A Menina Do Rabo De Cavalo

14. Faz-de-conta

Acordei preocupado. Era fim de semana, Linda sabia de tudo. Pelo menos, era isso que eu achava.

Assim que desci para tomar meu café da manhã, ouvi risadas bem conhecidas. Perguntei aos meus pais o que tinha acontecido, e pelo o que entendi, Linda estava na minha casa a pedido de Megh.

Enquanto meu pai tomava seu diário chá de camomila e minha mãe bebericava seu semanal suco verde na cozinha, Linda e eu brincavamos com Megh no jardim da frente:

- Linda, eu sou sua mãe! E já falei que o Bernard não é homem pra você! - Megh fingia ser séria e ríspida.

- Mas mãe, eu amo o Bernard. - Linda fazia sua cena dramática.

- Fuja comigo Linda, só assim seremos felizes para sempre.- entrei no mundo do faz-de-conta.

- Não leve minha filha!

- Eu vou fugir com ele, mamãe. - Linda me abraçou.

- Querem fujir? Podem fugir. Mas não vão voltar.

- Enquanto tivermos um ao outro, não precisaremos de mais nada. - fiz posse de dramático e retribui o abraço de Linda.

- Sabe o que falta agora? - Megh perguntou saindo totalmente do seu papel. - Um beijo.

Engoli em seco. Eu não estava mais com comida na boca como a algumas noites, porém ainda não sabia o que fazer.
Mas parece que Linda sabia, e fez. Ela me beijou. Ali mesmo, abraçada a mim, no jardim, na frente de Megh, que parecia bem contente e enojada.
Quando Linda me soltou, eu não sabia se chamava a atenção dela pelo fato de termos nos beijado na frente de uma criança de sete anos, ou se voltava a beija-la. Então eu apenas fiquei ali, como um bobo paralisado.

- Eca! Isso é romântico e nojento. - Megh falou e deu um suspiro - Pelo menos agora sei que Ben não te obrigou a nada, afinal, quem beijaria ele por livre e espontânea vontade?

Linda fez uma careta enquanto Megh entrava dentro de casa saltitante dizendo aos meus pais que eu não tinha obrigado Linda a nada.

- O que foi isso? - sussurrei assim que saí do transe.

- Estamos apenas fingindo. É tudo faz-de-conta, Ben.

Abri minha boca para falar algo, mas fechei em seguida. Olhei para os lábios de Linda, enquanto mordia os meus. O que foi aquilo?

Foi bom, muito bom. Nem Lindsay superaria aquilo. Nem Lindsay, nem ninguém.

O que mais me incomodou, foi a idéia de que aquilo era mesmo um faz-de-conta. E que não havia sido real.

- Não precisava me beijar se você não quisesse.

- Eu sei. - Linda pronunciou um pouco tímida. - Mas agora você não tem que se preocupar com mais nada.

- Será que... Podemos fazer de novo?

- Oi?

- Apenas para ficarmos kits. Você me beijou. - coloquei a mão por trás de seus cabelos - Agora eu beijo você.

Antes que ela falasse algo, beijei ela intensamente, como se fosse real. Por um instante, eu queria que fosse mesmo.

- Eita!

Ao ouvirmos isso, Linda e eu nos soltamos e olhamos para o portão, onde Andrew espiava tudo.

- Não é nada do que você está pensando. - Linda e eu falamos ao mesmo tempo.

- Então vocês já sabem o que estou pensando? - Andrew disse abrindo o portão e já entrando no quintal, indignado - E a aposta? E o baile? E Lindsay? Ralamos em vão? Aqui estou eu, indo pra sua casa avisar que temos mais problemas e você tá pegando a Estranha!

- Espera! Temos mais problemas?

Quando Linda pronunciou aquilo, olhei em volta para ter certeza de que ninguém havia escutado tudo:

- Não podemos falar sobre isso aqui.

- Linda tem razão, vamos pro meu quarto.

Andrew concordou e subimos para meu quarto. Quando Linda e eu entramos no quarto, ouvimos a porta batendo violentamente. Era Andrew:

- Bom, vou ser breve para vocês voltarem para a pegação. - Linda abriu a boca para falar algo, mas Andrew fez um gesto indicando que ela se calasse e voltou ao seu discurso - Senhor e Senhora Parker acham que vocês dois são namorados, certo?

- Sim. - pronunciei com um pouco de medo de qual seria o rumo daquilo tudo.

- Então, - Andrew prosseguiu - faltam poucos dias para o baile de formatura, e caso você ganhe a aposta... - Andrew se calou. - Droga!

Andrew fez uma careta como se tivesse acabado de falar uma besteira. Linda e eu nos olhamos confusos por um segundo.

Demorei um pouco pra notar o motivo daquela surpresa e do "Droga!", mas logo veio na mente: Andrew não sabia que Linda sabia da aposta, mas o susto dele passou quando ele olhou pra Linda e ela não parecia nem um pouco surpresa :

- Você sabe da aposta?

- Ela sabe. - falei no lugar de Linda - Eu meio... Que contei pra ela.

- E Ben não vai vencer essa aposta.

Quando Linda pronunciou essas palavras, Andrew e eu nos olhamos assustados:

- Por quê não? - perguntei com medo da resposta.

- Desculpe Ben, mas não dá!

- Como assim não dá?! - falei completamente enfurecido - É só você me dizer seu nome!

Eu estava cagando pra aposta!
Eu estava cagando pra Lindsay!
Eu estava cagando pro baile!
Mas pro fato de Linda não confiar em mim, e de ter que conter minha curiosidade toda vez que a via, pra isso eu não estava cagando!

- Ben, é mais complicado do que parece. - ela tentou ser paciente.

- Ih! Vai rolar treta. - Andrew falou e se jogou na minha cama.

- Complicado? - ri - Eu não sei seu nome, sua idade, não sei quem é sua família, eu não sei nada sobre você!

- E daí? - Linda gritou - Você se aproximou de mim por puro interesse! Eu nunca tive um amigo! E quando eu finalmente acho que encontrei um, descubro que está me usando!

Quando abri a boca para falar, minha expressão de raiva se tornou uma expressão de pena. Além das crianças do orfanato, Linda só tinha a mim e Andrew. Ela confiava na gente. Confiava em mim. E eu a desapontei.

Quando olhei nos olhos dela, Linda estava chorando.

Seu lindo e singelo rosto, seus lindos e singelos olhos castanhos... Tristes.

- Linda, desculpa.

- Não Ben, eu que tenho que pedir desculpas. - Linda limpou as lágrimas com as costas de uma das mãos - Desculpa por não ter aquilo que você quer.

Com passos largos e tristes, Linda se retirou do meu quarto e Andrew foi atrás dela.

Deitei na cama e coloquei as mãos no rosto.

Desejando que o beijo tivesse sido real, e que toda aquela briga tivesse sido apenas um faz-de-conta.

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Gente! Demorou mas saiu. Saiu ruim, mas saiu. Juro que tentei consertar esse cap mas... Não teve jeito. Teve que ficar assim mesmo. Se eu tiver mais idéias de como consertar, talvez eu conserte... Mas... é isso que tem pra hoje.