Capítulo 2 - Maratona de Harry Potter (2)

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Quando o filme acabou, imaginei que pararíamos por ali. Estava enganada. O pessoal estava disposto a ver mais um – só precisavam daquela pausa básica para ir ao banheiro, tomar uma água e preparar alguns lanches para comer. Instantes depois, estávamos estirados pela sala, assistindo Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban.
Particularmente, adoro esse filme de uma forma especial. Apesar de serem injustos os motivos que levam Harry a explodir no começo do filme, eu acho sua reação muito boa e muito engraçada. Nunca me canso de rir da tia que virou balão. Não surpreendentemente, todo mundo adorou. A sala virou uma grande bagunça; primeiro, em revolta por ver Harry mais uma vez sofrendo na mão dos tios trouxas. Segundo, porque, assim como eu, acharam o que Harry fez muito bem feito e merecido. E não cansavam de dar gargalhadas da cena toda.
Logo depois, Sirius apareceu de animago e isso causou um pouco de comoção na maior parte do grupo. Quem era da Ordem simplesmente amava Sirius e obviamente sentiam muito a falta dele, especialmente Harry. Notei que ele ficou um pouco emocionado, embora só fosse possível constatar isso se olhasse diretamente para ele, pois permanecia quieto, calado, só acompanhando o desenrolar da história de sua vida encenada por outra pessoa.
O Livro Monstruoso dos Monstros causou risadas ao grupo que foi da turma de Hagrid naquele ano. Exceto Draco, é claro. Sempre contrariando.
O grande destaque, porém, foi o conhecimento geral de que Hermione possuiu durante todo aquele ano o vira-tempo. Gerou um falatório tão grande que fui forçada a pausar o filme.
— AH! EU SABIA QUE VOCÊ NÃO ESTAVA NAS AULAS COMO DIZIA! – berrou Rony.
— Injustiça! Devia ter compartilhado com os amigos! – Fred e Jorge se fizeram ouvir, em uníssono.
— Poxa, como eu nunca soube disso? – Gina queixou-se.
— Como eu nunca soube disso? – rebateu Rony, inconformado.
— Eu não podia contar... – foi tudo que Hermione, completamente corada, foi capaz de dizer.
Esperem até ver quando Harry entra no jogo, pensei comigo mesma, observando e tentando não rir.
Assim como eu já imaginava, quando descobriram que Harry sabia do vira-tempo, a confusão estava armada. Mais uma vez, o filme foi pausado e a discussão rolou solta. Eram tantos berros que eu não conseguia entender direito o que ninguém dizia, mas não precisava; estavam zangados por não participarem da aventura. Rony principalmente.
Acho que ia rolar "DR" mais tarde.
Depois que Hermione se justificou e tudo pareceu apaziguar, prosseguimos com a maratona, sem demais interrupções. Adoraram o filme, mas ainda havia aquele clima superficial de ressentimento com Hermione, mas nada muito sério.
Quando acabou, decidimos por uma pausa nos filmes. Todos estavam ansiosos pelos demais, é claro, mas sete horas e meia de filme, aproximadamente, cansam qualquer um. Então, tive a brilhante ideia de convidá-los a conhecer um pouquinho mais de meu país. Felizes, eles concordaram. Escolhi um lugar que eu mesma não conhecia, mas que sempre quisera visitar: os lençóis maranhenses. Fiz bastante suspense e só instruí todos do básico, como vestir roupa de banho e trazer roupas leves.
Era inverno no Brasil, mas... isso não significa frio, não é mesmo? Não aqui. E, especialmente, não com as mudanças climáticas que enfrentamos. Estava bem agradável; cerca de 25º graus, com uma sensação térmica na casa dos 30º. Isso para mim não é nada; acostumada ao clima quente, essa temperatura é bem razoável. Já os nossos britânicos favoritos estavam, é claro, derretendo como picolés de tanto calor.
