three--Flowers

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O hospital ficava muito calmas de noite. Ninguém falava nada, nenhum barulho a não ser o 'bip' constante das máquinas. De vez em quando o 'bip' de uma das máquina deixava de ser o que era e se tornava um 'piiiii' constante. Nessas horas enfermeiras entravam na sala, pegavam a maca e iam até o subsolo, onde eram feitas as autópsias, com os familiares chorando atrás, como uma procissão. Na primeira vez que viu, PK chorou. Chorou não pela pessoa, mas por imaginar ele naquela máquina e a tia atrás, inconsolável. A cena estava tão nítida que PK pensou ser um flash do futuro, mas então balançou a cabeça e voltou a dormir.
Do quarto, ele conseguia ver o jardim do hospital. Era lindo, bem cuidado como os campos de arroz ao redor da cidade. Ele passava horas olhando aquelas flores, aquelas borboletas, voando e florescendo. Era lindo, por que era eterno. Não que elas nunca fossem morrer, mas sim por que, assim que uma flor morresse, outra tomaria seu lugar e a toda borboleta que morresse outra nasceria. Era inquebrável, eterno. Ao contrário de PK. Ele sabia, tinha plena ciência, de que assim que o 'bip' de sua máquina se tornasse um 'piiii', ele não voltaria. Um novo PK não surgiria e tomaria seu lugar, não, ele sabia que não teria mais ninguém para sua tia dar broncas por notas baixas, ninguém para avisar os amigos de que se eles bebessem demais acordariam de ressaca e os pais descobririam, ninguém. PK se resumiria à 0, e ele sabia disso. Tinha inveja das flores, da sua plenitude, da sua vida vida eterna de poucos anos.

Just One Summer[PKlango]Onde histórias criam vida. Descubra agora