Capitulo 1- Contrato

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Senti o chão frio bater contra meus joelhos sem eu ao menos sentir a dor, adrenalina era tão grande que deixava minha pele dormente. Eu não tinha reação, apenas olhei para cima enxerguei um sorriso enorme, e quando eu finalmente cheguei em seus olhos, desabei. Não consegui fazer outra coisa além de chorar. Senti os braços da minha mãe me envolvendo e meu pai apenas nos observando sem graça, sem saber o que dizer, a final ele não apoiava nada disso, apenas aceitava a escolha. Minha irmã só ria da minha cara, mas eu não me importava com nada disso. Mal pude escutar quando minha mãe disse "é verdade". Finalmente me recuperei, mas ainda chorando agradeci com todas as palavras possíveis.
...
Tudo começou aos meus 11 anos, quando por influência de uma amiga, comecei a assistir vídeos sobre os parques da Disney. Não demorou muito para eu estar encantada por todo aquele mundo mágico e passar dias e dias pesquisando sobre os parques da Disney.
Foi próximo aos 12 anos que surgiu o sonho... Visitar a Disney em Orlando. E mais um vez, pesquisei por dias e anos sobre preços, passagens, agências, atrações, etc. Minha mãe sempre alimentava esse sonho, o que me deixava mais esperançosa ainda. As expectativas só aumentaram quando fui matriculada em um curso de inglês.
Eu tinha quase 14 quando em uma de minhas buscas por vídeos do parque, acabei encontrando um Diário de Intercâmbio.
Mas nada havia mudado, até eu completar 15 e minha mãe decidir que não tinha dinheiro para minha viagem. A frustração foi grande, principalmente por ver pessoas próximas realizando esse sonho. A dor ficou menor ao ganhar minha princesa Loli, uma cachorra da raça Lhasa Apso, na cor champanhe. Mesmo assim, continuava mal.
Passei a me consolar com os vídeos de intercâmbio. E desde então, esse foram substituindo os vídeos das "simples" viagens até a Disney.
Me encantei pelos relatos de meninas e meninos que viviam como uma verdadeira família americana. Então passei a ver esse hobby como uma coisa séria. E assim como os antigos vídeos, o sonho foi passando a ser substituído.
Minha mãe sempre soube da minha paixão por inglês e tudo relacionado aos EUA, mas tocar nesse assunto nunca foi comum. E como eu iria simplesmente dizer que o sonho havia mudado?
Todos os meu sentimentos morreram quando alguns anos depois, a crise atingiu minha família, assim como muitas outras. A empresa que meu pai trabalhava faliu e quando ele estava completando 7 meses de desemprego, a crise também chegou a empresa que minha mãe trabalhava a 20 anos, levando a sua demissão.
O desespero foi grande. Eu, sinceramente, fui muito egoista. Só consegui pensar em todos os meus sonhos jogados pela janela. Eu não me orgulho disso, pelo contrário... Me sinto culpada. Logo minha família estava parcialmente "curada". Meu pai arranjou um emprego e minha mãe descobriu ter uma boa indenização. O suficiente para sustentar a casa e realizar meu sonho.
Eu estava indo para o médico quando vimos um prédio em construção, quando eu disse que seria ótimo se a gente se mudasse. A surpresa foi que minha mãe me respondeu "tenho outras prioridades antes disso. Como por exemplo, lhe mandar pra Disney". Gelei. Era essa a hora que eu tinha para tocar no assunto?
Nossa conversa não foi muito longa... Eu apenas disse que tenha crescido e que já não era mais a mesma. E ela entendeu muito bem quando argumentei que a Disney só teria graça com 15 anos, amigas e festa (a típica viagem), isso seria impossível de acontecer nessa altura. Foi quando ela perguntou qual era meu maior sonho e não houve choque quando eu finalmente respondi. Ela apenas assentiu.
Em meu aniversario de 17 anos, meus pai perguntaram o que eu queria de presente, eu apenas respondi "que meus sonhos se realizem". Foi aí que minha mãe passou a se interessar mais por esse assunto. Foram frequentes as pequenas conversar sobre isso e eu nunca conseguia dizer tudo que eu queria.