Era fim de tarde, um pouquinho depois das cinco e meia da tarde. Havíamos chegado há pouco e montado as barracas, pois decidi que podíamos muito bem acampar por ali. Todos ficaram empolgados. Ficamos todos maravilhados com tamanha beleza, com a transparência da água e com a imensidão de leitos, lindos, maravilhosos.
— Sempre quis vir aqui – confessei para Draco enquanto ele me abraçava por trás.
— Aqui é realmente muito, muito lindo – admitiu, beijando meu pescoço. Eu, achando pouco, virei e enlacei-o num beijo intenso, prontamente correspondido.
Os gêmeos enfeitiçaram bolinhas de areia – sim, é sério, gente, bolinhas de areia – para jogarem em nós. Eu levei uma no meio das costas e outra na perna, sem mencionar o que acertou em Draco, mas também grudou em mim. Só os gêmeos para terem ideia de fazer com areia fina da praia o que se faz com a neve. Gargalhando alto, saí correndo atrás deles, segurando a canga que eu usava para que não caísse. Consegui alcançá-los (eu só conseguia pensar que deixaram de propósito, pois suas pernas longas garantiam vantagem) e me joguei em cima de Fred, que se desequilibrou e saiu rolando comigo pela areia. Ríamos muito alto. Fiz ainda mais escândalo enquanto cobri Fred de pancadas – de brincadeira, é claro. Jorge se aproximou, rindo copiosamente. Eu não aguentava mais rir e, como estava sem ar, também não aguentava mais bater em Fred de brincadeira. Respirando pesadamente, encarei Jorge. Peguei um punhado de areia com a mão e a enfeiticei para que assumisse o formato de bola, para então arremessar contra ele.
— Estamos empatados – anunciei aos dois enquanto me levantava, sentindo pontadas na barriga por ter rido tanto.
Tentei espanar um pouco da areia, mas sem sucesso. Por isso, sem mais, corri em direção à água e me joguei, sem medo da temperatura (que por sinal estava maravilhosa). Isso acabou sendo um convite, pois os gêmeos, também cobertos de areia, juntaram-se a mim, e logo Rony fez o mesmo.
Como todo mundo acompanhou a gente na brincadeira, menos Draco, não me demorei muito. Após alguns instantes saí daquela água maravilhosa e me juntei a ele. Sentei-me ao seu lado na areia e, sem perder tempo, dei-lhe um beijo na bochecha.
— Está tudo bem? – perguntei. Ele limitou-se a me olhar friamente em resposta. – Ah, amor, vamos lá; é só brincadeira.
— Ah, sim, seu ex-namorado se metendo nos nossos momentos é de fato apenas uma brincadeira – retrucou, irritado.
Arregalei os olhos. Era adorável, admito. Ele estava com ciúmes.
— É o jeito deles, meu amor – sussurrei, beijando sua bochecha mais uma vez. – Confie em mim quando digo que não tem nada a ver. – Quando ele virou para me olhar, beijei seus lábios. Ele parecia relutante por um momento, mas então cedeu. Meu gesto amenizou seu ciúme e logo consegui o que eu queria: animá-lo e fazê-lo se misturar.
Obviamente, para fazermos toda essa farra, tivemos que fazer todos os devidos feitiços e encantamentos para não sermos vistos pelos trouxas. A diversão durou bastante tempo e só paramos quando estávamos cansados e famintos. Depois de comer, descansamos bem e pela manhã, aproveitamos um pouco mais daquela beleza toda, antes de voltarmos para a minha casa e darmos continuidade à maratona dos filmes de Harry Potter.
Munidos de pipoca e refrigerante, iniciamos Harry Potter e o Cálice de Fogo. Novamente, reclamaram da falta de algumas coisas no filme, como alguns detalhes sobre a Copa. Entretanto, eram breves comentários. Quando Draco e o pai apareceram no auge de sua arrogância, houve um burburinho geral, pois aparentemente todo mundo fingia ânsia de vômito.
