Ben

02

Cheguei me arrastando no point de costume meu e dos meus amigos, o que me rendeu menos cinco reais na carteira e uma coca nas mãos de Romeu.

Arranjei umas balas de café com o Edu para me manter de olhos abertos e então nos sentamos de qualquer jeito em volta da árvore que tinha ali, num canto depois da quadra do colégio, afastada de todos os pátios estudantis. Como de costume, subi em um dos galhos mais baixos e apoiei as costas no tronco do velho Salgueiro.

Hm, não, a árvore não é um salgueiro, mas o Edu é meio fã daquela série de bruxos, saca? E deu esse nome. Ele gosta dessas paradas. Eu já estava satisfeito de ter o salvo das noites de sexta e sábado no computador jogando aquele infernal LOL. 

"Galera!" Chegou o Gude, todo animado. "Fiquei sabendo que Luis vai passar uma prova amanhã."

Soltamos um gemido de protesto coletivo. Prova de matemática? Ahh não!

"Tá, e onde quer chegar?" Perguntei, adivinhando o pensamento dos outros dois comigo.

"As respostas estão, nesse momento, na gaveta direita da escrivaninha dele na sala dos professores" Disse ele.

Me entreolhei com Romeu e o Edu, pensando em só uma coisa: É nóis que voa, bruxão.

Ficamos o resto do primeiro tempo bolando um plano, minha responsabilidade ficou como distrair a secretária. Assim que o sinal da segunda aula bateu, eu e o Gude (aliás, esse não é o nome real dele) fomos primeiro para a secretaria, depois de bater uma canetinha vermelha incansavelmente no chão para a tinta estourar, sujando minha mão e o ombro.

"Margaritaa!" Gude chegou gritando, enquanto eu me apoiava nele e fazia cara de coitado.

"Já falei que o meu nome é Pe-tú-ni-a!" Disse a secretária, chegando a nossa frente. "MEU DEUS! O que houve contigo, menino?"

"O PUTO do EDU" Gritei, como combinado com os meninos. A 'Pe-tú-ni-a' me olhou severamente, e eu ergui meus braços fingindo dificuldade em mover-los.

"E o que vocês estão esperando para ir na enfermaria, por Jesus?!" Ela nos disse, severamente.

"O professor esqueceu de nos dar passe, então pensamos que talvez a senhora pudesse nos levar lá!" Respondeu Gude.

A secretária olhou para os lados, sem saída, e saiu disparada na nossa frente.
"Certo, certo. Mas vamos logo, não posso deixar a secretaria vazia por muito tempo!" Ela nos disse, e a seguimos.

Mas, claro, não antes de dar um joinha para os meninos, junto de duas batidinhas no pulso, sinalizando que eles deveriam ser rápidos.