A pressão do terceiro ano caiu em minhas costas. Eu não queria mais nada, além de sair daquele colégio. Já não aguentava mais o sistema de ensino desse país, em que jovens precisam ser "treinados" para fazer prova. Sim, treino. Porque uma instituição que obriga adolescentes a fazerem 90 questões em um dia, tendo apenas 3 min em média por questão e escolas que forçam os alunos a fazer provas toda semana, está apenas exercitando. E não ensinando.
A cada dia tinha mais certeza do que eu queria, principalmente com toda a situação financeira e política do país. Dizia praticamente todos os dias para minha família, que iria sair do país assim que pudesse e que nunca mais voltaria.
Certo dia, percebi uma negligência por parte da minha mãe em relação ao meu intercâmbio. Eu estava voltando de uma visita à casa da minha avó, quando resolvi puxar o assunto.
–Mãe, esse ano a gente pode ver as coisas do intercâmbio? – falei
–Sim, mas primeiro quero que você pesquise sobre isso.
–Mais do que já pesquisei? – respondi quase de imediato
–Então me passe as informações – foi só o que ela respondeu.
Eu decidi não tocar mais nesse assunto, mas decidi que mesmo assim, venceria pelo cansaço.
Os dias seguintes foram todos preenchidos com estudos. E sempre que via um vídeo, uma matéria, um anúncio, qualquer coisa relacionada a minha mudança de pais, eu mandava por e-mail ou Facebook para minha mãe. Vez ou outra, ela respondia com um simples "veremos" ou "ainda temos tempo".
Meses se passaram e nada havia mudado: eu continuava mandando as mensagens e ela continuava me ignorando ou respondendo coisas insignificantes. Um dia eu apenas cansei. Cansei e decidi conversar.
Em uma das minhas saídas com ela, toquei no assunto. Foi quando ela veio com a desculpa de que estava se resolvendo.
–Realmente, esse ano é o ano de decisões pra mim. Pela primeira vez, vejo que o tempo é meu inimigo, e olhe a minha idade! Mãe, eu tenho 17 anos e o tempo está me forçando a fazer escolhas. Eu não me vejo em uma faculdade, praticamente nem decidi que curso eu quero! Quando imagino meu futuro, só imagino uma coisa: Estados Unidos. E a única coisa que me impede é você. Tudo que um sonho precisa para ser realizado, é que alguém acredite que ele possa ser realizado. Eu estou vendo isso em mim, mas não to vendo em você.
Ela apenas assentiu, me falou algumas palavras motivadoras sobre meu futuro é sobre faculdade. Coisas que nem dei ouvidos.
No sábado seguinte, minha mãe abriu a cortina do meu quarto, me tirando do sono, e me mandou levantar e se arrumar. Perguntei mil vezes para onde iríamos, mas não obtive respostas.
Quando finalmente fiquei pronta, entramos no carro e percebi um caminho estranho. Meus olhos brilharam quando paramos em frente a uma agência de intercâmbio.
Era um ambiente agradável e dava um conforto enorme. Sentamos em frente a uma mulher e conversamos a manha inteira. Tudo me encantava, já minha mãe... Eu olha para ela e via que tudo o que a agente falava, minha mãe não dava ouvidos. Fomos embora sem trocar uma palavra e sem uma decisão. Passei o caminho todo pensando e esperando ela falar algo, mas isso não aconteceu.
Quase um mês se passou e a conversa ainda não tinha surgido. Certo dia, cheguei do colégio e minha mãe estava no meio da sala me esperando.
É aí que começa a minha história...
O contrato estava assinado!

NOTA: Desculpem pelo longo parágrafo e pela longa história. Eu realmente precisava que vocês entendessem um pouco desse processo. Não sou a personagem, mas tem muito de mim nela.
Peço que deem mais uma chance pra essa história. Leiam pelo menos até o capítulo 3, prometo que lhe conquistarei.
Se puderem me ajudar divulgando, comentando, curtindo ou qualquer coisa do tipo, ficarei feliz e motivada para escrever mais. Já estou trabalhando no próximo capítulo, mas só vou postar se esse capítulo tiver pelo menos 3 curtidas.
Obrigada

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