Prologue

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Havia uma mesa comprida e arredondada, de 14 lugares, no centro da sala mal-iluminada. Os 12 lugares estavam ocupados, 11 por pessoas vestidas por mantos marrons com capuzes da mesma cor encobrindo suas faces. Eles eram denominados por letras do alfabeto aleatórias.

Os onze se organizavam nas laterais da mesa, e numa das pontas, estava ela.

Seus cabelos negros como a noite faziam lindas ondas, caindo por seus ombros e costas. Seu vestido - muito antigo - era em tons de vermelho e vinho, e mal dava pra notar a enorme mancha de sangue que vinha do coração.

Ela tinha olhos verdes como uma esmeralda, que carregavam um olhar ameaçador, tão afiado que poderia perfurar o crânio de todos naquela sala se ousassem dizer algo que não deveriam. Seus lábios eram carnudos e perfeitamente delineados, da cor do mais puro rosa. Houveram pessoas que se atreveram a dizer que ela pintava os lábios, mas não. A cor era natural.

Possuía um nariz fino e arrebitado, e uma pele tão branca quanto a mais pura porcelana, que dava um toque final na sua beleza estonteante.

Ela era chamada apenas por K.

"E então, senhor H.?" - Seus belos lábios proferiram as palavras. Sua voz era baixa, controlada e suave. - "O ano letivo irá começar e você não me trouxe nada. Achou a herdeira?"

Os 14, contando com os que não estavam presentes, eram uma associação, um "grupo" secreto, que recebeu o nome de Herdeiros.

H. engoliu em seco e não ousou encará-la. Mas ao menos tinha uma boa notícia para informar.

"Sim, Majestade" - Disse, esforçando-se para não demonstrar seu nervosismo. - "Ela estará aqui em três dias."

"Ótimo. Algo mais?"

A voz de K. soava como veludo para o mais novo naquela reunião. Ele nutria sentimentos pela sua Soberana, mas não podia revelar, ou seria morto.

"Eu... Sei como me aproximar dela" - Ele disse, querendo ouvir a voz que assombrava seus pensamentos se dirigir a ele.

Pela primeira vez em... Talvez pela primeira vez na vida, a garota em trajes de época olhou para o jovem.

"Como?"

"Vou me... Me matricular no mesmo curso que ela. E tentar ser seu amigo" - Disse o jovem, conhecido por F., se controlando para não olha-la nos olhos.

"Perfeito" - K. sorriu. - "Mais alguma coisa?"

"Não." - Todos os onze na sala disseram em uníssono.

"Estão dispensados" - A garota agitou as mãos, e os vestidos em mantos marrons se levantaram e saíram da sala, deixando-a sozinha.

Ela fixou seu olhar na cadeira vaga do outro lado da mesa. Pensava que podia ter sido traída, mas esse simples pensamento a deixava furiosa. Como pode ela ter sido traída? Quem seria idiota a esse ponto? Quem seria capaz?

"Não. Eu não fui traída!" - K. gritou, levantando-se de supetão e batendo as mãos na mesa com força. - "Não fui."

Então olhou para a outra, ao lado da cadeira que devia ser ocupada por sua irmã.

K. estava tão nervosa. Ela fez um ligeiro esforço para afastar a cadeira atrás de si e olhou pela sala, pensando em sair dali e andar pelo que foi seu castelo.

Meu lar... Foi transformado nisso., ela pensou amargamente. Vou visitar minha irmãzinha... E começar os preparativos para a vinda da herdeira.

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