Capítulo 3 - Maratona de Harry Potter (3)

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Como já era de se esperar, só de ver o logo da Warner eu já estava com os olhos marejando. E assim como no filme anterior, os meninos fizeram muito escândalo devido às cenas de Gringotes. Rony fez questão de ressaltar que haviam sofrido muito mais, já que nem as queimaduras que tiveram no cofre de Bellatrix foram parte da trama. Isso, é claro, só deixou o grupo ainda mais impressionado, por saber que a coisa toda havia sido bem mais complicada.
Neste último filme, pelo menos nos primeiros momentos em Hogwarts, apenas algumas partes eram novidade para o pessoal. Todavia, isso não mudou nada. Continuaram empolgados, assistindo atentamente. E aí eu parei de prestar atenção neles e acabei focando no filme, não intencionalmente. Já não conseguia conter as lágrimas, mas até então ninguém havia percebido. Só que, como sempre acontecia ao ver a última cena de Fred vivo, funguei alto e o choro se intensificou. Sem falar quando Lupim e Tonks se esticando para se tocarem pela última vez... tem como não chorar?
— O que foi, Gabby? – perguntou Draco, um pouco alarmado. Isso alertou os outros, que me encararam, curiosos.
Balancei a cabeça de um lado para o outro.
— Isso sempre acontece quando vejo esse filme – expliquei. – Não se preocupem.
Logo entenderam o motivo.
— Mas o quê?! – Fred estava chocado. – Como assim?
O Rony da TV correu para perto do corpo inerte de Fred e abraçou Jorge. Ambos choravam copiosamente.
— Pare o filme! – Jorge pediu. Fiz o que disseram.
— Como isso aconteceu? – Rony quis saber.
— O teto... – balbuciei, chorosa. – Naquele momento, no corredor. Desculpe-me, Fred, mas os destroços do teto acertaria você e seria um golpe fatal.
— Você está nos dizendo que se você não tivesse interferido naquele momento, Fred estaria morto? – Jorge parecia incapaz de compreender.
Eu apenas o encarei, com as lágrimas saltando com uma frequência cada vez maior.
— No livro, ninguém o salva? – Rony quis saber.
Suspirei.
— Não. Sinto dizer, mas no livro ninguém consegue reagir. O teto desaba e Fred morre.
Um silêncio pesado caiu na sala e foi quebrado por Draco.
— Agora faz muito sentido – comentou calmamente, fazendo todos os pares de olhos presentes fixarem-se nele. – Por isso você ficou tão abalada depois de salvá-lo.
— Você teme que isso traga alguma consequência no futuro, não é, Gabby? – Hermione desconfiava de minha resposta, mas queria a confirmação.
— Sem sombra de dúvidas. – Fred e seus irmãos pareciam todos extremamente chocados para processar a informação. – E tem mais – confessei. – Se eu não tivesse interferido, se tivesse deixado Fred morrer, eu teria morrido também, minutos depois.
— Os dementadores – Fred murmurou.
— Os dementadores – repeti em confirmação. – E, além do mais, essa não foi a única interferência que fiz. Vocês verão.
Quando chegou a morte de Severus, todos entenderam. Não houve o mesmo alarde de quando descobriram a de Fred, mas ouvi um ou outro "Oh, Snape também" ou coisa parecida pela sala. A essa altura, eu já chorava com intensidade. Quando Harry começou a ver as lembranças na penseira, eu já soluçava. Aquela era a parte decisiva em que qualquer pessoa passa do ódio extremo por Severus à idolatria. Lembro que na primeira vez em que li o livro, me bateu uma tremenda culpa por tê-lo julgado tão mal.
Os acontecimentos seguintes impressionaram a todos, sem dúvidas. Como Harry enfrentou Voldemort esperando a morte certa e acabou indo a "King's Cross", onde encontrou Dumbledore; a confirmação da existência das Relíquias da Morte; enfim, tudo o que não haviam visto até então, que somente Harry vivenciou, foram os pontos altos do filme. Houve aquela frustração mais que compreensível por ser tão diferente o duelo final entre Voldemort e Harry real do retratado. Houve o choque da compreensão de que Harry foi o Senhor da Morte, detentor de todas as relíquias. Houve também a constatação de que Draco teve papel decisivo naquele resultado. Estavam todos muito, muito chocados.
Distraída, por muito, muito pouco não deixei que vissem além dos "19 anos depois". Quando me toquei, sem pestanejar desliguei a TV e isso gerou um grande tumulto.
— Nãããããããããããão! – gritaram. Só Hermione não parecia discordar de minha atitude.
— Não digo eu, pessoas – eu ri.
— Isso não é justo! – berraram os gêmeos. – Injustiça!
— Não! – insisti.
— Ah, mas que droga, por que só você pode saber? – Rony estava irritado.
— São suas vidas, não a minha – dei de ombros. – Parem de insistir. Vocês não assistirão e ponto final.
— Malfoy, controle essa tua garota! – disse Jorge.
— Alguém tome o controle dela! – Fred orientou.