— Nisso eles acertaram direitinho – Rony comentou.
— Com maestria – acrescentaram Fred e Jorge ao mesmo tempo.
Bastou um olhar para Draco para perceber que ele queria arrancar a cabeça de cada um deles, por isso apertei sua mão e balancei levemente a cabeça em uma negativa. Draco bufou, mas não falou nada. Eu, vendo que ia acabar me metendo em problemas com meu namorado que ao que tudo indicava era bastante ciumento (além de implicante), resolvi então ficar do lado dele para evitar uma "DR" desnecessária. Peguei um punhado de pipoca e atirei na direção dos três, e acertei-os.
— Calados – falei.
Acho que todos nós conhecemos bem demais os gêmeos Weasley para saber o que aconteceu, né? Eles caçoaram muito por eu estar, como disseram, defendendo meu namoradinho.
Eu mereço.
Achei que ia melhorar, mas Draco ficou mais irritado ainda. Eu acabaria com uma revolta nas mãos.
Os pontos altos desse filme, para todos, foram: caçoar a briga entre Harry e Rony, reclamar das diferenças gritantes entre filme e realidade, a emoção de ver, mesmo que sendo diferente, o que Harry viu e fez durante o Torneio Tribruxo e caçoar da tentativa frustrada de Harry de levar Cho ao baile. Até Gina achou graça. Harry, coitado, parecia querer cavar um buraco no chão e nele se esconder. Mas foi o momento em que Voldemort retornou de fato que deixou a todos impressionados. Ficaram todos extremamente surpresos em ver tudo daquela forma. Harry e Hermione pareciam incapazes de assistir enquanto Cedrico foi morto. Trocaram um breve olhar, um compreendendo o que se passava com o outro.
Quando Voldemort atacou Harry e gritou que queria que ele o encarasse para que visse a luz deixar seus olhos, todos arfaram e exclamaram baixinho. Ficaram todos muito surpresos com o quanto Harry era forte o bastante para manter-se tão calmo quanto fosse possível. A admiração que sentiam por ele aumentou, eu não tinha dúvidas quanto a isso. Vamos combinar que isso é meio inevitável, não é mesmo?
Uma vez que o filme acabou, notei que todos observaram Harry discretamente, um tanto surpresos. Saber o que aconteceu, é uma coisa. Ver a coisa se desenrolar diante de seus olhos, mesmo que por encenação, é outra totalmente diferente.
Logo estávamos assistindo ao quinto filme. Harry Potter e a Ordem da Fênix mostra bem pouco do que Harry sofreu na mão dos parentes, o que também acontecia muito nos anteriores. Entretanto, a essa altura, todos estavam fartos de ver Harry sendo maltratado (inclusive o próprio Harry ficou assim naquele ano em específico). Os garotos reclamaram, xingando o primo de Harry.
— E olha que isso não é nem metade do que Harry aguentou – comentei, depois que se calaram. Harry se virou em minha direção e sorriu para mim, em concordância.
— Foi pior que isso? – Neville quis saber.
— Bem pior – confessou Harry.
— Eu acho que teria feito ele se arrepender – comentou Blásio, que estava entre Draco e Lia. – Não teria essa sua paciência toda.
— Não era como se ele tivesse muita escolha – tornei a comentar e, logo que eles viram o Ministério expulsá-lo de Hogwarts só por se defender de dementadores, eles pareceram compreende.
— Não podia fazer nada sem sofrer consequências desse tipo – esse foi o argumento de Harry. Entretanto, no fundo nós sabemos que Harry tem uma paciência que não é desse mundo e um coração que não tem tamanho de tão bom que é. Mesmo tendo a oportunidade, duvido muito que ele fosse propositalmente maltratar alguém, mesmo que essa pessoa merecesse, e muito.
