Eu fui procurar ajuda, ajuda pro meu próprio ser, eu pesquisei, eu corri atrás, eu entreguei os trabalhos, eu tomei os remédios, eu segui os horários, eu dormi regularmente, eu comi sem escassez, eu arrumei os sapatos, eu me vesti como adequado, eu escrevi como foi mandado, eu pintei e costurei o bordado, eu não menti, eu compareci todos os dias, eu prestei atenção nas palavras, eu refiz meus deveres, eu tentei ser melhor com meus pais, eu tentei fazer novos amigos, eu sai, eu tirei a cerca que carregava, eu não gritei, eu me comportei, eu fiz tudo, eu fiz mais do que tudo, eu segui cada recomendação.
E não adiantou de nada, vocês não concertaram meu choro, não concertaram meus sentimentos, não concertaram minha razão, não concertaram a minha raiva, não concertaram meu tédio, não consertaram minha preguiça, não concertaram meu sono, não concertaram meus amigos, não concertaram meus pais, não concertaram meus sapatos, não concertaram minhas roupas, não concertaram minha escrita, não concertaram minha corrida, não concertaram meus trabalhos, não concertaram meus horários, não concertaram minha comida, não concertaram minha arte, não concertaram minha mentira, não concertaram minha agenda, não concertaram minha atenção, não concertaram meus deveres, não concertaram a cerca, não concertaram minhas palavras, não concertaram minha vida, não me concertaram.
Porque ninguém vai conseguir recolher meus cacos, porque eu não sou pra ser concertado, sou pra pensar, sentir de menos, doer de muito, não alegrar ninguém, não alegrar nem a mim, abraçar meu gato, continuar andando inutilmente, continuar seguindo a música anestesiante, e morrer pra aliviar a dor da alma, triste, sem sentimento e pobrezinho, tão jovem, tinha tanto o que viver ainda...
E por mais que eu tente, eu nunca aprenderei a viver.
F.Pian
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Colisão de confusões
PoetryPequenos textos e poemas sobre a vida, a morte e o que se passa por ela.