Gostava de saber que ele estava ali - a virgem pálida - rondando-lhe a casa... quem sabe um dia poderia vê-lo ou com mais sorte: toca-lo.
Seria perigoso?
Pouco importava!
Eram os ruídos sujos e inenarráveis que ela ouvia quando no meio das noites, via pelas frestas da janela, a empregada fugir para o celeiro, que a conduzia com firmeza ao intento de ver e tocar a criatura feita de sombras.
Naquela noite em particular, a empregada não saiu... mas a mocinha sabia que lá fora, o ser espreitava entre as parreiras.
Duas noites antes tinha acontecido exatamente o mesmo...
A jovem Donzela começou a ouvir dentro de sua cabeça as respostas aos seus mais íntimos questionamentos... era como se nada, nem paredes, nem portas detivessem a voz que lhe chegava aos ouvidos seca, firme - ao mesmo tempo suave – e completamente encantadora.A virgem, que não era de todo tola, imaginava ser telepatia... algo sedutor se avizinhava! Algo de que deveria fugir – concluía. Mas, tudo era tão atraente e convidativo que dentro dela se agigantavam vontades, impulsionando movimentos.
Em certos momentos, dentro daquela noite, teve que se conter para não abrir a janela... ela percebia o ser em movimento junto ao relva. Estava perto, há poucos metros dali, junto a sombra escura da castanheira...
E olhava atentamente para dentro do seu quarto – como se não houvesse entre eles uma janela, parede ou cortinas – fazendo com que ela se sentisse devorada com olhos.
Chegava a arder, suando imediatamente entre os seios.Ela não entendia como e nem porque aquele ser com tantos poderes especiais não entrava em seu quarto e a tomava em seus braços... possuindo-a, ao som daqueles poemas seiscentistas que ouvia, todas as noites, em seus sonhos... antes do dia amanhecer. Eram tão nítidos que poderia escreve-los.
...essa resposta foi a única que não obteve naquela noite e, quando a aurora tomou o céu... sentindo-se sozinha, procurou a resposta entre os livros da pequena biblioteca, que equipava a casa.Foi lá... que encontrou uma antiga anotação, feita no canto amarelado de uma das páginas. Demorou a decifrar as letras em estilo gótico, desbotadas pelos anos, mas leu pausadamente a frase que lhe arrancou o pouco sossego que ainda nutria em seu íntimo: "um vampiro não entra em sua casa, sem que seja cortesmente convidado"...