Quando a Umbridge apareceu, todos tiveram a mesma reação e praticamente ao mesmo tempo. Foi engraçado. Fingiram vomitar e falaram coisas como "olha só, a cara de sapa". Perfeitamente compreensível.
Durante a maior parte do filme todos ficaram bem quietos. Só comentaram do quanto ficou faltando nas cenas do Ministério da Magia, em que muitos ali estavam juntos, mas depois da morte de Sirius, o silêncio pairou. Ninguém queria mais comentar nada. Vi que Harry não quis assistir essa cena e enquanto ela se desenrolava, ele brincava com uma linha solta na bainha de sua bermuda. Hermione chorou silenciosamente, abraçada a Rony. O clima ficou bem mais triste depois dessa cena e nenhum comentário mais foi feito. Quando acabou, simplesmente troquei o DVD, sem comentar nada. Entretanto, era agora que ficaria interessante. Eles veriam como deveria ter sido o sexto ano sem a minha interferência.
No começo, o clima de tristeza permaneceu, pois o começo relembra a perca de Sirius, e particularmente acho bem triste. Mas então, logo veio a cena de Harry combinando um encontro com a garçonete.
— Quem é essa? – perguntou Gina, dando um tapa no braço de Harry. A sala toda caiu na gargalhada.
— Ai! – fez Harry, encolhendo-se. – Não é ninguém! Veja!
Não demorou muito e Dumbledore estragou os planos de Harry.
— Acho bom – disse ela, bem menos irritada.
— Ainda bem que você não era um cara muito de namorar – comentou Rony. – Você estaria em sérios problemas agora.
Todo mundo riu. Inclusive Harry.
Eu previa que logo as coisas fossem ficar bem tensas, pois Draco descobriria algumas coisinhas... e acertei. Quando viu que ele e sua mãe foram seguidos, ficou furioso.
— Vocês não tinham nada o que bisbilhotar – comentou, com tom de voz ácido.
Ninguém respondeu nada. Embora não se arrependessem do feito, sabiam que ele tinha o direito de se zangar.
— Já foi, Draco. Tudo isso já passou – lembrei a ele gentilmente.
Logo vimos Harry começar a ficar obcecado por Draco e de fato ir se meter no meio dos alunos da Sonserina para tentar descobrir alguma coisa que confirmasse suas suspeitas.
— É, Harry, dessa vez você estava certo – comentou Rony. Harry sempre foi de cismar que alguém tinha culpa (Snape culpado de pôr em risco a pedra filosofal; Draco herdeiro de Sonserina; Sirius culpado das atrocidades aos seus pais; Karkaroff de colocar seu nome no cálice; e Voldemort ter sequestrado Sirius) e a primeira vez que seu primeiro palpite estava correto era esta.
Quando todos viram o que Draco fez com Harry por vingança, olharam atravessado para Draco. Harry parecia envergonhado pelo que passou, já que não comentara nada a respeito antes, mas não abriu a boca.
— Idiota – Rony resmungou em defesa de seu melhor amigo. Mais uma vez, Draco pretendia destilar veneno, mas eu apertei sua mão para que ele entendesse que devia ficar calado.
Quando o jantar acabou e não viu sinal de mim, Neville ficou intrigado.
— Você já deveria ter aparecido a essa altura, não é, ? – perguntou-me. – Lembro que você chegou no meio do jantar e todo mundo ficou meio intrigado por você chegar depois e ainda ter que ser selecionada pelo chapéu.
— Eu não faço parte da história, Neville – respondi, sorrindo. – Agora vocês vão ver as coisas como elas deveriam ter sido, sem interferência nenhuma de minha parte.
— Mas como pode não fazer parte da história? – quis saber.
— Bom, eu não sei – confessei. – Os filmes nem tanto, mas os livros são extremamente fiéis à realidade. Eu não faço parte dela, disso eu tenho certeza. Dumbledore também tinha. Ele havia lido todos os livros quando foi me buscar. Sabia de tudo.
