Antes de uma manhã quente de verão em Nova Jersey e outro dia se passava na vida de Sebastian.
Como de costume, levantava às 05 da manhã, com a roupa do corpo partia subitamente para a padaria do seu Chiquinho, ao voltar preparava seu café extra forte acompanhado de pães recém tirados do forno, ele inspirava o aroma como se isso o deixasse mais vivo, após o café da manhã arrumava suas vestes quase que perfeitamente passadas para uniforme de um solteiro de 26 anos, se trocava, pegava o molho de poucas chaves e muitos chaveiros, pegava o seu Celta e partia para o estacionamento do seu principal companheiro do dia, o ônibus escolar.
Ser motorista de ônibus de crianças e adolescentes não era exatamente sua vocação, fez inúmeras capacitações pedagógicas mas seu verdadeiro sonho era se tornar um escultor reconhecido, esculpir era seu Hobbie e paixão desde criança porém, perder os pais aos 17 anos o fez perder muitas perspectivas de vida, como filho único teve que morar com os tios desde então e sozinho, aos 20 quando conseguiu o emprego.
No quarto dia de volta às aulas, Sebastian ainda não conhecia todos seus passageiros, alguns se formaram, novos chegaram e embora parecesse invisível para todos, ele estava ansioso por conhecer. Vestiu seu casaco, sentou se no banco e colocou o celular para tocar "Sound of Silence" enquanto o motor se esquentava e pensava nos vários pontos que passaria. Parado no estacionamento e escutando o barulho de motores dos outros motoristas, lembrou de seus 6 anos de história ali, com o mesmo trajeto diário e mesmo tratamento infame das crianças. Vendo seu celular apitar "Bateria Fraca!", o desligou e deu partida para o primeiro ponto, um aglomerado de crianças na praça.
- Qual é seu nome tio? - entrou Henrique, um dos alunos do ginásio perguntando.
-Sebastian - respondeu para o menino.
-Se - bas - tian... - repetiu o garoto pensativamente, como se fosse o nome mais difícil do mundo- ti - ão, é mais fácil chamá - lo de tião.
Raras eram as vezes que ninguém fazia o mesmo comentário, embora não gostasse do apelido, Sebastian correspondia sem lamentações.
- Tiãão, Tiãão, cara de calção - faziam um coro desafinado como se a principal função fosse irritá - lo.
-Hey tio tião, como está sua irmã? E as namoradinhas? - atormentava Pedro, um dos colegiais.
- Não tenho irmã... E nem namorada.
- E a Laurinha?
- Ela é minha prima, e você sabe disso, Pedro.
- Dá na mesma tião... Mas cuidado pra você não acabar virando... - fez um gesto com as mãos insinuando algo - se é que me entende, falta de "gatinhas" dá nisso.
- Acho que não - respondeu sorrindo após pensar um pouco - vá sentar que já estou saindo.
- Como se eu fosse lhe obedecer, tio- piscou o colegial, afrontando o motorista.
- E lá vamos nós!
Sebastian acelerou, recolheu todas as crianças e as deixou na escola, logo após, aguardou no estacionamento até dar o horário e fez o caminho de volta com todos os passageiros, terminando assim mais um dia de trabalho.
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10 acasos
Short Story"E se por um descuido eu desacreditasse em destino? Tudo pareceriam acasos? E se os acasos fossem bons, como eu reagiria? Nos 'desacasos' eu perderia a fé? ..."