Criaturinhas embaixo da cama

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Toc, toc, toc... toda noite quando ia dormir desde meus cinco anos escuto três toques toda a noite... embaixo da minha cama. Quando criança, por volta dos cinco anos, achava que aquilo era obra de um bicho papão, quando tinha sete achava que poderia ser alguém do andar debaixo. Mas descartei essa hipótese logo, pois morávamos numa casa térrea. Agora com doze, com a cabeça um pouco mais adulta, um bicho papão não é aceitável... com certeza deve de ser um demônio! Até por que bichos papões não se dariam o luxo de continuar a atormentar uma criança por tanto tempo.

Me preparava pra dormir e esperava pelos três toques embaixo da cama, que vinha exatamente as 21:30 da noite, todos os dias sem falta. Olhei para o relógio e já recitava o som mentalmente, mas nada aconteceu. Levantei assustado, olhei no relógio e já era 21:32... o que será que estava havendo de errado? Então veio um burburinho de vozes, me levantei sai da cama, retirei as cobertas e os lençóis até poder ver o que havia debaixo da cama... uma camada de poeira, um robô que estava procurando há tempos e três mãos bem pequenas saindo de uma porta meio aberta que estava no chão. Me levantei e fui deitar.

Mãos????

Levantei com um pulo e me encostei na parede de frente a cama... vendo sair de lá três seres minúsculos de orelhas muito pontudas e peludas, com dentes amarelos e que saiam de seus lábios. A criatura a frente tinha um tom meio verde água, e me parecia maior que os outros. Já os que estavam em seus encalços eram azul e roxo e me pareciam bem menores, como se fosse possível ser menor que aquele verdinho.

- Você é Ethan Lockhearth?

- S­sim ... ­-  gaguejei que nem quando minha mãe subia as escadas no dia da faxina. Estava com medo e talvez assustado.

- Garoto tu és lerdo ou que?

- Como é? - ­ fiquei surpreso, esperava que ele fosse sei lá, me matar com alguma coisa.... Afinal o que era aquilo?

- Você é burro ou o que? Estamos batendo nessa porta há sete anos e você nunca abriu! -  a criatura parecia ofendida e incrédula, tinha um sotaque diferente, falava uma língua estranha.

- Eu não sabia que tinha uma porta ai. ­-  o que mais poderia dizer, eu realmente não sabia da existência dessa porta.

-­ Humanos são sempre assim?

­- Sei lá sempre fui um, não sei se somos diferentes. ­ soltei uma risada, mas a criaturinha apenas mexeu seu bigode, como não havia reparado que ele tinha um bigode?

- Fala sério, é muito leseira. Mas vamos lá... nós fomos enviados para dizer que você está oficialmente matriculado em nossa academia de preparação para a formação de guerreiros, Broken Hill, a academia onde criaturas aprendem suas magias e classes para combater o mal. Tais como fadas, elfos, magos e por aí vai...preguiça do cão. - magia? Por que o nome da academia é Broken Hill? ­Bom se esse tipo de criatura saiu debaixo da minha cama, de uma suposta porta que nunca vi antes... magia está de boa.

- Quando você chegar lá você vai entender. – quando eu chegar lá?

- Como assim quando eu chegar lá? Eu não posso ir, sinto muito tenho aula amanhã, além do que meus pais nunca me deixariam sair com um estranho... – isso não era verdade, meu pai havia morrido cedo, minha mãe havia arranjado um marido dono de farmácia, que possuía um bigode longo apontado para cima, minha mãe era muito recatada, não gostava de coisas diferentes. Mas tinha esperança que ela não fosse me deixar ir com qualquer um. A criaturinha me olhou com uma cara ainda mais feia, se isso era possível. – Sem ofensas.

A criaturinha andou de um lado para o outro coçando os poucos fios de cabelo que ele tinha no alto da cabeça.

- Me esqueci que pais humanos são agarrados a seus filhos.

Me afastei um pouco deles e me sentei na cama, eles eram estranhos e feios, mas não davam medo nenhum. O sono estava começando a me vencer; isso se eu já não estivesse dormindo e tudo aquilo fosse obra da minha imaginação. A criaturinha verde de repente bateu com tudo em minha cabeça com um... cajado? Então descobri que aquilo não era um sonho.