Todos se entreolharam, intrigados. Ninguém mais falou a respeito e passaram então a prestar atenção no filme.
Logo mais um segredinho foi revelado – Harry era tão talentoso em poções por possuir o livro do Príncipe Mestiço. Draco, Blásio e Lia fizeram um sonoro coro de "Ah!" num tom acusatório e ao mesmo tempo divertido.
— Agora tudo faz sentido! – Draco exclamou. – Sabia que tinha algo que você não estava contando.
Harry apenas olhou para Draco e sorriu, dando de ombros.
Particularmente, acho esse filme engraçado, pelo menos na maior parte do tempo. É triste no começo e no fim, mas o restante é bem divertido. Foi um ano engraçado.
Uma nova polêmica se formou quando chegaram os testes de quadribol. O único que sabia o que Hermione fez para Rony conseguir a vaga era Harry.
— Eu não acredito no que estou vendo – disseram os gêmeos em uníssono, fazendo Hermione corar.
— Hermione... – disse Gina, num tom chocado e acusador, mas levemente provocativo e divertido.
Quando Rony se deu conta de que se Hermione não tivesse confundido Córmaco ele talvez não tivesse a chance de ser o goleiro da Grifinória, ficou cabisbaixo. Imaginei que se sentia um inútil. Ele ainda imaginava que seu bom desempenho fora devido à poção Felix Felicis. Até pensei em dizer alguma coisa, mas concluí que logo ele veria por si só.
Assim que a cena chegou e Rony se deu conta de que todos veriam que só ganharam o jogo por causa da poção, escondeu o rosto com as mãos. Eu ri.
— Assista, Rony – orientei. Ele olhou para mim com uma expressão que indicava que aquilo era tudo o que ele não queria fazer. Eu segurei outra risada.
Draco e Blásio ficaram enfurecidos quando viram o que Harry armou. Berravam ofensas e acusações. Precisei pausar o filme.
— Ei, ei! – gritei, chamando a atenção deles. – Parem de julgar precipitadamente e assistam. – Draco ia retrucar (estava vermelho de tanta raiva), mas eu fiz que não com a cabeça. – Estou falando sério. Parem de besteira e assistam ao resto do filme.
Fizeram o que eu falei, mesmo a contragosto. Quanto mais viam, mais irritados ficavam. Afinal, Rony foi espetacular e todos supunham que era pelos motivos errados. Quando enfim chegou a cena em que fica claro que na verdade Harry só enganara Rony, Draco e Blásio ficaram completamente sem graça.
— Algo a dizer agora, seus idiotas? – provocou Rony, dando uma risada, aliviado.
— Vamos todos sossegar o facho, pessoas – eu sugeri, encerrando as discussões.
Rony ficou comovido ao ver o que seu beijo com Lilá causou em Hermione, que ficou completamente sem graça.
— Não estou gostando disso – comentou.
— Agora você entende um pouco como me sinto – argumentou Harry.
Pois é. Devia ser realmente muito ruim ver sua vida exposta dessa maneira. Não consigo nem me imaginar no lugar de Harry. Hermione e Rony provavam um pouquinho do que ele tinha aos montes e também não estavam gostando nada.
Era constrangedor para Harry e Hermione ter seus sentimentos por Gina e Rony, respectivamente, ali expostos. Ambos estavam tão vermelhos quanto um tomate e entreolhavam-se, sem graça.
— É muito estranho – comentou Luna, baixinho. – Em muitas dessas coisas que aconteceram você estava lá, . É muito estranho não te ver em parte alguma.
Eu ri.
— Imagine você como eu achei estranho quando me vi no meio disso tudo, já sabendo de antemão tudo o que iria acontecer.
Luna inclinou um pouco a cabeça para o lado enquanto ponderava. Por fim, disse:
— Deve ser uma pressão bem difícil de vivenciar.
Eu não falei nada, mas concordei com um aceno de cabeça. Talvez ela nem tivesse ideia de que acertara em cheio.
