Sentado à cama. Escuro quarto. Só abajur tingindo luz no ambiente. O homem abraça a si mesmo, a expectativa um frio que o mordisca de leve. Ele olha a mesinha a sua frente, de lá a arma o fita ansiosa. Junto à arma e quase rendida, há solitária foto de família. Duas crianças, uma mulher. Lindas. Mortas.
Uma morte emotiva: estavam no Oriente quando um gigantesco maremoto elevou-se triste e choroso sobre eles e os esmagou num abraço. O homem não estava lá. Um remorso ácido o liquefaz por dentro.
Pega a foto. Lágrimas caem nela e descem fúnebres até as imagens que, por um segundo, parecem chorar com ele.
Acende um fogo em cinzeiro. Joga a foto. Do fogo ela o fita assustada. Grita, chia. Dobra-se de dor. Derrete. Finda!
O homem observa as chamas, agentes da última fome, devorarem as imagens e retorcê-las numa careta agonizante. Pega a arma. Encosta no ouvido. Ouve os soluços da foto que, em sua agonia, não escuta a histeria da arma.
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Réquiem Para Uma Foto
Kısa HikayeUm homem morto, uma foto viva. Um miniconto em metáfora. *Imagem da capa; Constantine da Vertigo.