31 de Dezembro de 2010 ...
Meus olhos passeavam de um lado ao outro pelo quarto escuro e o sono parecia ter fugido junto com o meu auto-controle. A imagem do abraço que Alfonso me dera no dia anterior não dava espaço para minha mente pensar em outra coisa. Meus instintos sonhadores começavam a inventar milhares de momentos que poderiam acorrer na noite de hoje. Isso me deixava a cada segundo mais nervosa com essa possibilidade.
Pipipi-pipipi-pipipi-pipipi...
Pela primeira vez em todos esses anos eu acordo antes do despertador. E Talvez pela primeira vez eu também chegue adiantada no hospital. Pelo menos eu poderei ficar alguns minutos a mais com Carlos para combinarmos novamente a surpresa de Alfonso.
Desta vez eu prendi os cabelos em um coque mal feito e não passei maquiagem nenhuma. Minha disposição estava em baixa nesse momento e não achei motivos aparentes para me arrumar.
Como eu havia previsto, cheguei cedo ao hospital e logo fui arrumar tudo com Carlos, uma hora depois Alfonso já estava nos esperando na saída do hospital e ele se surpreendeu muito pelo que viu.
Carlos não estava na cadeira de rodas como sempre estava quando Alfonso vinha lhe buscar, mas sim, estava andando ao meu lado com uma muleta dupla e dando milhões de risadas e chorando ao mesmo tempo. Alfonso, por sua vez, deixou as lagrimas correram livremente por seu rosto, e eu o acompanhei neste ato, enquanto corria para abraçar o irmão.
Eles se abraçaram durante um longo tempo enquanto soluçavam de tanto chorar, eu tentava controlar meus impulsos mais era praticamente impossível diante daquilo: eu fiz esse garotinho andar pela primeira vez, eu trouxe a felicidade para ele, eu sou a responsável por isso, eu.
– Como que isso aconteceu? – Alfonso me perguntou com Carlos no seu colo e o rosto todo molhado das lagrimas.
– Estamos treinando a um mês. Com muito equipamentos é claro mais faz uma semana que ele conseguiu sozinho. Ele não quis perder muito tempo e resolver te mostrar logo. – contei tentando disfarçar minha total emoção e a minha total realização profissional.– É mentira. Anahí deu a idéia de te fazermos uma surpresa hoje. Por isso não te contamos nada antes. – Carlos falou e piscou com o olho direito pra mim.
– Era apenas para que ele não contasse e eu tivesse tempo para fazer alguns exames e comprovar os resultados. – me justifiquei tentando livrar-me de um possível constrangimento.
– Pois eu amei a surpresa. Agora sim me sinto completo, era o que eu mais queria. Muito obrigada Anahí, não sei nem como te agradecer. – ele falou com o brilho da gratidão nos olhos esverdeados.
– Você me paga a seis anos por isso, acho que eu deveria te agradecer. – eu brinquei sorrindo e entreguei um lenço de papel para que ele enxugasse as lagrimas.
– Não fale isso. – ele contornou.
– Quem vai cozinhar a ceia desta noite? – perguntei com segundas intenções.
– Eu mesmo, por que? – ele perguntou desconfiado.
– Acho bom você cozinhar muito bem se quiser me retribuir, ou melhor me agradecer. –falei com humor na voz e uma linda gargalhada ecoou pela sua garganta.
– Pode deixar. Vamos Carlos. – ele falou colocando o menino no chão.
– Até logo. – ele falou saindo em direção ao estacionamento com o menino que voltou e me deu um beijo no rosto.
– Tchau. – eu falei acenando a mão para eles que me retribuíram.
Alfonso. Alfonso. Alfonso. A-L-F-O-N-S-O. Bonito, charmoso, rico, educado e ainda prepara o jantar? Algo me dizia que era a formula do homem perfeito porém várias coisas me indicavam que esse homem de fato não existia. Ou existia? Talvez esta noite eu poderia descobrir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
REOPEN - CONTO AYA
Short StoryANAHÍ E ALFONSO EM "REOPEN - OS MILAGRES DO ANO NOVO" Anahí perdera a família - mãe e pai - em um trágico acidente de avião a alguns anos atrás. Depois disso ela concentrava toda a sua vida a trabalhar dia e noite, sem medir esforços, em um hospital...