À medida que o filme avançava as demonstrações de raiva por Severus começaram a aparecer. Pensei em não repreender ninguém, mas Rony era bem insistente e eu me vi obrigada a dizer:
— Não fale assim, Rony – ele me fuzilou com o olhar. Acho que Harry não compartilhou tudo com ele ainda. – É sério. Confie em mim. Você vai entender depois de ver o último filme.
Ele fez uma careta, mas acreditou no que eu disse e resolveu esperar.
Harry ficou realmente decepcionado ao ver que cortaram a maior parte das memórias que ele viu na penseira. Assim como eu e qualquer outro fã da história, a princípio ele ficou sem entender como ele supostamente encontraria as horcruxes sem conhecimento de tudo aquilo que foi excluído do filme.
E agora, né, Harry? Espere até ver as "macumbinhas" que você vai fazer.
Como aconteceu ao final de Harry Potter e a Ordem da Fênix, todos ficaram muito quietos, todos tristes com a morte de Dumbledore. Assim como era de se esperar, estranharam não terem colocado no filme a cena do funeral.
Imaginei que ficariam quietos enquanto começava o próximo filme, como aconteceu com o fim do anterior, mas aparentemente havia algumas observações antes de continuarmos.
— Então não havia mesmo o que fazer para mudar isso – concluiu Harry, referindo-se ao fim de Dumbledore.
— Não – confirmei. – Acho que a maior parte dos motivos você conhece bem. Não podemos negar que a morte dele é um fator decisivo para Severus conquistar a confiança de Voldemort por completo.
Harry assentiu, confirmando que entendia.
— Isso não impediu você de tentar, imagino – supôs.
— Obviamente, não – eu disse, percebendo que todo mundo parecia muitíssimo interessado no que eu tinha a dizer. – No minuto em que entendi em que ano eu chegava à história, comecei a pensar no que diabos podia fazer para mudar isso. Mas Dumbledore só quis saber de me impedir. Bloqueou minhas memórias dos livros e dos filmes... Como vocês já sabem... E mesmo quando consegui passar pelo feitiço e voltar a ter conhecimento de tudo isso, ele me fez entender que eu não podia me meter. E confesso que essa é uma das piores partes. Eu sei de tudo, posso impedir tudo, mas tenho que ficar parada e não fazer nada. – Balancei a cabeça de um lado para o outro, frustrada, olhando brevemente nos olhos de cada um ali. – Não é justo. Simplesmente não é.
Eles assentiram aos poucos, me olhando de uma maneira solidária, parecendo entender, enfim, o que passei e o que senti. O silêncio pesou e por isso me mexi para colocar o filme seguinte para assistirmos. Repassei mentalmente o filme para saber se havia alguma alerta que eu precisava fazer a todos. Isso porque, como sabemos, eu andei quebrando as regras que com muito custo conseguira manter no ano passado. Por fim, decidi fazer o aviso de uma só vez e acabar logo com isso.
— Bem, gente... – comecei. – Antes de vermos os filmes, devo dizer algumas coisinhas importantes. Diferentemente dos outros, em que era um filme por ano, último ano foi dividido em dois filmes. Vocês vão notar muitas diferenças, acho até que mais do que nos anteriores, mas algumas diferenças muito drásticas que vocês vão encontrar no filme são por culpa minha. – Eles se entreolharam, sem entender. – Não entrarei em detalhes agora. Depois do oitavo filme explico melhor.
Meu discurso foi o suficiente para deixá-los curiosíssimos. Começamos o filme e, apesar de já ser o quarto filme seguido naquele dia, todos pareciam bem firmes.
