Confundido com um saco de lixo

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Eu estava parado em meio a sacos, a sujeiras e excrementos.
Tanto de lá havia em mim, alguns traços recicláveis afinal nem tudo em mim havia de ser perdido, algo podia durar, algo podia prestar, quem sabe alguém podia se aproveitar de algum poema, algum órgão e quem sabe talvez por um milagre, de alguma falha ideia minha.
E de resto havia o que já não dava mais, o que devia ser o fim, já não aproveitável, o que se quebrou, o que já se usou, o pobre velho que não dá mais proveito, o resto. E disso eu tinha muito.
Mesmo o cheiro ainda não sendo parecido, quem sabe eu podia me fazer igual, quem sabe se eu ficasse imóvel e abraçando os joelhos eu conseguisse me parecer com mais um saco de lixo, quem sabe se eu ficasse no meio com alguns me cercando, feito uma roda, quem sabe eu me apoiasse em um, quem sabe...
O grande erro, não foi pensar que me confundiriam com um saco de lixo, foi me confundir com um.

F. Pian

Colisão de confusõesOnde histórias criam vida. Descubra agora