Droga.
Veio quase todo mundo atrás de mim. Eu saí correndo e gritando, com os meninos ao meu encalço. Como não os levei a sério, não deu outra; eles conjuraram cordas, enfeitiçaram-nas para me prender e foram assistir. Hermione tentou impedir a todos de ver, pois, assim como eu, sabia que isso podia causar graves problemas, mas acabou presa também. Quando acabou, eles me soltaram e eu os xinguei muito, muito mesmo – mas tudo em português. Uma torrente de palavrões pesados que eles não poderiam compreender.
— Hermione e Rony se casam – disse Fred.
— E têm dois filhos – Jorge completou.
— Isso não é surpresa – Fred continuou.
— Assim como Harry e Gina casados e com três filhos não é uma surpresa – disse Jorge.
— Não sei por que ela não queria que víssemos – os dois finalizaram a linha de raciocínio juntos.
— Talvez... – Fred começou.
— Será? – Jorge deu corda. E então, falando juntos mais uma vez:
— Ela não queria que vissem o namorado dela casado com outra.
Todo mundo me encarou.
— Não sejam ridículos – eu falei, irritada.
— Quem é aquela, afinal? – Gina quis saber.
— Astoria Greengrass – cuspi as palavras. – Futura esposa de Draco Malfoy e mãe de Escórpio Malfoy.
— Que cheiro é esse, Fred? – Jorge perguntou. Imaginei que iriam caçoar.
— Estou sentindo, Jorge, e acho que sei o que é...
— Ciúmes – disseram juntos.
— Definitivamente há alguém aqui que está morrendo de ciúmes – disse Jorge.
— Calados – eu disse, sorrindo e dando um tapa na cabeça de cada um. – Vocês não deveriam ter visto isso. É o futuro. Vocês não deveriam saber o que vai acontecer. – Começaram a resmungar que eu estava sendo injusta. Precisei ser mais firme. – Vocês não entendem como é perigoso? Não falo por maldade. É que, não precisamos ir muito longe para saber que isso é uma péssima ideia. Veja Voldemort! Enlouquecido e derrotado por uma profecia.
— O que isso tem a ver? – Blásio quis saber.
— Voldemort ouviu a profecia anunciar alguém com poderes para derrotá-lo, alguém nascido no fim de julho. Tinha como possibilidades os filhos das famílias Longbottom e Potter. Neville e Harry. O resto, todos sabemos. A perseguição iniciou-se e nunca mais parou.
— Não tem nada a ver. Não é como se fôssemos fazer mal a alguém.
— Prejudicam a si mesmos ao tirar a certeza de que seu futuro é resultado de suas escolhas, e não de um livro e um filme que diz que seu futuro será daquele jeito. Agora, vocês nunca saberão.
Com isso, aparentemente consegui fazer com que vissem a besteira que fizeram. Como ninguém mais falou nada, tirei o DVD do aparelho e guardei o box da série na estante. Sem mais, subi para o quarto e fui me aprontar para ir dormir.
Depois do banho, saí do banheiro já usando meu pijama de seda. Levei um susto ao ver Draco me aguardando em meu quarto.
— Desculpe – disse, sorrindo docemente. – Não queria te assustar.
— Tudo bem – eu disse, dando de ombros.
— Vamos nos sentar lá fora? – propôs. – Para conversar um pouco...
Draco vindo de fininho no meu quarto, querendo conversar? Aí tem coisa.
— Pode ser – eu disse, meio em dúvida.
A fim de não sair daquele jeito, peguei um roupão leve e vesti. Depois, acompanhei-o pela escada e em seguida porta afora. Demos a volta pela lateral da casa, em direção aos fundos. Podíamos ter ido pela cozinha, mas como percebi pelas vozes, estava cheia, e ele queria um momento a sós comigo.
Nos fundos da minha casa havia uma churrasqueira, uma pia e um frízer. Era circundado por uns canteiros de rosas e margaridas que eu adorava cultivar com minha mãe. Havia dois bancos de mármore, um de cada lado, e Draco escolheu o que ficava abaixo da cerejeira plantada ali. No momento de reconstruir tudo, não quis deixar nenhum desses detalhes de fora. Tudo parecia exatamente como eu deixara antes de ir para Hogwarts, embora soubesse bem que não era mais assim.
Estava lindo ali. O gramado coberto de flores e folhas não estava com ar desleixado, mas sim belo. Suspirei e encostei a cabeça no ombro de Draco, que sentara em silêncio ao meu lado. E assim continuamos durante alguns instantes; apenas um casal de namorados aproveitando um ambiente acolhedor, familiar e até um pouco romântico. Eu sorri. Ainda não estava habituada a pensar nele como meu namorado, por mais claro que estivesse que era exatamente isso o que ele era para mim. Também não estava habituada com o jeito carinhoso com o qual era abraçada por ele, ou como era acolhedor o toque suave em meus cabelos, as carícias em meus braços. Era tudo novo para mim. Essas partes, porém, eram tão fáceis quando respirar. Nunca mais conversamos sobre nós dois e eu tinha a certeza de que era desnecessário, de qualquer forma. Eu prometi pensar. E pensei. Minhas atitudes comprovavam a decisão que havia tomado. Obviamente, escolhi dar uma chance a ele. Uma chance a nós.
