#6. O Segurança do Prédio Viu Tudo

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Faltava menos que um mês para minha família ir embora e eu começar uma vida de independência. Meu vizinho Francisco estava viajando, tudo estava quieto, parecia que o prédio lamentava em silêncio nossa partida.

Durante esses dias, sempre que eu passava pelos corredores e entrava no elevador, todo mundo falava um ''oi'' como se quisesse fazer uma amizade aos 45 do segundo tempo. Prorrogação? Nem pensar! Depois que meus pais fossem embora eu não ficaria ali por muito tempo, só o suficiente para levar algumas coisas para meu novo apartamento, seja lá onde fosse (já tinha dois locais em mente, só não tinha decidido).

A cada subida e descida eu percebia um olhar, como se fosse uma das dezenas do prédio, porém essa ''câmera'' parecia um pouco intrigada. Era o segurança, que mesmo sendo responsável pela sala de vigilância geral, bem isolada, ele estava na recepção do meu prédio.

Durante a noite subi para meu andar e o mesmo segurança estava no elevador. Era o Lúcio, filho de um dos sócios da empresa de vigilância, por isso ele era tão relaxado.

Estávamos sozinhos no elevador, que começou a subir e Lúcio olha para mim e diz:

- Vai se mudar, né?

- É, em algumas semanas.

- Aí por isso não fala mais com ninguém...

- Desculpa, ando meio aéreo e...

- Sei... - falou como se soubesse o porquê.

- Mas se precisar de alguém para observar as câmeras novamente, conte comigo.

- Vou precisar de você mesmo... Mas, depois e para outra coisa - falou olhando para cima.

- OK - Não entendi, mas concordei em ajudar.

A porta abre em meu andar, eu saio e enquanto a porta fechava pude ouvi-lo dizer em baixo e bom som:

- Sabia que no depósito tem algumas câmeras? A maioria das vezes só vejo porcaria, mas às vezes...

A porta fecha com ele dando um sorrisinho malvado.

Fiquei paralisado por alguns segundos, em seguida sai em disparada para o quarto. Deitei, levantei, tomei banho, e aquela carinha do Lúcio em minha mente. O que será que ele vai fazer? Vai contar à minha mãe e ao Henrique? Vai dizer para todos? Me chantagear? Aquilo estava me deixando inquieto. Não conseguiria dormir nem meio segundo sabendo que alguém tinha me visto comendo o Francisco, filmado e poderia espalhar para todo o mundo.

O nervosismo me fazia enlouquecer e suar, abria uma página na internet, esquecia o que ia procurar e fechava, coçava a cabeça, andava para todos os lados. Resolvi acabar logo com aquilo, era madrugada! Matheus e André estavam dormindo, os deixei sozinhos e fui até a sala de vigilância.

Lúcio é daqueles que curtem a vida, meio vagabundo, forçado a trabalhar ou suas regalias acabam; seu trabalho era só uma forma de castigo dado pelo pai. Tinha 24 anos, mais de 1,80m, um brinco pequeno na orelha e um corpo malhado, não de mais, como de um dançarino de baile funk e baladas em geral é.

Bati na porta, ele abriu, fui logo dizendo:

- Posso falar com você?

- Pode, entra aí.

- É particular - sentei numa cadeira procurando saber se tinha alguém.

- Pode falar, tô sozinho, só não coma meu cú - falou rindo.

- É sobre isso mesmo que quero falar com você.

- Rapaz, que foda foi aquela, hein... Não sabia que você era gay.

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