30 de Dezembro de 2010.
Pipipi-pipipi-pipipi-pipipi...
Acordei com o barulho do despertador bem ao lado da minha cama. Levantei rápido por que como de costume já deveria ser a segunda vez que ele despertara e eu provavelmente estaria atrasada de novo. São 4 horas da manhã. Esses plantões estão me matando.
Fui ao banheiro e tomei uma ducha rápida, aliviando a sensação de peso e cansaço no corpo. Amarrei os cabelos em um rabo de cavalo simples, coloquei minhas eventuais roupas brancas e fui para o hospital de carro.
Assim que entrei no hospital peguei as fichas de meus atuais pacientes e comecei a visitar os quartos dos que estavam internados. Comecei por um em especial. Bati duas vezes na porta e em seguida entrei, ele estava acordado e ,e alegrou ver que estava sorrindo.
– Bom dia Anahí. – a voz fina e delicada do pequeno garoto de 7 anos falou alegremente pra mim.
– Bom dia Carlos, como se sente? – perguntei chegando mais perto dele e passando a minha mão entre seus cabelos cacheados.
– Bem, só um pouco cansado, ainda não consegui dormir. – o menino falou bocejando em seguida.
– É ontem fora um dia muito cansativo pra você. Vou te examinar rapidinho e deixarei que durma um pouco. Mais assim que amanhecer voltarei para começarmos a seção da fisioterapia. – falei colocando os papéis que estavam em minhas mãos na mesinha que havia bem ao lado da cama.
Peguei alguns instrumentos, dentre eles uma fina agulha.– De novo a agulha? – o menino falou.
– É eu sei, mais algo me diz que você progrediu muito esta noite. – eu comentei observando que involuntariamente o dedo do seu pé direito estava se mexendo sob a coberta.
Haviam muitos pontos positivos em ser uma fisioterapeuta pediatra, porém haviam muitos pontos negativos a mais. É realmente uma tarefa gratificante melhorar a situação de vida das crianças, mas também uma tarefa muito difícil não se envolver com elas.
Carlos era uma exeção. Nunca tentei me impor ao forte sentimento que me dizia que com ele eu poderia envolver as minhas emoções fragilizadas. Ele sempre fora um menino muito simpático e extremamente cativante.
Ele já fora para e casa e voltara para o hospital umas tantas vezes nesses poucos anos de vida que tinha. Quando nasceu, por falta de enfermeiros eu tive que ajudar no parto, que fora muito complicado e que levara sua mãe a morrer. Ele havia nascido com muitas dificuldades respiratórias e suas pernas eram atrofiadas. Cuidei dele desde os seus primeiro meses de vida e cuido até hoje. Ele tem uma família muito unida que sempre esta no hospital com ele. Em especial o seu irmão, ele esta praticamente todos os dias cuidando de Carlos no hospital.
Seu caso por ser de nascença tem certo grau maior de dificuldade em se ter algum resultado porém já alcancei inúmeras metas e pretendo concretizar o meu sonho que é vê-lo andar. A alguns anos a sua imunidade estava baixa demais por conta de alguns tratamentos e foi detectado um câncer em seu sangue. Por sorte o seu irmão era compatível e conseguimos salvá-lo, hoje ele tem de novo aqueles lindos cabelos escuros e cacheados. E algo me diz que logo ele terá suas pernas firmes para andar também.
Peguei a agulha e comecei um pouco acima do joelho e dar leves e fortes cutucadas.
Fui descendo devagar e me animei quando ouvi um gemido saindo pela boca dele seguido de um precioso sorriso.
– Eu senti. Eu senti. – ele começou a falar isso repetidas vezes.
– Aqui?! – falei fazendo novamente e ouvindo seu gemido.
– Sim aí–. ele falou rindo muito animado.
– Viu Carlos eu disse que iríamos conseguir. Isso é incrível. – eu falei animada e logo percebi que lagrimas escorriam pelos olhos do pequeno menino de olhos verdes.
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REOPEN - CONTO AYA
NouvellesANAHÍ E ALFONSO EM "REOPEN - OS MILAGRES DO ANO NOVO" Anahí perdera a família - mãe e pai - em um trágico acidente de avião a alguns anos atrás. Depois disso ela concentrava toda a sua vida a trabalhar dia e noite, sem medir esforços, em um hospital...