— Então foi assim que você cresceu – comentou. Não era uma pergunta. Parecia mais uma constatação. – Num ambiente simples, mas bem acolhedor.
— Cheio de amor e alegria – completei tristemente. – Fui muito feliz nesta casa.
— Consigo imaginar – disse ele. – Eu sinto muito, muito mesmo.
Ele entrelaçou nossos dedos de um modo reconfortante. Eu não queria pensar naquilo, pois traria à tona todas as minhas inseguranças e medos. Estragaria meu relacionamento com Draco, pois, no fundo, ele teve culpa. Foi sua covardia que me fizera perder as pessoas mais preciosas para mim. Se tivesse se recusado a me delatar, talvez eu tivesse uma chance. Sim, a tia louca dele podia dar outro jeito de me encontrar, eu tinha certeza disso, mas não haveria Draco como distração. Só que ficar pensando nisso e me lamentando não mudaria nem resolveria nada. Meus pais continuariam mortos e eu continuaria amando Draco. Não queria voltar a me questionar se era muito errado de minha parte ficar com ele.
— Como sua mãe está? – mudei de assunto, deixando claro para ele que não queria falar da morte dos meus pais.
— Abalada, confusa, mas definitivamente está bem melhor agora que está livre – disse ele. – Ela está furiosa com papai. Não o deixa entrar em casa há dias. – Para ser honesta, não estava surpresa. – O que acha de ir visitá-la depois que seus amigos forem embora? – sugeriu.
— Acho uma ótima ideia – concordei animadamente.
— Você pode ficar durante uns dias conosco lá – disse. – Eu ficaria muito feliz em ter você só para mim um pouquinho.
— Obrigada pelo convite, meu amor – eu disse. – Será muito bom ficar com você em sua casa sem precisar me esconder.
Ele sorriu.
— Apesar da situação, foi maravilhoso ter você lá. Foi quando me senti mais calmo durante esse período todo – confessou.
— É sério? – eu quis saber.
— Sim – respondeu. – Eu ficava louco de preocupação sem saber onde você estava e o que estava fazendo. – Balançou a cabeça de um lado para o outro. – Sei que isso pode soar possessivo e ciumento de minha parte, mas não era assim. – Ele riu, nervoso. – Não é que eu queira te controlar; longe disso. É que tudo estava um grande caos, pessoas morrendo todos os dias por toda parte e eu aqui, sem uma notícia sequer. Você poderia ter morrido e eu nem saberia. Só quando você fazia alguma coisa realmente estúpida é que eu tinha notícias e, pelo menos, a certeza de que até então você estava viva. Foi desesperador.
Pestanejei, lisonjeada.
— Nossa, amor, eu nem fazia ideia disso – confessei.
— Você tinha muita coisa em mente, anjo meu – disse carinhosamente.
Ele me puxou gentilmente para um beijo intenso. Era reconfortante demais estar em seu abraço, sentir seu beijo. Era uma das melhores coisas que já senti na vida. Quando nos afastamos, voltamos a ficar em silêncio. Ele foi o primeiro a quebrá-lo.
— Então... – começou. – De onde foi que tiraram isso de que vou casar com Astoria?
Olhei para ele. Então era esse o assunto sobre o qual ele queria conversar. Segurei uma risada.
— É o que está escrito – dei de ombros, rindo levemente. O modo como falei dava um ar profético à coisa toda.
Além de rainha, nossa J. K. Rowling é profeta.
— Mas a morte de Fred e Severus também estava, não é? – rebateu. Imaginei que sabia onde ele queria chegar.
— Sim.
— E você impediu – concluiu.
Eu gargalhei.
— Você está verdadeiramente preocupado com a possibilidade de se tornar esposo de Astoria e pai de Escópio? – perguntei. Ele fez uma careta.
— Temo que você leve isso a sério e isso nos prejudique de alguma forma – confessou. – Quero deixar bem claro que é você quem amo. Eliminar qualquer dúvida.
Meu coração palpitou e acelerou no peito, preenchendo meus ouvidos com o som do sangue fluindo pelas veias. Tive que me segurar para não derreter nos braços dele.
Ah, qual é, pessoal! Os meninos não podem ficar confiantes demais. Fica a dica.
— Muito pode acontecer em dezenove anos – lembrei a ele categoricamente, fingindo. – Você não sabe se vai continuar me querendo até lá.
Ele revirou os olhos.
— Eu sempre vou querer você – disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo todo.
Dessa vez, não consegui me conter. Eu ataquei seus lábios de forma voraz, desejando muito mais que só o beijo dele.
— Eu te amo, Gabriella – disse ele, quando se afastou.
— Eu te amo, Draco – falei, sorrindo, pensando em como era uma garota de sorte.

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