- Garoto vou te explicar rapidamente o que você é. Primeira coisa, se você tivesse aberto essa porta há sete anos atrás, já estaria ciente de toda a magnitude do mundo magico, dos riscos e de criaturas do mal, mas como não fez isso... estamos com o tempo limitado. Você precisa fazer cadastros e preencher papéis, assinar formulários, comprar materiais e ainda ser elegido para uma classe! Onde será decidido o que você se tornará. Um mago, um arqueiro, um guerreiro, um ladino...

- Espera aí, a escola forma grupos de rpg?

- Que que é RPG? Meu filho isso é vida real, não é joguinho não compreende? - ele parecia ainda mais irritado, decidi então apenas ouvir.

- Nesse mundo e no nosso também há inúmeras criaturas do mal, como lobisomens, vampiros, trolls, goblins. Cada um deles precisa ser combatido e daí que criaturas como você entra. – de repente o olhar dele se tornou obstinado. – Você possui algo aí dentro de ti, que te difere dos outros de sua raça.

Pode parecer loucura, mas a verdade é que eu me sentia diferente, eu vivia sendo perseguido por valentões por que simplesmente achava que devia salvar todos dele. Além disso por que não? Vivia em 1990, tudo era meio estranho para mim, sempre gostei de ler muito, assistir a desenhos e jogar vídeo game, era o típico nerd que todos odiavam. E sinceramente viver dentro de um rpg, é muito melhor do que acabar num escritório de alguma coisa chata no futuro.

- Quando vamos? – a criaturinha pela primeira vez sorriu, o que foi estranho, bem estranho. Eu devia estar fazendo muito barulho, pois minha mãe entrou no quarto e me viu sentado junto aqueles bichinhos estranhos.

A criatura estalou os dedos só depois que ela os viu, ficando invisível.

- Você não devia ter feito isso antes?

- Fiquei nervoso, sua mãe da arrepios! – não poderia culpa-lo, eu sabia como ele se sentia.

Depois que eu consegui conter o grito e eles explicarem para ela o que estava havendo, ela apenas sentou- se na cadeira da minha escrivaninha e coçou a cabeça.

- Sabia que ele era diferente, mas imaginava que era apenas por que era um nerdizinho sem jeito. – uau isso é reconfortante.

- Mãe por favor me deixa ir! – minha mãe era muito conservadora, se preocupava tanto com o que os vizinhos achavam de nós, que eu não me lembro quantas vezes tive que me vestir como um mauricinho para agradar as visitas e por vezes eu não podia abrir a boca, pela vergonha que ela sentia de mim. Sempre falava diferente, me sentia assim... contava sobre fadas e heróis... gente, que ironia não.

- Vá, mas quando você volta? – por que não estou surpreso? É obvio que ela não ligava, se os vizinhos soubessem que ela tinha um filho esquisito, como ela poderia entrar para cargos mais importantes de uma empresa, ou ser apenas uma socialite famosa? Mesmo que ela não trabalhasse, nem soubesse o que uma socialite faz.

- Ele volta nas férias de verão, daqui uns seis meses.

Ela não perguntou mais nada, pegou um malão velho que nunca usamos e começou a colocar algumas roupas, ficou calada na maioria do tempo. E enquanto isso eu me vestia, nem sabia o que usar, mas decidi colocar uma calça qualquer e uma blusa de Star Wars, me olhei no espelho... meu cabelo de cuia que minha mãe cortou por conta própria, pois meu padrasto não queria gastar dinheiro "à toa", estava crescendo diferente, com pontas estranhas e por isso sempre o deixava bagunçado. Tinha cabelos bem pretos como os de meu pai, e era muito pálido como ele.

Ela não me dizia muitas coisas sobre ele, nem sabia como tinha morrido, talvez ele fosse diferente como eu. Vou acabar descobrindo isso de um jeito ou de outro.

Em histórias que lia as coisas demoravam a acontecer, tudo era meio enrolado, o autor sempre colocava detalhes aos poucos. Se você estava esperando por isso me desculpe, mas essa é a história de como eu me tornei ainda mais diferente e um defensor das trevas, não tem como ser lento, por que foi isso que aconteceu, além disso isso é a vida real. Mas a história só está começando.

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