Sem dúvidas, o grupo ficou bem animado com o que via nesse filme. Afinal, como sabemos, pouco sabiam sobre as aventuras dos três em busca de destruir as horcruxes e, como consequência, derrotar o Lorde das Trevas. Mais de uma vez surgiram os argumentos do quanto fazia falta na trama o conhecimento das memórias que deixaram de fora do filme. Além dessas interrupções, também tinha a bagunça que faziam por pura empolgação. Ninguém podia culpá-los. Como não se animar vendo-os invadirem o Ministério da Magia, sendo eles os mais procurados? Como não surtar vendo o que aconteceu com Rony? Como não se empolgar com a verdadeira horcrux encontrada ou com a aventura em Godric's Hollow, ou mesmo com a destruição do medalhão de Sonserina?! Sem mencionar a cena na casa de Draco. Ele parecia prestes a desmaiar ao meu lado ao ver seu momento de bom moço prestes a ser revelado.
— Ele sabia que era Harry e não o entregou! – exclamou Jorge, surpreso. Depois, virou para conseguir ver Draco e continuou: – Você sabia que era ele, então por que não o dedurou?
Quando virei para olhar, notei que todos os outros encaravam Draco. Já ele, claramente desconfortável, fechou a expressão e continuou a encarar a TV, sem querer responder.
— Então tá, né – disse Jorge, dando de ombros.
Entretanto, não estava terminado. Quando, logo depois, Harry foi tomar as varinhas de Draco e ele claramente não fez esforço de impedir, uma nova explosão de exclamações se formou:
— Viu só! É como eu falei! Ele podia ter acabado com tudo ali, mas ajudou Harry – disse Jorge. – Por que, Malfoy?
— Não há nem como dizer que é por – acrescentou Fred.
— Porque ela nem mesmo existe na história – Jorge completou.
Eu sorri. Finalmente as pessoas tinham a oportunidade de ver o que eu via em Draco.
— Eu não... – começou Draco, relutante. – Eu não queria ser o responsável pela morte de Harry.
Percebi então que ele e Harry trocaram um rápido olhar ambivalente, mas eu não sabia identificar com exatidão o que se passava na cabeça de ambos.
— Isso não complicou você, por causa de sua família? – Luna quis saber.
Ele respirou fundo antes de responder e olhou para mim. Estava muito, muito desconfortável.
— Ninguém se deu conta. – Deu de ombros. – E a atenção de todos estava bem longe de mim, principalmente quando conseguiram escapar.
— Obrigado – disse Harry, surpreendendo a todos, incluindo Draco. Talvez principalmente ele. – Não teríamos conseguido sem você.
Draco corou violentamente e fez uma careta, encolhendo-se ao meu lado. Todos voltaram a prestar atenção ao filme e eu levei um instante para fazer o mesmo. Estava ocupada demais olhando para Draco com um sorriso bobo no rosto. Era bom lembrar alguns dos motivos pelos quais passei a gostar tanto dele, mesmo quando eu achava que ele era apenas um personagem de um livro maravilhoso. Inclinei-me em sua direção, beijei suavemente seus lábios e fui prontamente correspondida. Foi um beijo breve, mas maravilhoso. Percebi quando me afastei um pouco que ele pareceu ter ficado mais leve daquela pressão que sofreu depois da minha demonstração de afeto.
Confesso que era bom saber que tinha tal efeito sobre ele.
Quando o filme acabou, achei que todo mundo ia querer parar e fazer outra coisa. Estava enganada. Queriam comer, visto que passara da hora do jantar, mas estavam ansiosos pelo último filme. Por isso, eu e as demais meninas nos juntamos na cozinha para preparar algo para todos. Optamos por um prato bem simples rápido, pois os meninos não ajudavam, mas atormentavam que era uma beleza. Preparamos um macarrão com molho à bolonhesa e também um suco de laranja. Para a refeição, nos juntamos todos na cozinha. Tivemos que conjurar algumas cadeiras e mesinhas para caber a todos, mas deu certo. Quando acabamos, limpamos e guardamos tudo com o uso de magia e logo estávamos estirados na sala, prontos para ver o último filme.   

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