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Boa, a minha irmã acabou de me deixar e eu ainda tenho de fazer a estúpida chamada para a Gemma. Estou demasiado assustada, tenho de pensar positivo, tenho de pensar que ela só me quer dizer que.... Okay, eu tenho de lhe ligar. Rodo mais uma vez o meu telemóvel nas minhas mãos enquanto treino um discurso minimamente credível na minha cabeça que não me vai servir de nada. Chego à conclusão que o que tiver de ser, será e deslizo o dedo pelo ecrã do telemóvel e dirijo-me aos contactos e procuro o nome 'Gemma'. Para o meu bem, carrego sob o nome dela e a chamada começa em curso.

Não demora muito até obter uma resposta do outro lado da linha.

- Liliane? - diz a pessoa do outro lado com uma voz surpresa. - Não esperava que ligasses.

Suspiro pesado ao fim da Gemma falar e deixo cair o meu corpo no sofá. - Pois, com aquela mensagem não me deixaste muitas alternativas. - Tentei soar o mais natural possível.

- Tens razão, gostava de saber se está tudo bem por aí por casa... - Parece-me um bocado atrapalhada, no lugar dela também estaria, nunca se deu ao luxo de perguntar tal coisa e é preciso estar alguma coisa a acontecer para a pergunta surgir.

-Está tudo ótimo, obrigada por perguntares, vai logo direta ao assunto. - A minha voz sai um bocado mais rude do que o que pretendia mas não consigo evitar.

Ela demora um bocado a responder o que me fez pensar que a ofendi mas quando eu ia a falar novamente para lhe pedir desculpa pela forma como lhe falei, ela volta a falar novamente. - Bem, não é propriamente um assunto que se deva falar assim é que se eu não me importasse eu nem te teria avisado...

Com os nervos que se estão a apoderar de mim não a deixo terminar de falar. - Mas avisar do quê Gemma?

-Que o Harry vai voltar à cidade e que ao fim deste tempo todo ele sabe que tiveste a filha e acho que ele a quer ver. - ela responde-me sem rodeios.

Sinto o meu corpo todo a fraquejar e não consigo responder, nem pensar em mais nada, tudo aquilo que eu mais temi durante os últimos meses está para acontecer: eu vou ter de encarar o meu medo, eu vou ter de encarar o poder do Harry. Eu não posso permitir que ele venha atrás do que ele deixou para trás, não sei se estou a ser injusta por não dar mais uma oportunidade mas eu sei que com ele vai ser um desperdício, ele não merece.
Eu sei que continuo em chamada mas não consigo responder, as palavras estão presas na minha boca e não as consigo proferir corretamente, então a única coisa que se me escapa dos lábios é um "O quê?" quase inaudível.

-Desculpa, mas eu não podia deixar que não soubesses, sei que deves achar estranho mas eu também te devo o meu pedido de desculpas tanto por minha parte, como por parte da minha família, se precisares de alguma coisa da nossa parte....

Estava ainda mais chocada com o fato de ela me estar a pedir desculpa por nunca se ter preocupado, quero dizer, ela e a família... Tenho tanta coisa para lhe atirar mas com esta conversa toda apenas me limito a aceitar as suas mágoas.

Sinto uma lágrima a descer pela minha cara a baixo e apresso-me a limpá-la. - Eu desculpo-te a ti e à tua família por serem tão negligentes mas obrigada pela disponibilidade, mas creio que não vá ser necessário. - Disse num tom arrogante mas verdadeiro ao mesmo tempo.

-Estamos todos arrependidos por só termos chegado a esta conclusão agora. - Ela faz uma pausa que me transmite preocupação. - Acho que o Harry acabou de chegar cá a casa - Ela volta a calar-se. - Vou ter de desligar, desculpa. - Ela desliga a chamada e fico com o som dos "pi's" a soarem no meu ouvido o quando ia para a falar.

É oficial, hoje é dos piores dias para eu estar viva. Estou em pânico e a delirar, eu não sei como reagir, só quero desaparecer com a Íris desta situação, é o que eu mais quero. No meio deste desespero ligo à minha irmã com esperança de que ela atenda e graças a Deus, assim o faz.

-Mana, por favor, tens de me ajudar, o Harry... - faço um pausa para tentar controlar a respiração. - O Harry, Kendall, ele voltou e já chegou a casa, ele quer conhecer a Íris e eu já não sei do que o que ele é capaz! - Não consegui controlar mais as minhas emoções e desatei a chorar sem ter o devido controlo de parar.

-Não saias daí e fecha a porta e só abres quando eu chegar, está bem? Mantém a Íris ao pé de ti para te manter calma, e não te vai fazer nada de mal... - Diz ela com a voz mais calma que consegue mas aposto que ela está tão nervosa quanto eu.

- Está bem, mas rápido por favor Kendall! - digo rápido e desligo.

Aconchego a Íris que está a dormir no sofá rodeada de almofadas para a proteger caso caísse. Chego-me ao pé dela e dou um beijo na testa da minha menina.

-Eu amo-te tanto, nada nem ninguém nos vai separar bebé - sussurro com os meus lábios encostados à sua pele.

* * *

-Eu fico cá a dormir esta noite, okay? - diz a minha irmã que tinha acabado de entrar e pousa a mala com os essenciais dela para passar a noite comigo, no sofá.

-Achas que ele vem cá? - projeto logo a pergunta que me batia na cabeça já há algum tempo- Eu não sei se ele a quer conhecer, só sei que sabe que eu não abortei. - sinto-me de novo no sofá e pego na Íris que já estava acordada.

A Kendall senta-se ao meu lado e pega num brinquedo da Iris e mexe nele para falar comigo. - Ouve, sabes que eu não sou capaz de perdoar o que ele te fez e não consigo evitar não ser bruta se o vir... - Ela olha para mim com um olhar sério e fala em tom de aviso. - Isto é, se ele aparecer.

Parece que estou congelada no tempo e que está má fase não passa. Não sei se faça alguma coisa ou se apenas espere que algo aconteça. Não estamos a falar de uma pessoa qualquer, estamos a falar do Harry. Ele não é uma pessoa violenta nem nada disso... Eu já não posso dizer nada, eu não o conheço, por outras palavras mais corretas, eu nunca o cheguei a conhecer. Neste momento apenas sei que é o pai da minha filha que nos deixou simplesmente porque se cansou! Eu tenho de impor medidas nisto...

-Kendall, eu vou ter com ele! - digo quebrando o silêncio que estava instalado na sala.

Ela fita-me com um olhar mortífero. - Estás parva? Nem sabes se ele voltou para ver a Íris, apenas tens noção que ele voltou e que sabe que tem uma filha!! - Faz um silêncio constrangedor. - Ele pode continuar a cagar-se para vocês, desculpa dizê-lo.

As palavras que ela acabou de proferir são a pura e a mais dolorosa verdade, eu sei que ela tem razão, não sei o que me deu para pensar que alguma vez eu teria de aparecer à frente do maior filho da puta deste mundo mas as palavras dela bateram-me forte e ela foi muito dura e firme do que disse, o que me deixa mais frágil.

- Tens razão mas se fosses tu, o que fa-- - A campainha interrompe a minha frase e apenas fico a olhar para a porta com o coração a sair-me do peito.

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Obrigada

Abandoned || H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora