não estou.

"Não estou." - falo rapidamente sem olhá-lo nos olhos.

"Mas está a nevar e estás de manga curta." - ele diz sorrindo. Sorriso esse bonito.

"Eu não sinto o frio." - disse mordendo o lábio e ele senta-se á minha beira. Ou melhor, no baloiço ao lado.

"Isso é fixe. Tens super poderes?" - ele ri-se e eu permaneço séria.

"Como é que me vês?" - pergunto de novo e ele solta uma gargalhada.

"Estás aqui, como é que não te poderia ver?" - ele exclama. Não é possível. Como assim ele vê mortos? Eu tenho que o avisar. Mas... Porque é que ele é único a ver-me? Tantas perguntas para a minha mente de fantasma estranho que permanece no mundos dos vivos sem qualquer objectivo.

Levantei-me, e pus-me á frente dele.

"És fantasma?" - perguntei encarando-o e ele olha para mim sério, envolvendo os seus olhos azuis claros nos meus verdes, que agora depois de morta, estão secos, sem brilho.

"Sim, olha para mim, não vês?" - ele disse e toca na minha mão, mas ela desaparece ao toque dele.

"O QUE FOI ISTO?" - ele berra assustado e senti-me desconfortável. Como se um fantasma se sentisse desconfortável.

"Adeus Niall." - disse fria. Eu consigo saber o nome das pessoas. Estranho, mas verdade.

"Que raio és tu? Mágica?" - ele vai atrás de mim mas afasto-o de mim.

"Não. Sou um fantasma. Não estou cá físicamente como podes presenciar. Mas estranhamente continuo cá noutra forma estranha. E tu, és o único a conseguir ver-me." - digo.

"Oh. És maluca." - ele diz encolhendo os ombros. Por acaso nunca o fui. Já fui sinistra e muitas vezes cínica e irónica. Mas maluca? Nah.

"Então como explicas isto?" - «toquei-lhe»

"Sei lá...uhm...um truque...não sei, não sei. Porque raio iria ter um fantasma a assombrar? Já tenho uma vida má o suficiente." - ele bufa desesperado. Algo me diz que ele está prestes a chorar.

"Eu não te estou a assombrar. Acho que tu é que deves ter algum super poder para me conseguires ver." - sento-me no baloiço de um modo inocente.

"Ahm...olha...adeus." - ele diz e corre. Acho que nem morta posso fazer as pessoas descansar de alívio. Sou uma bomba, não. Uma bomba não, sou uma granada.

Niall

Pus a chave na fechadura e entrei no meu pequeno e velho apartamento.

Sentei-me no sofá e respirei fundo. Não me parece que isto seja das drogas. Já não tomo á 3 anos. Agora fiquei por traficar. Fui até ao meu quarto quando vi uma figura esbelta, de cabelo azul claro curto com uma coroa de flores vermelhas. Ela. Ela está aqui.

"O que fazes aqui??" - berro. "Como sabes onde é que eu vivo? Mas tu és psycho ou quê?"

"Eu já disse que sou um fantasma. Uhm, que casa desagradável. Para quem trafica droga, não devias ter uma casa...melhor?" - ela diz ironicamente e neste momento sinto-me confuso, completamente confuso.

"Não pode ser." - digo baralhado.

Um fantasma? UM FANTASMA? Porque raio um fantasma havia de me perseguir, a mim???

"Sou a Grace." - ela estendeu o braço mas retirou-o de seguida e riu-se. "Desculpa, não posso." - ela diz.

"Então és mesmo um fantasma?" - sento-me na cama ao lado do fantasma chamado Grace. Ela assente.

"Sou, finalmente." - ela diz.

"E morreste como?" - pergunto diretamente, ainda em choque.

"Oh. Com vários cancros, leucemia entre eles." - ela responde e senti um pouco de pena. Pena de um fantasma. Estou bebêdo? Sim, só pode.

"E tinhas que idade?"

"16" - ela diz sorrindo. Um pouco feliz demais para um fantasma.

"E porque é que só eu é que vejo? Estou morto?" - perguntei.

"Não. Estás vivo...e se fosse a ti aproveitava. Sabes que mais? Eu vou-te ajudar a recuperar a tua vida." - ela sorriu.

Um fantasma? Que só eu vejo? Que me quer mudar a vida? E cabelo azul? Eu é que devo estar morto.

Heey amores! 
Espero que tenham gostado!!

Maria

Flowers [N.H]Onde histórias criam vida. Descubra agora